Periódico galego de informaçom crítica

Tardes de domingo na Havana

por
Nomeamento de Teresa Agromayor Novoa como ma­dri­nha da equipa ju­ve­nil do Deportivo Centro Galego (1936). di­a­rio de la marina

Na Corunha, na Havana, em Ferrol, Vigo, Bahia ou Buenos Aires ma­ri­nhei­ros bri­tâ­ni­cos jo­ga­vam a fi­nais do sé­culo XIX a algo que cau­sava certo as­som­bro, ce­ti­cismo e mesmo re­pulsa, tal e como que­dou es­crito nos jor­nais da época.

Desde fi­nais do sé­culo XIX, o des­porto tor­nou-se numa re­a­li­dade em Cuba. Especialmente o ba­se­bol, que ante o de­gra­dante re­gime co­lo­nial, con­ver­teu-se em um pa­ra­digma de mo­der­ni­dade para os cri­ou­los. Assim o ob­ser­vava o pró­prio Curros Enríquez:

Apenas el va­por me con­dujo á América desde el ex­tremo oc­ci­den­tal de España, el 5 de marzo de 1894, tuve el pre­sen­ti­mi­ento de que España ha­bía mu­erto para Cuba. (…) en vez de ju­gar sus mo­zos al trompo, los bo­los y la pe­lota [re­fere-se à pe­lota vasca], ca­rac­te­rís­ti­cas de la raza ibé­rica, ju­ga­ban al lawn ten­nis, al crí­quet, al foot ball y al base ball. (…) He ahí el por qué la po­pu­la­ri­dad del base ball me ad­vir­tió que, si no de un modo for­mal, vir­tu­al­mente, al de­sem­bar­car, en Cuba, me en­con­traba en ti­erra ex­tran­jera.” (1)

O fu­te­bol deu os seus pri­mei­ros pas­sos nesta ci­dade com a mu­dança de sé­culo. A ri­va­li­dade foi um dos ve­to­res prin­ci­pais para o seu de­sen­vol­vi­mento, como em qual­quer ou­tra ci­dade. O pri­meiro grande dérbi fu­te­bo­leiro ha­va­neiro foi en­tre o Sport Club Hatuey e o Rovers Athletic Club: um he­rói na­ci­o­nal de Cuba vs. um clube de in­gle­ses. (2)

Os ga­le­gos que vi­viam na Havana não fo­ram alheios. Nessas pri­mei­ras equi­pas já jo­ga­vam “es­pa­nhóis”, e ra­pi­da­mente co­me­ça­ram a fun­dar-se equi­pas que se cor­res­pon­diam com os am­bi­en­tes de so­ci­a­li­za­ção da ca­pi­tal, tal e como de­mons­trou o Santiago Prado Pérez de Peñamil nas suas in­ves­ti­ga­ções. Nas dé­ca­das de 1910 e 1920 com­pe­tiam clu­bes como Euskeria Sporting Club, o Canarias Sporting Club, Catalunya Sport Club, Baleares Sport Club, Juventud Asturiana ou o Club Deportivo Centro Gallego.

O Futebol pas­sou a ser uma das ati­vi­da­des in­cluí­das na­que­las so­ci­e­da­des de emi­gran­tes. Igual que pas­sava na Galiza, ao co­meço es­tava en­tre o re­per­tó­rio de ac­ti­vi­da­des fes­ti­vas mas ao cres­cer a sua po­pu­la­ri­dade os par­ti­dos ad­qui­ri­ram en­ti­dade pró­pria, e mesmo ri­va­li­za­ram com as ati­vi­da­des fes­ti­vas que as so­ci­e­da­des de emi­gran­tes fa­ziam os do­min­gos. Em 1925, di­zia-se que os ra­pa­zes pre­fe­riam ir ver os par­ti­dos de fu­te­bol que às gi­ras das so­ci­e­da­des pe­los par­ques da Havana. (3)

Também na Havana o fu­te­bol era uma ati­vi­dade quase com­ple­ta­mente mas­cu­lina. Porém, mu­lhe­res de to­das as clas­ses as­sis­tiam aos en­con­tros: es­po­sas de as­so­ci­a­dos do mais alto ní­vel, as suas cri­a­das e tra­ba­lha­do­ras de todo tipo. As ban­ca­das her­da­ram esse pa­pel de lu­gar de re­la­ção en­tre ho­mens e mu­lhe­res, ao igual que na Galiza. Normalmente, as mu­lhe­res só eram no­me­a­das como “ma­dri­nhas” das equi­pas ou fa­ziam ta­re­fas de or­ga­ni­za­ção dos bai­les que se­guiam aos partidos.

