
Os limites do planeta e a guerra na Ucránia agudizam a inflaçom e a pobreza na Galiza e Europa. Políticas a prol da vivenda pública, da soberania alimentar e por um preço justo da energia som já imperativas.
Encho o depósito do carro o primeiro dia de conflito na Ucránia. As cifras do preço sobem a toda velocidade; o trabalhador olha, gesticula e sentencia: «Isto vai ficar feio». Desde há tempo é a sensaçom geral quando imos ao mercado, vemos a fatura da luz ou botamos gasolina.
Nota‑o mais ainda Puri Regueiro, responsável dum pequeno supermercado em Feces de Abaixo (Verin): «Nom sei até onde imos chegar, porque a mercadoria sobe, e quem paga é o consumidor». O mesmo acontece no sector primário, como explica desde Germade Marcos Besada, da Asssociaçom A Estruga e trabalhador numha exploraçom gandeira: «Aqui, no rural, já é muito gasto ter só a potência mínima para que nom saltem as neveiras e o forno; e os abonos e raçons subírom muitíssimo». Em fevereiro, a inflaçom na Galiza foi de 8% ‑a segunda maior do Estado- enquanto a suba dos salários mal consegue passar dos 2%.
Ao marchar da gasolineira, o trabalhador suspira resignado: «Dentro de pouco nem vai compensar ir trabalhar». Seja como for, o que é verdade é que fazendo números, as contas nom saem.
E agora, que?
A primeira consequência da fórmula mais gastos-mesmos rendimentos é evidente: perda de poder aquisitivo e aumento da pobreza e da desigualdade. Para Xosé Cuns, diretor da Rede galega contra a pobreza, «chove sobre o molhado» sobretudo para os coletivos vulneráveis e trabalhadoras precárias: «Antes desta suba drástica já notávamos as dificuldades para comer peixe, carne ou o equivalente vegetariano três vezes por semana». No supermercado, Puri Regueiro percebe preocupaçom na hora de fazer a compra: «Há gente que tem que deixar artigos básicos porque quando chega à caixa, faltam-lhe cinco euros». Esta situaçom vem motivada especialmente polo alto custo da vivenda e dos gastos derivados: «Já existia essa escolha entre pôr o aquecimento ou comer bem; agora, esta inflaçom vai um passo além», explica Cuns.
Puri Regueiro, responsável dum supermercado em Feces: “a gente está mui preocupada. Este fim de semana aqui foi umha loucura; a gente fijo provisom de pam, azeite, cerais…”
A inflaçom é um processo que se vem dando, segundo o catedrático de Economia Aplicada Xavier Vence, desde despois de 2008: «Para deixar a crise atrás, os bancos mundiais injetárom dinheiro à banca. Esse dinheiro nom está em moedas nem notas, mas a circular no sistema financeiro e encareceu os ativos. Isto trasladou-se à suba de preços e à inflaçom. Também afetou muito a política de confrontaçom com Rusia, que desde 2014 tensionou os mercados dos hidrocarburos». O aumento do dinheiro em circulaçom foi acompanhado do aumento dos custos, mas nom chegou aos salários nem às famílias. O preço da vivenda foi um dos sintomas desta inflaçom e o fator que mais exclusom social provocou, segundo as associaçons de luta contra a pobreza.

pablo santiago
Nesse sentido, o Movemento Galego pola Vivenda Pública exigia em fevereiro um parque de vivenda público «alheio à especulaçon», baseando-se em que «há muita gente que nom pode pagar umha vivenda no mercado livre». Tendo em conta os dados do Registo de Demandantes de Vivenda ‑com quase 15 000 inscritas- e o ritmo de vivendas de proteçom iniciadas ‑74 anuais- , tampouco aqui saem as contas. Desde o Movemento contrastam a falta de vivenda pública com o «aumentar dos benefícios derivados da especulaçom dos grandes proprietários e fundos abutre». Esta visom, afastada dos interesses da cidadania, dá-se também com os critérios de fixaçom do preço da energia, como explica Xavier Vence: «Nom é razoável os governos olharem para outro lado enquanto as elétricas aumentam tanto os benefícios. Baixam os impostos da fatura, mas essa nom é a maneira, mas umha medida provisória que deriva os custos para o sector público, quando o que devíamos era mudar o sistema de fixaçom de preços».
Fatura mais barata: missom impossível?
