Elvira Bao. Maria Zambrano. Federica Montseny. Ruas e praças de recente criaçom começam a ter nome de mulheres republicanas, inclusive em lugares como na cidade da Corunha mudárom-se os nomes que o franquismo impujo às ruas para colocar o das pessoas que jogárom um papel importante na urbe ou as suas nomenclaturas originais. Mas o renomeamento dos espaços é abondo no trabalho pola memória histórica? Os caminhos para recuperar a memória do povo, silenciada com a morte e a repressom da ditadura franquista, ainda estám por percorrer segundo assinala a ativista Lola Ferreiro e mesmo a filha de Elvira Bao.
“Há que lembrar todas as pessoas que o fascismo de Franco matou porque constituem a base do que existe hoje”, aponta Elvira Varela Bao. A filha de quem foi a primeira presidenta da Agrupaçom Republicana Feminina na Corunha e mestra no sanatório de Oça nom dispom de título académico algum. Nem tam sequer da Educaçom Geral Básica. Tampouco nom realizou o Auxilio Social. “Estou bem limpinha”, sustém ao olhar de vagar os 91 anos que já leva vividos.
Para aceder à educaçom regulada, Elvira Varela devia aderir ao regime fascista do general Francisco Franco e renegar, portanto, da sua mae Elvira Bao. A decisom de ser leal aos seus princípios e aos da sua família implicou ser “umha apestada durante muitos anos” mas isso nom lhe apagou o orgulho que sente da escolha.
Elvira Varela cre que a esquerda “nom deveria esquecer o seu passado nem deixar de reivindicar a memória das pessoas que fôrom assassinadas”
“Tivem a escola na casa polo que também sou consciente de que fum umha privilegiada”, explica Elvira Varela, Elvirita, como costuma ser conhecida pola sua gente.
Elvira relata com emoçom que este cinco de outubro se inaugurou a sala Elvira Bao na facultade de Ciências de Educaçom na Corunha e em questom de dias abrirá-se a residência de estudantes Elvira Bao ademais da praça que leva o nome da sua mae por iniciativa do Concelho. “Inaugurárom duas praças umha a da minha mãe e outra a de 8 de março, pode-lo crer?”, di sorridente.
O concelho da Corunha iniciou um processo de renomeamento das ruas da cidade para reivindicar bem personagens importantes da Corunha bem as suas nomenclaturas tradicionais. “É muito importante lembrá-las”, indica, “matárom muitas pessoas”. Elvira Varela vive este processo com emoçom e sentimento de justiça mas também reconhece que a esquerda “nom deveria esquecer o seu passado nem deixar de reivindicar a memória das pessoas que fôrom assassinadas”.
Memória e esperança
“Ainda que semelhe um tópico, o desconhecimento da história própria condena os povos e as pessoas a repeti-la”, sustém a ativista pola memória histórica Lola Ferreiro. Considera imprescindível reflexionar sobre o que lembramos e nom lembramos já que existem entre cinco e oito anos na memória do povo em que se construírom ilusons. Esse tempo da II República, di Ferreiro, “foi condenado ao ostracismo pola ditadura franquista”. “Isso é muito nocivo porque dificulta a esperança e esta é fundamental”.
À hora de recuperar a memória das mulheres os esforços duplicam-se. “O patriarcado nom consente a memória das mulheres e é algo contra o que há que luitar todos os dias”, indica a ativista que aponta como “organizaçons políticas de esquerdas e mulheres acabárom por resignar-se”. Num exercício de otimismo, Lola Ferreiro assinala como “agora já se começam a recuperar os nomes e histórias das nossas” mas este processo de recuperaçom da memória história nom é umha questom simples. Com respeito às iniciativas que só ficam no renomeamento dos espaços, Lola Ferreiro aponta que som “imprescindíveis mas por si soas nom abonda”.
