Nos últimos anos o número de turistas nom para de medrar. Em anos prévios ao estourido da bolha imobiliária, o turismo mantinha-se numha linha constante, mas desde 2014 o nosso país recebe mais de quatro milhons de turistas por ano, atingindo em 2017 um máximo histórico que ultrapassou os cinco milhons. A estratégia da Junta persegue o objetivo de continuar a medrar, fixando a meta nos seis milhons de turistas em 2020 ‑dos quais umha terça parte proviriam de fora do estado espanhol‑, num contexto global em que as viagens estám a atingir máximos históricos.
A mobilidade de bens e pessoas está a aumentar de jeito significativo nas últimas décadas. Tanto é assim que a Organizaçom Mundial do Turismo (UNWTO), vinculada à ONU, constatou em 2017 um total de 1.322 milhons de turistas internacionais, um 7% a mais que no ano anterior e mais um ano de crescimento contínuo desde 2009. Este organismo prevê que esta cifra prossiga o seu ascenso, com um crescimento meio de 43 milhons ao ano até 2030.
Junta quer atingir 6 milhons de visitas em 2020, para o qual tem programados 240 milhons de euros
Assim, a Junta da Galiza tem claros os seus objetivos para este novo auge do turismo que se está a viver: atingir os 6 milhons de visitas em 2020, para o qual tem programado o gasto de 240 milhons de euros, correspondentes à sua Estratégia 2020 para o Turismo da Galiza, elaborada pola Agência de Turismo da Galiza – organismo autonómico dependente da Presidência, cuja diretora é Nava Castro. Em anos passados, o nosso país superou os cinco milhons de pessoas viageiras que passaram noite nalgum dos seus estabelecimentos turísticos.
Caminho de Santiago
Nesta Estratégia 2020, apresenta especial interesse a projeçom do Caminho de Santiago, um itinerário que a administraçom considera interessante promover para melhorar as suas cifras de turistas de fora do estado espanhol – em 2016 o 55% das pessoas que figéram o Caminho provinham de 146 países diferentes- e também para introduzir através dele demandantes de serviços de alto valor adicionado. O Caminho de Santiago encontra-se também num momento de auge e de cifras históricas: em 2017, Compostela recebeu por vez primeira mais de 300.000 peregrinos e peregrinas. Mais do que em nengum ano Jacobéu até o momento.
Turismo de cruzeiros
Numhas cifras algo maiores do que o Caminho de Santiago move-se o turismo de cruzeiros. Se bem ano trás ano está a minguar o número de pessoas que visitam Galiza neste tipo de buques, em 2017 arribaram umhas 346.375 pessoas aos portos galegos. Apesar da baixada na chegada de cruzeiros, aparecem também alguns dados significativos. No ano passado, por vez primeira o porto de Marim recebeu um cruzeiro, o MS Bremen, da companhia de navegaçom alemá Hapag-Lloyd Cruises, com um total de 143 visitantes. Para além disto, aprecia-se um auge na chegada de turistas de cruzeiros ao porto da Corunha, com mais de 184.000 ‑um aumento do 45,24% em relaçom ao ano anterior‑, em detrimento do porto de Vigo.
Este tipo de turismo está vinculado ao turismo urbano. Na cidade de Vigo existe umha passarela que permite aceder do porto diretamente para o Casco Velho e na cidade da Corunha o lugar de atraque dos cruzeiros encontra-se perto da praça de Maria Pita.
Um mercado ‘śenior’ e ‘millenial’
A estratégia da Junta recolhe também alguns segmentos que resultam de interesse para os planos de crescimento turístico da Junta. Entre eles encontram-se as pessoas maiores. Assim, percebe-se potencial no “turismo sénior”, dissociado do conceito de turismo social ou IMSERSO. O cliente desejado é um par ou grupo com nível aquisitivo alto, gosto pola natureza e pola cultura e possibilidade de viajar fora da temporada alta”. Na outra face, encontram-se as conhecidas como “millenials”, pessoas nascidas entre 1980 e 1999, um sector ao que a Junta situa no turismo de cidades. Entre os mercados onde vender Galiza como destino turístico, a Junta coloca num primeiro lugar o Norte de Europa, “onde reside um tipo de turista de alto nível aquisitivo”.
Cara a umha análise crítica do turismo
Diversos movimentos sociais estám a alertar dos perigos deste auge do turismo e os efeitos que terám nas populaçons. Na cidade de Compostela, no passado mês de dezembro a organizaçom juvenil Briga realizava um debate onde se expunham as vulnerabilidades dum modelo económico sustentado no turismo, umha atividade que na Galiza está perto de produzir o 12% do PIB. No mês de junho, a CNT organizava na mesma cidade umha palestra sob o título de ‘Disneyworld no centro da tua cidade’, onde se analisavam os efeitos da turistificaçom, tais como a suba de alugueiros ou a expulsom da vizinhança do centro da cidade.
Ademais das críticas que provenhem de setores políticos ativos, na capital do país algumhas vozes académicas estám a advertir sobre os riscos do turismo. A investigadora galega, atualmente residente em Lisboa, Cristina Martínez, mostra-se crítica com o atual modelo hegemónico de turismo, se bem aponta a ter cuidado em alguns aspetos à hora de criar um discurso crítico. “É necessário focar o turismo como um fenómeno complexo, que combina e ativa elementos de diferente natureza e que nom podemos ler dumha forma maniqueísta. Digo isto porque todas participamos voluntária ou involuntariamente neste processo e todas atuamos e nos comportamos como turistas nalgum momento”, expom Martínez.
Ética do prazer
A dificuldade chega também à hora de definir o quê é turismo, num momento em que mesmo alguns trabalhos académicos chegam a questionar a vigência do próprio termo. “Neste sentido”, expóm Martínez, “e dado o caráter eminentemente consumista (de lugares, objetos e pessoas) desta prática pergunto-me se nom fai mais sentido falar puramente de capitalismo e de consumismo”.
Assim, esta investigadora acha que é preciso situar o turismo no contexto das mudanças que se estám a dar no modelo capitalista. “O turismo é ativado especialmente em contextos e tempos precarizados, baseia-se na instrumentalizaçom do património material e imaterial, está vinculado a situaçons laborais claramente injustas, existe umha profunda desigualdade na distribuiçom entre quem sofre as consequências e quem se lucra, dá lugar a processos de gentrificaçom…”, salienta Cristina.
De todos os aspetos do turismo, ressalta dous elementos que considera núcleo do seu potencial destrutivo: “as turistas estám num espaço e tempo de lazer e o caráter temporalmente limitado desta prática impede o envolvimento pleno com a comunidade local e a preocupaçom com as consequências da sua açom”. Na sua crítica à “ética do lazer” que compom o turismo, Martínez expóm que “temos de ser auto-conscientes das nossas práticas e das relaçons de poder que incorporamos quando viajamos ou intervimos em espaços e comunidades diferentes das da nossa rotina”.