Através de um mapa virtual e interativo de software livre, o projeto Obaixoulha recolhe, classifica e socializa o património cultural e natural do território contiguo ao rio Ulha. O mapa compom-se das imagens, fotografias, textos e documentos que achegam pessoas ligadas a esta regiom. Com só um ano de vida, o mapa logrou situar mais de quatro mil bens patrimoniais dos concelhos de Catoira, Dodro, Padrom, Pontecesures, Rianjo e Valga. Lucía Santiago fai parte do equipo central de Obaixoulla e fala connosco sobre o projeto e sobre a pegada dos espaços na nossa identidade.
Qual é a história do encontro entre as participantes colaboradoras que criárom Obaixoulla?
Há uns anos, a associaçom Os Penoucos lançou um mapa em que se catalogavam os bens patrimoniais de Valga. Vimos que tinha muito potencial e de ali surgiu a ideia de fazer umha página web onde houvesse um catálogo do património num mapa interativo. Para construí-la decidimos colaborar com a associaçom Comunidade O Zulo, que tinha feito projetos de software livre.
Obaixoulha é sobre todo um projeto colaborativo. O equipo central está formado por um companheiro paisagista que leva a parte tecnológica e fai os mapas e maneja as redes, outro que se dedica à gestom florestal e tem conhecimento do terreno, um mais que se encarrega do desenho gráfico, dos logos e a imagem corporativa, e eu, que me incorporei quando estava a assistir ao mestrado em valoraçom, gestom e proteçom patrimonial e levo a parte da comunicaçom, fago artigos científicos e gestiono as jornadas online.
Mas participantes somos todos porque ao final o que nós recolhemos facilitam-no as pessoas ligadas com o território do Baixo Ulha: envia-nos umha fotografia e a informaçom que tenham sobre esse ponto em concreto. Nós damos-lhe forma e subimos à web.
Por que é importante recolher e documentar o património cultural de um território?
Por umha banda, porque os inventariados municipais som escassos, estám obsoletos e nom recolhem nada que for de interesse para a comunidade em geral. Precisamos suprir isso que nos falta. Agora mesmo, na Galiza nom temos um catálogo (ou nom temos acesso a ele) de todo o património que temos. Os concelhos no seu dia figérom um inventariado que hoje nom nos di nada.
E é importante fazê-lo porque é nosso, é de todos e, no momento em que deixamos de valorá-lo e de socializar com ele, acaba-se. Está nas nossas maos. É um processo natural: no momento que umha sociedade nom lhe dá valor a um elemento patrimonial, o elemento deixa de ser património para nós.
Como construírom umha relaçom com a comunidade para envolvê-la em Obaixoulha?
Foi todo basicamente através das redes sociais. Jogárom um papel mui importante ainda que som como umha faca de dous gumes, porque agora mesmo a gente que tem acesso a nós é só aquela que seja usuária de internet. Falta desenvolver a relaçom com a gente mais velha e as crianças. Pensamos compensá-lo em açons futuras com atividades presenciais, mas seria numha segunda parte do projeto.
As redes sociais jogárom um papel mui importante mas som umha faca de dous gumes. Falta desenvolver relaçom com gente mais velha ou crianças
Muitos projetos de recolhida de património cultural nom implicam trabalho colaborativo. Porque foi importante fazê-lo dessa maneira?
Pois primeiro porque o património é de todas as pessoas, de quem o valora. Se as pessoas que nos seguem nas redes, que nos compartem cousas, que contatam connosco e demais, nom lhe dessem importância a esse património, este projeto nom teria sentido. Acabaria-se.
E depois, porque é mui difícil levar doutro modo um projeto como este, que nom está financiado e ao que cada um de nós lhe dedicamos o nosso tempo livre.
Ademais, agora que temos internet é importante recolher diferentes vozes. Nom simplesmente dar dados técnicos. Sempre tentamos acrescentar a parte mais social de cada elemento, segundo o que nos vam contando, achegando imagens. Finalmente o que nós estamos intentando construir é um relato arredor desses elementos culturais ou patrimoniais.
Como se constroem afetos arredor dos espaços e, sendo que Obaixoulla é mais do que um projeto de documentaçom, como se trabalha com esta dimensom afetivo-espacial?
A dimensom afetiva com os espaços dana as pessoas que tenhem algum tipo de vínculo com X lugar. Pode ser um vínculo material ou simbólico. É mui complexo, deriva da experiência vital das pessoas e da ligaçom que tenham com X património. Por exemplo, aqui em Valga há um edifício que para a gente de agora é simplesmente um teleclube que ficou ali de quando Fraga puxo teleclubes em toda a Galiza. Mas, para a pessoa que hoje coordena o teleclub é mais do que isso: é o espaço em que o seu avó foi represaliado e asassinado polos franquistas. Ali foi onde se iniciou a primeira cooperativa agrária de Valga. Os conhecimentos sobre um território, sobre um espaço, podem variar muitíssimo. Em Obaixoulla o que fazemos é conjugá-los.
Respeitamos cada visom e fazemos um relato conjugando e expondo todo para que as pessoas que o virem e que leiam sobre esse lugar, saibam todos os símbolos e conotaçom que pode ter.
Há possibilidade de expansom do projeto?
É um tema complexo porque a ideia inicial era fazê-lo dentro das nossas possibilidades e já é bastante fazê-lo com todos os concelhos que tenhem relaçom com o rio Ulha. Temos falado com A Estrada e Vila Garcia da Arouça e pode ser que se incluam, mas nom só depende de nós, também das comunidades que estiverem interessadas.
Exportá-lo a mais zonas de Galiza vejo‑o difícil porque na equipa somos quatro pessoas. Imagina se nós quigéssemos fazer isto com o Baixo Minho. É um pouco arriscado porque apenas conhecemos os patrimónios que já estám localizados. De fazê-lo, perderiam-se muitos patrimónios e deixaríamos atrás moitas cousas; seria contraproducente com a nossa ideia principal.
Ao final, o catálogo está feito com software livre e está disponível para todas a comunidades que quigerem fazer o mesmo no seu concelho. As associaçons correspondentes poderiam contatar com a Comunidade do Zulo ou connosco para arranjá-lo. Penso que é umha opçom bastante viável. Ao final trata-se e tecer redes. Nom somos instituiçons, somos associaçons.
Tem mudado a tua relaçom com o território a partir de Obaixoulla?
Penso que nom tem mudado. Sempre tivem um vinculo especial porque é o lugar onde me criei com os meus avós e vizinhos, onde joguei, onde até hoje passeio… ao final é o meu sítio.
No que sim me ajudou Obaixoulla foi a aplicar os conhecimentos que obtivem no mestrado e também a marcar mais a minha identidade, quanto a encontrar mais o meu lugar: em que podo contribuir? Que podo oferecer eu às pessoas? Também me ajudou a descobrir lugares que nom conhecia. Nom conhecia todo em Valga, há cousas que sempre se che escapam; de Rianjo conhecia a metade das cousas que conheço agora. Mesmo com a história do rio Ulha, porque sem ele nom haveria muito do património que temos hoje.