Memória com contexto
Nom só é necessário lembrar os atos e as pessoas individuais senom o contexto que as envolve. “É preciso colocar um marco político à repressom sofrida” como por exemplo assinalar o golpe militar de 1931, precedente do que se iniciará cinco anos depois. “Se nom se recupera a memória no seu completo, o processo fica coxo e até pervertido”, destaca, “é preciso aplicar o contexto, que isto entre nas escolas através das ciências sociais”.
“O patriarcado nom consente a memória das mulheres e é algo contra o que há que luitar todos os dias”, indica Lola Ferreiro
Lola Ferreiro contrapom o processo sobre a memória vivido na cidade da Corunha com o de Compostela. Enquanto na primeira cidade houvo atos públicos e conferências sobre o novo nomeamento das ruas e praças como a de Elvira Bao, em Compostela passou inadvertido. “No Castinheirinho temos ruas como as de Carmen Laforet, Anna Frank, Maria Zambrano, Federica Montseny ou Concepción Pérez Iglesias mas nom houvo nehumha reivindicaçom do que elas figérom e do que supujo para a nossa história, tampouco nom se anunciou publicamente”. Ainda que lhe custa imaginar um processo social, político e integrador sobre a memória histórica próximo no tempo, Lola Ferreiro considera que é umha questom vital para os povos. É necessário ademais, di, destapar os crimes do franquismo e que os seus responsáveis sejam levados à justiça ao mesmo tempo que nom fique nenhum corpo das vítimas por identificar.
Para materializar esta ideia, Ferreiro defende quitar a agenda social aos poderes que decidírom, polo de agora, até onde atinge o debate ao redor da memória histórica. “A lei que impulsou o Partido Socialista Obrero Español colocou a memória histórica no debate mas só em determinados termos já que a normativa é amplamente reducionista”. Umha lei que se vê incumprida polas instituçons públicas como podem ser os concelhos que se negam a mudar a simbologia fascista ou os nomes das ruas franquistas. A dia de hoje “nenhumha organizaçom política denúncia que esta lei nom abonda e as pessoas tenhem o direito a reivindicar a sua memória e as crianças tenhem o direito a conhecer a história, a de verdade”.
Nomes apagados da história
Na sua casa, cheia de lembranças da sua mãe, Elvira Varela passa a ponta dos dedos polas fotografias da Agrupaçom Republicana Feminina pondo nome a cada cara. Uns nomes que pronúncia de corrido como se se tratasse de um exercício diário. Amparo López Jeán, “ela era a vice-presidente da Agrupaçom e sempre estava com a minha mae”. Com um sorriso di “esta mulher era conhecida como Lola la Rubia e nunca consigo lembrar o seu apelido. Juanita Capdeville, pedagoga e bibliotecária, “os fascistas matárom-na a paus estando grávida de cinco meses”. Também Sofia, comenta, a mulher do alcalde da Corunha na República, Suárez Ferrín, foi assassinada. María Miramontes. Carmen Rei Barral. Adela Mejuto, “ela era concelheira”. “Aqui está Freijido, nom lembro do seu nome mas formava parte da Agrupaçom Republicana Feminina e tinha umha tenda de presentes na rua Real”.
Muda de foto e voltam aparecer os mesmos nomes com algumha adicionada. “Pepita Muñíz, que geria a primeira academia de mecanografia e taquigrafia da cidade da Corunha e o seu marido que pertencia ao Casino Republicano. Trinidad Villalón, secretária da Agrupaçom. Teté Albajar, filha de Amparo López Jeán, “também estava em todas coma mim”. “E esta é Pilar Durán, mestra dos Castros que foi expulsa da escola com o Golpe e marchou para Cuba com o seu filho Juancito”.
“Acho de justiça que se reconheça que nom fôrom delinquentes e que trabalhárom polas de abaixo”, sustém Elvirita, que admite que “fica muito para fazer pola memória das pessoas que luitárom pola ilusom e conviçom de que um mundo melhor é possível”.