‘Temos umha República’, foi umha das primeiras ideias que a muitas pessoas de Malhorca, independentistas e de esquerdas, ocupava nas nossas cabeças — e os nossos coraçons- o dia 27 de Outubro. ‘Temos’, primeira pessoa de plural, já que por muito simbólica que seja, por muito que esteja construída exclusivamente sobre o Principat, sentimo-la como nossa. ‘Umha’, artigo indefinido, porque nom sabemos com certeza o que significa para nós, o que significa para o conjunto dos Països Catalans, este proto-estado.
Desde o seu início, o Processo Soberanista foi umha dinâmica política impulsada à margem, se nom de costas, aos Països Catalans fora da Comunidade Autónoma de Catalunha. A sua aceleraçom, ainda assim, levou-nos a umhas conseqüências mais do que evidentes. A primeira é a mobilizaçom. Saímos às ruas com a estelada mais vezes do que nunca. Para um independentismo acostumado a encher ruas só na Diada, isto supujo um reforço de autoestima e umha visom mais clara das nossas potencialidades.
A simbologia e o discurso independentista reforçou-se em Malhorca com a criaçom de Comités em Defesa na ilha
Muitas da mobilizaçons figérom-se de marcos amplos no sentido de dizer “isto já nom se trata de independência, senom de democracia” mas em todas elas a simbologia e o discurso independentista, de Països Catalans converetérom-se em centrais. Em Malhorca isto reforçou-se ainda mais com a criaçom dos Comités em Defensa, da mesma forma que se criárom em Catalunha e ainda que ao começo pensava-se que só existiria um CDR na ilha, a realidade é que agora existem mais de umha decena.
A segunda é a reativaçom da extrema-direita e o espanholismo sociológico. Vimo-lo na Diada do 9 de Outubro em Valência. Isto pode vê-lo qualquer polas ruas de Palma e olhe a considerável quantidade de bandeiras espanholas que aparecérom em janelas e balcons. É um unionismo que lembra o irlandês: violento, sectário e mui conservador se nom direitamente ultra-direitista. Mas acho seria um erro responsabilizar disto aos avanços que se produzírom no Principat. O que temos diante é a visibilizaçom de um fenómeno sociológico latente. Nom podemos esquecer que o nacionalismo espanhol é a parte da ideologia dominante que agora, ao ver a sua hegemonia profundamente questionada, manifesta-se nuns termos que antes nom necessitava.
O futuro dos Països Catalans passa por aproveitar as fendas abertas no Principat
Podemos dizer, portanto, que o conflito social e político aberto no Principat representa novas esperanças mas também profundos reptos para o conjunto dos Països Catalans. É importante nom perder de vista que muitas das grandes questons que nos formulamos som anteriores ao 1 de Outubro e anteriores ao Processo Soberanista como tal. Como construímos a naçom dos Països Catalans? Como fazemos um sujeito político que traspasse fronteiras? A curto prazo temos umha oportunidade para mobilizarmo-nos coma nunca e para visualizar o independentismo como realidade no País Valencià e nas Illes.
A meio prazo o repto vai ser como nos posicionamos diante da criaçom de um estado independente que se chamará catalám mas do qual nom fazer parte. Mas tenho o convencimento de que a chave para afrontar todo isto será a capacidade de gerar umha estratégia nacional com capacidade de adaptaçom à nossa realidade fragmentada. O futuro dos Països Catalans passa por aproveitar as fendas abertas no Principat e construir um projeto político amplo que recolha a multidom de identidades presentes nos nossos territórios. Como todos os reptos, este implica responsabilidade, vertigem mas também muita esperança.