Refere-se Xavier aos enormes benefícios das elétricas derivados do método atual de fixaçom de preços. O sistema marginalista favorece as grandes energéticas e fai com que o preço da energia venha determinado polo input mais caro, como explicava o economista Adrián Dios no anterior número do Novas: «Se as empresas produtoras vendem a sua eletricidade a 1 €, 5 € e 100 €, as pessoas consumidoras terám que pagar sempre 100 €. Para os consumidores implica custos adicionais». O gás fai com que o preço da energia, e da fatura, suba. Neste ponto, importa sublinhar que no estado espanhol só cerca de 10% da energia é produzida com gás, e que nem sequer vem da Rússia, onde mais se encareceu. Para Xavier Vence é «mui importante» que a Europa e Espanha cheguem a um acordo para reconsiderar os critérios na fixaçom de preços, que no estado espanhol afeta dumha maneira «especialmente lesiva».
Deste jeito, as energias hidroelétricas ou nuclear seguem a vender-se ao preço máximo marcado polo gás e mantenhem estáveis os seus custos de produçom, o que provoca que os lucros das grandes energéticas disparem.
Xavier Vence, economista, sobre a guerra da Ucránia e a relaçom com a inflaçom: “A lógica de confrontaçom da NATO e os EUA criou um cenário com implicaçons nefastas no económico para a cidadania europeia. Pagamos as consequências dumha política de submissom aos Estados Unidos”
Até agora, Europa rechaçava mudar o sistema baseando-se na diretiva de normas comuns de energia de 2019, mas depois de muito tempo negando essa opçom, o 9 de março de 2022, a Comissom Europeia abria a porta a regular os preços. A ministra da economia espanhola Nadia Calviño numha entrevista para a TVE admitia alguns avanços: «Levamos meses a apontar para este problema, e a Comissom Europeia cada vez é mais consciente de que há que ponher um limite a esse preço. Mas há países relutantes, com outras prioridades».
O governo estatal pujo em marcha umha serie de medidas que embora rebaixem a fatura ao consumidor, nom solucionam o problema do preço, flutuante perante sucessos como a guerra na Ucránia. Segundo umha análise do Instituto Galego de Análise e Documentaçom Internacional, a guerra provocará «um aumento dos preços que irá afetar, entre outros, os combustíveis e os cereais, resultando num contágio para outros muitos sectores». Por outra banda, Nadia Calviño reconhecia que a situaçom vai provocar umha inflaçom «mais persistente».
Xavier Vence também adverte de que afetará especialmente os produtos derivados dos cereais, como pam e raçons, ao tempo que critica a posiçom europeia e nom vê umha soluçom no curto prazo: «Está em marcha umha guerra que é alheia aos interesses da cidadania europeia. Europa tinha muitos motivos para cooperar com a Rússia porque há complementaridades que beneficiam todas, mas a lógica de confrontaçom que impugérom a NATO e os EUA criou um cenário que tem consequências nefastas no económico para todas nós. Pagamos as consequências dumha política estratégica de submissom aos Estados Unidos» Reconhecia‑o dalgum jeito Pedro Sánchez, em referência às sançons à Rússia: «As medidas da UE e a NATO vam ter um custo e vam exigir sacrifícios». Josep Borrell , alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros, ia além disso e apelava à cidadania para reduzir o uso do aquecimento e do gás.
Para limitar os efeitos dessa crise, Sánchez avogou por um pacto sobre os rendimentos com os sindicatos e patronal a acordarem umha «moderaçom» de salários para as trabalhadoras e um menor índice de benefícios empresariais. Dito doutro jeito, deixar de crescer, ou crescer menos. Para Xavier Vence ‑economista- e Puri Regueiro ‑lojista‑, esta medida suporia que volvesse caber à cidadania assumir o esforço.
Venhem pra quedar: suba de preços e inflaçom
A alteraçom à fixaçom de preços da energia já está em debate, e segundo Xavier Vence «dependerá da capacidade de pressom dos diferentes sectores sociais afetados». Contudo, as questons de energia e vivenda nom van ser resolvidas no curto prazo, polo que as necessidades da populaçom continuam urgentes. Desde a Rede galega contra a pobreza exigem que ajudas como o Ingresso Mínimo Vital ‑IMV- ou a Risga “sejam atualizadas conforme o IPC, e nom com base no IPREM (salários)».

Xosé Cuns explica também que após a Covid, houvo medidas positivas para paliar a pobreza: «Embora a burocracia, o IMV já chega ao triplo de pessoas do que a Risga. E o cartom básico permitiu que famílias possam ter umha opçom rápida com a que comprarem em qualquer estabelecimento. Estas medidas nom reduzem a gravidade da situaçon, mas permitem atenuar a catástrofe que seria sem elas. Se nom, a estatística do IGE de dezembro teria aumentado muito mais, até 6 ou 7 pontos».