As ban­ca­das her­da­ram esse pa­pel de lu­gar de re­la­ção en­tre ho­mens e mu­lhe­res, ao igual que na Galiza. Normalmente, as mu­lhe­res só eram no­me­a­das como “ma­dri­nhas” das equi­pas ou fa­ziam ta­re­fas de or­ga­ni­za­ção dos bai­les que se­guiam aos partidos

Com tudo, na Havana as mu­lhe­res fi­ze­ram in­cur­sões neste ter­reno de jogo mas­cu­lino que era o fu­te­bol anos an­tes que na Galiza. Em 1929 che­ga­ram a dis­pu­tar-se jo­gos en­tre equi­pas fe­mi­ni­nas de ga­le­gas e ba­le­a­res, que des­per­ta­vam grande ex­pec­ta­ção. (4) As equi­pas fe­mi­ni­nas ti­ve­ram con­ti­nui­dade al­guns anos mas não há no­tí­cias de uma or­ga­ni­za­ção fe­de­ra­tiva ou a con­ti­nui­dade de uma com­pe­ti­ção es­ta­be­le­cida, como se houve para os homens.

Os ga­le­gos ti­ve­ram bas­tante pre­sença nos cam­pe­o­na­tos da ca­pi­tal, par­ti­ci­pando mui­tos ti­mes que en­xer­ga­vam iden­ti­da­des va­ri­a­das. Club Deportivo Centro Gallego, Club Deportivo Galicia, Vigo Sport Club ou  Celta são al­gu­mas das equi­pas que com­pe­tiam na ca­pi­tal con­tra as­tu­ri­a­nos, ca­ta­lães ou ba­le­a­res. Cada equipa ti­nha a sua al­cu­nha: os as­tu­ri­a­nos eram os “tou­ros” e os ga­le­gos “os ala­craus” ou, para a fe­mi­nina, as “ala­cran­ci­tas”. (5)

Cartaz in­for­mando de um do­mingo de com­pe­ti­çom (1930). di­a­rio de la marina

Na me­tade dos anos 20 co­me­çou a pro­fis­si­o­na­li­za­ção, que não foi le­gal até 1929. Isto pro­vo­cou gran­des dis­pu­tas des­por­ti­vas e nas equi­pas de ad­mi­nis­tra­ção e nas fe­de­ra­ções nas dé­ca­das dos 20, 30 e 40, quando o fu­te­bol teve o seu ponto má­ximo em Cuba. Nestes anos, o clube do cen­tro ga­lego ti­nha só­cios dis­tri­buí­dos pela ci­dade, que se en­car­re­ga­vam de co­op­tar jo­ga­do­res para a equipa. Mas os in­ten­tos por au­men­tar a qua­li­dade do time tam­bém im­pli­cava as­si­nar jo­ga­do­res que vi­viam na Galiza ou nas Astúrias, ofe­re­cendo-lhes sa­lá­rios ou em­prego para animá-los a cru­zar o oceano.

A im­pli­ca­ção ga­lega no mo­vi­mento fu­te­bo­lís­tico na ca­pi­tal cu­bana foi im­por­tante, mas não única. São co­nhe­ci­dos tam­bém os ca­sos de equi­pas de ga­le­gos em Nova York ou o exi­toso Galicia Esporte Clube de Bahía. que hoje se­gue a jo­gar. Além des­tes exem­plos que por­ta­ram o nome ou as co­res da ban­deira, a in­te­gra­ção de ga­le­gos e ga­le­gas no mo­vi­mento des­por­tivo a co­me­ços de sé­culo pro­pi­ciou um avanço na che­gada e ex­pan­são pela Galiza do des­porto. Um pro­cesso si­mi­lar ao sur­gi­mento de es­co­las fi­nan­ci­a­das pe­los in­di­a­nos, sal­vando as dis­tân­cias. Quer com um aporte mo­ne­tá­rio quer com um fluxo de ideias, ga­le­gos que mo­ra­vam na emi­gra­ção im­pul­sa­ram a cons­tru­ção de cam­pos de des­por­tos em vi­las e al­deias ou cri­a­ram clu­bes ao seu re­torno. Assim pro­vo­ca­ram um avanço em ter­mos qua­li­ta­ti­vos e de di­fu­são territorial. 

Além do im­pres­si­o­nante edi­fí­cio do Centro Galego ou os inu­me­rá­veis pan­teões de ga­le­gos no ce­mi­té­rio de Colom, ou­tros as­pe­tos da pre­sença ga­lega não dei­xa­ram res­tos, mas ti­ve­ram uma grande im­por­tân­cia. Os fu­te­bo­lis­tas e equi­pas de ga­le­gos ainda fi­cam no re­cordo. Pessoas de alta idade re­cor­dam como iam os do­min­gos à tarde a ver fu­te­bol na Havana.

  1. Manuel CURROS ENRÍQUEZ: «Al de­sem­bar­car», en Ramón S. de MENDOZA, José Mª HERRERO e Manuel F. CALCINES: El base ball en Cuba y América, Hardvard University, 1908, pp. 3–5.
  2. Santiago PRADO PÉREZ de PEÑAMIL: El fút­bol y los clu­bes es­paño­les de la Habana, 1911–1937. Asociacionismo y es­pa­cios de so­ci­a­bi­li­dad, La Habana, Fundación Fernando Ortiz, 2013. p. 36.
  3. Idem, p. 55.
  4. Diario de La Marina, 15/12/1929, p. 23.
  5. Diario de La Marina, 10/12/1929, p. 16.

O último de Desportos

O desporto de todes?

M. Souto repensa o sistema de categorizaçom nos desportos segundo sexo ou
Ir Acima