A Arca da Noe é mais do que uma taberna ou uma sala de concertos. Colocou uma aldeia, Vilar de Santos, no percurso sócio-cultural do País. A Noe, ao comando, conta como é essa travessia.
Houve algum pulo concreto para desenvolver esta ideia no rural e nom num ambiente urbano?
Eu sou da comarca da Límia e queria voltar para aqui e não deixar morrer aquilo de que pensava que fazia parte. Já tinha trabalhado como encarregada da organização das atividades no local social “A Esmorga” na cidade de Ourense e achava que era necessário promover uma oferta cultural mais ampla numa zona que poderia, pola sua parte, contar ainda com um número aceitável de pessoas interessadas por um modelo de taberna cultural como o que eu queria desenvolver.
Achas que a Arca tem evoluído neste tempo, (três anos e meio) e para onde? Era a ideia que tinhas?
A intenção sempre foi ter um lugar onde se juntassem as pessoas para falar, para fazer atividades, para cantar, para poder ver uma exposição, para dar a conhecer a nossa música… Que as pessoas tomassem um vinho ou o que for e que se sentissem a vontade, como a casa de todas. Acho que seguimos a ter a mesma ideia inicial e suponho que, se quando comecei me chegam a dizer que ia ter a programação fechada seis meses antes e com a qualidade das músicas, que vêm por aqui, nem conseguiria acreditar.
Qual é o envolvimento da comunidade no projeto?
Há um amplo e variado grupo de pessoas ao redor da Arca, uma ‘tripulação’, sem a que este barco não seria quem de navegar. Esta malta está sempre a me ajudar com os ‘sarilhos’ que se apresentam quase todos os dias, são o suporte que faz com que o projeto seja possível, porque uma iniciativa que chega a conseguir ter as dimensões da Arca não a poderia sustentar apenas uma pessoa sozinha. Esta comunidade é a que achega novas ideias, fornece feedback, faz promoção do projeto, cria redes, faz tarefas de mantimento, logística e intendência… São a razão de ser desta iniciativa.
Uma iniciativa que chega a conseguir ter as dimensões da Arca não a poderia sustentar apenas uma pessoa sozinha. Esta comunidade é a que achega novas ideias, fornece feedback, faz promoção do projeto, cria redes, faz tarefas de mantimento, logística e intendência… São a razão de ser desta iniciativa.
Na Arca podemos encontrar pessoas de procedências diversas, mesmo de idades mui distantes, vês interação entre elas ou ainda uma fenda importante?
Trabalho sempre fica por fazer, mas em geral creio que estas interações se estão a dar e são fundamentais para a sobrevivência da Arca. Há pessoas que se têm feito amigas, que se levam muitos anos e pertencem a muitos âmbitos diferentes: urbano e rural, muito novas e já idosas, diferentes contextos socioculturais e mesmo económicos, diferentes condições sexuais, diversas formações académicas… Sem este espaço de convívio muitas pessoas nem teriam mantido uma mínima conversação e agora combinam para fazer mais cousas, para além de estar apenas na Arca.
É salientável a presença nas acuações ao vivo de artistas de toda a lusofonia, achas que enche certo vazio normalizador na nossa cultura linguística?
Na verdade, não acho que encha um vazio, penso que desde há muitos anos na Galiza existiram e existem múltiplas associações e pessoas que trabalharam e seguem a trabalhar pola difusão das culturas lusófonas. Os grupos reintegracionistas de base, muitos locais sociais, o MDL (Movimento Defesa da Língua), a AGAL, a Academia Galega da Língua Portuguesa, a Pró-Academia… umas organizações antes, outras depois, umas a nascer e outras já desaparecidas, continuadoras umas das outras, levam décadas a trabalhar sem descanso e em condições muito difíceis na promoção dos espaços culturais lusófonos de que fazemos parte.
A Arca não enche vazios, soma-se orgulhosamente a esta esperançosa travessia.