Cuns exige, ademais, facilidades para aceder às ajudas vinculadas à suba de energia: «É inadmissível ‑para poderem obter umha ajuda- as famílias terem de ir aos escritórios da Naturgy ou da Iberdrola, fazerem fila e contar a sua vida como quem vai aos serviços sociais». A nível galego, o diretor da Rede galega contra a pobreza também aponta para a necessidade dumha maior coordenaçom e transparência entre a Junta e os concelhos: “Por exemplo, a condonaçom do recibo da água para pessoas em pobreza ou exclusom fai-se nuns concelhos e, noutros, nom. Coordenar isso é algo pendente que tem a FEGAMP».
Soberanas com as cousas de comer
O índice da FAO para o preço dos alimentos sinala umha suba de 20,7% com respeito ao ano passado, um máximo histórico. No caso dos produtos alimentares, só em janeiro de 2022 os azeites vegetais subírom 8,5% e os lacticínios, 6,4%. Puri Regueiro nota‑o no seu supermercado, mas pede para nom gerar mais alarme: «A gente está mui preocupada. Este fim de semana aqui foi umha loucura; a gente fijo provisom de pam, azeite e cereais, foi meter gasolina… Nom podemos lançar alarmes de que se vam acabar os produtos para aumentar benefícios, como passou na pandemia com o papel higiénico».
A soberania alimentar é umha das ideias que defendem desde o espaço agroecológico A Estruga, em Xermade. Esta iniciativa tem como objetivo dinamizar o rural e facilitar a viabilidade das exploraçons de pequenos produtores, que segundo garante Marcos Besada, «ficam sempre excluídas das ajudas da Junta». Explica Marcos que ante eventos como a guerra da Ucránia, embora nom possam evitar a suba dos custos, sim que há umha menor vulnerabilidade: «Temos a capacidade para reformular as cousas quando há algum problema. No confinamento funcionou mui bem. Agora por exemplo, estamos a tentar começar um mercado em Vilalba, as terças e as sextas, que também sirva de ponto de encontro para os produtores. Pensamos que com os preços a subirem, comer produtos de proximidade deixará de ser umha utopia para ser umha obrigaçom».
Marcos Besada, engenheiro agrícola da associaçom A Estruga, do concelho de Germade: “Com os preços a subirem, comer produtos locais deixará de ser umha utopia para ser umha obrigaçom”
Embora estejamos cada vez mais familiarizadas com iniciativas como os grupos de consumo e advertidas da pegada energética do consumo de carne, o responsável da Estruga acha que há muito que avançar do ponto de vista cultural: «A alimentaçom ocupa o espaço que há entre o trabalho e o lazer, mas devemos é preocupar-nos mais com atopar um equilíbrio entre os novos modelos de vida e umha menor pegada».

Nesse objetivo de caminhar para umha sociedade mais singela, com um consumo mais racional, a Associaçom Véspera de Nada publicou em 2013 a Guía para o descenso energético, onde aponta para umha serie de recomendaçons após o teito do petróleo e o declínio energético que segundo muitas expertas, já estamos a viver. O livro trata possível soluçons a nível individual e comunitário. No que toca à alimentaçom: evitar na medida do possível os alimentos que requeiram muita energia quanto à sua produçom (carne, snacks, refrescos, pré-cozinhados…), produzir ‑quem puder- o seu próprio alimento. Neste sentido, desde a Estruga achegam esta ideia: «Tal como quando pedes orçamento para ponheres móveis num apartamento, podemos falar com um produtor para que nos plante cebolas. É algo fatível». Outra recomendaçom, tanto desta iniciativa como da Guia, é comprar alimentos de da estaçom e locais: «Por exemplo, comer cousas produzidas a menos de 100 km do local onde vivamos. Na Dinamarca, todos os alimentos em colégios e hospitais provenhem de exploraçons ecológicas próximas». A Guía para o descenso energético também recolhe recomendaçons no ámbito da economía, centradas também na reduçom do consumo, a poupaçom e o cancelamento de dívidas.
No objetivo de caminhar para umha sociedade mais singela, com um consumo mais racional, a Associaçom Véspera de Nada publicou em 2013 o ‘Guia para o descenso energético’, onde aponta para umha série de recomendaçons após o teito do petróleo e o declínio energético que segundo muitas expertas, já estamos a viver
Seja como for, o aumento da inflaçom fará com que as desigualdades aumentem. Medidas como a rutura com o sistema marginalista, o aumento da vivenda pública, a reduçom do consumo e as políticas a prol dumha soberania alimentar já estám acima da mesa. A cesta da compra e a escasseza de matérias-primas no planeta falam claro: ou mudamos a fórmula ou o resultado será o mesmo, porque as contas, definitivamente, nom saem.