Que somos um povo destinado à luita parece que é algo que até a pessoa mais estática tem percebido. Anos de espólio do país até nos deixar mesmo sem a própria saúde. E é neste ponto em que nos encontramos, em plena pandemia, quando nos lembramos do que é importante e do que agora já nom temos. De nada vale sair aplaudir às janelas ou queixar-se desde o sofá.
Desde o coletivo de Enfermeiras Eventuais en Loita levamos mais dum ano reclamando direitos laborais básicos, que no Serviço Galego de Saúde ficam mui longe de serem respeitados. Nom é esta umha questom de magnitude somente laboral, pois o que se reclama também é que a populaçom tenha direito a uns cuidados de qualidade. Dificilmente pode ser oferecida qualidade na atençom quando, enquanto trabalhadora, hoje estás no consultório do Pindo, amanhá na consulta de dermatologia do Hospital Clínico de Santiago e para a semana no serviço de neurologia, e muito menos ainda quando, se calhar, tens de incorporar-te com só três horas de antecedência.
Tampouco podes garantir esta qualidade quando, num mês de trinta dias, trabalhaste trinta dias (com trinta contratos diferentes). Esta situaçom de instabilidade e incerteza, que o pessoal eventual do Sergas levamos mais de umha década padecendo, foi agravada durante a crise da covid-19. Contagiámo-nos no nosso posto e ninguém se importou com isso, contagiamo-nos pola falta de material e de protocolos, e o que recebemos em troca foi que os nossos contratos nom fossem renovados. Mas, bom!, também levámos numerosos aplausos institucionais e mesmo um prémio nom sei quê das Astúrias da concórdia.
De existir umha “guerra” durante a pandemia seria a que mantemos contra a própria administraçom pública, contra quem nos governa e nos explora.
Durante este tempo ouvimos numerosas vezes empregar o símile das batalhas e comparar-nos mesmo com os corpos militares, e incluso falar de heroicidade. Nada mais afastado da realidade do que isso. Ainda diria mais, de existir essa “guerra” seria a que mantemos contra a própria administraçom pública, contra quem nos governa e nos explora.
Mais umha vez houvo que pelejar polo básico, polo que nos pertence por direito a nós e às nossas pacientes. Mais umha vez, estamos na luita. Esta vez somos as enfermeiras as que pomos em dúvida a boa gestom e questionamos o que se está a fazer com a saúde pública e que interesses agocha o desmantelamento da mesma. A resposta está clara, mas nom a aceitamos. Nom vamos permitir que nos seja negado o direito fundamental à saúde, nom o vamos permitir como trabalhadoras mas tampouco como usuárias. Por isso, neste caminho continuaremos reclamando que se “cuide a quem cuida” para assim poder oferecer umha atençom digna, integral, universal e verdadeiramente pública para todas.