Sociologia e urbanismo som duas ciências que ainda que deveriam ser complementárias, em poucas ocasions vam da mao. María Novas, arquiteta e fundadora de ‘Dexeneroconstrución’ reivindica este binómio e a inclusom dos estudos de género para reverter as desigualdades que historicamente se producem nas nossas cidades e sobre todo do coletivo que mais as padece e que tem rosto de mulher.
Estám as nossas cidades e as vilas pensadas e desenhadas para mulheres?
A teoria urbana em que se baseia a construçom de muitas das nossas cidades hoje foi criada baixo estándares normativos que se assumem como neutrais mas nom o som.
Como muitas outras ciências em que se baseia o nosso sistema de conhecimento, desenvolve-se na idade moderna em ocidente num momento em que o homem é o centro, o sujeito central da cultura. Falamos da doutrina do antropocentrismo, que é marcadamente androcéntrica: o masculino tem carácter universal, nom o humano.
Isto pervive durante séculos e o masculino continua durante a modernidade sendo o usuário normativo das nossas cidades, quando tem lugar a estandarizaçom do urbanismo moderno. Mas o usuário estándar nom é apenas masculino. É branco, burguês, heterossexual, ocidental, de mediana idade e com saúde. Isto, em realidade, implica um perfil mui minoritário da diversidade humana com importantes consequências que sofremos hoje.
Isto conforma um processo de seleçom mas também de exclusom, o que quer dizer que se nom cumprimos algum destes preceitos do ideal e normal podemos estar excluídas. Assim, concluímos que, no desenho e projeçom das cidades, as necessidades dos grupos sociais excluídos historicamente nom fôrom priorizadas. As mulheres, pessoas nom ocidentais, as crianças, as pessoas maiores ou pessoas com diferentes graus de mobilidade nom fôrom tidas em conta.
O que cumpre mudar logo no urbanismo atual?
É necessário transformar a nossa perceçom de usuárias estándar e pôr especial atençom à inclusom das necessidades dessa maioria social.
Falando das mulheres é importante conhecer e entender quais som as causas, as suas necessidades e a sua experiência distintiva do espaço, já que historicamente estivo à margem da norma.
As mulheres temos uns usos diferentes dos espaços?
Sim, esta experiência distintiva das mulheres na sua relaçom com a cidade vem determinada polo seu rol social atribuído em funçom do género. Falo da assunçom do trabalho nom remunerado e de cuidados que recai sobre elas maioritariamente: cuidado das crianças, idosas e pessoas dependentes, assim como o mantimento da vida quotidiana.
Fai pouco a câmara municipal do concelho de Compostela tirou um estudo sobre o uso dos tempos na cidade. As estatísticas falam e comprova-se que há um uso muito diferente dos tempos em funçom do género. Há muitíssima desigualdade à hora de empregar os equipamentos da cidade e deferências nos patrons de mobilidade.
Este tipo de estudos som muito importantes e por desgraça pouco habituais. Com eles podem-se desenhar e implementar políticas para reverter esta situaçom ou, no mínimo, evitar a criaçom de mais barreiras e desigualdades para as mulheres.
Os grandes nomes do urbanismo ou da arquitetura som masculinos. Pensas que também é importante recuperar a memória das mulheres neste campo tal e como se fai noutros?
O reconhecimento foi, e continua a ser, historicamente androcêntrico, sendo assim irreal e oblíquo. Mas continua a ser essa a norma.
Os processos de comemoraçom, de escolha de referentes, sempre tendérom a erigir o mesmo arquétipo humano com um determinado estatus normativo. Em arquitetura, por exemplo, isto vê-se às claras na figura dos “grandes mestres”. Feito que se agudiza e legitima com a nom participaçom dos grupos sociais historicamente marginados nos lugares de poder, toma de decisom e construçom de conhecimento, nos quais se tende a reconhecer a iguais.
E insisto, o sistema de validaçom nom é neutro. Se se fai visível tam só umha parte, invisibiliza-se todo o demais. Isto implica exclusom e favorecer umha minoria. Recuperar a memória das mulheres que participárom e transformar isto para reconhecê-las é central para reparar e nom continuar a legitimar os mesmos procedimentos.
Nalgumhas cidades do estado coletivos feministas participam em planos urbanísticos para assinalar os chamados “pontos escuros”, para visibilizá-los e transformá-los. Que importância tem isto e para quando exportá-lo à Galiza?
Conheço experiências participativas que levam anos a desenvolver-se em lugares como o País Basco, Iruña (Hiria Kolektiboa, Gea21…), concretamente os “mapas da cidade proibida” que trabalham a segurança humana nas cidades, detetando os pontos em que a perceçom de insegurança se incrementa e recolhendo propostas de mellhora.
Aqui, de novo, a perceçom de segurança humana ou o direito à mobilidade livre e segura tem muito a ver com o género, e em concreto com o terror sexual, limitando a sua liberdade e restringindo‑a em termos de tempo e espaço. Falo de medo a circular de maneira livre ou evitar de forma consciente algumhas zonas. Isto tem enormes consequências, sobre todo os obstáculos para fazer parte da vida social: atividades físicas, lazer, estudos, trabalho ou ativismo social e político, ou a limitaçom da sua autonomia, isolando-as.
Nós trabalhamos este tema de maneira transversal em dous talheres de mapeio participativo com perspetiva de género, um em Ourense e outro em Oviedo.
Achas que trabalhar através de processos participativos para construir ou transformar a cidade que queremos é necessário?
Na gestom democrática do território é unha condiçom necessária incorporar as vozes tradicionalmente ausentes como agentes de planeamento urbano, de construçom da cidade e projeçom do espaço público.
Acho que a participaçom pública é imprescindível na planificaçom das nossas cidades e sobretodo os grupos sociais historicamente excluídos devem estar presentes no diálogo, já que a diversidade das comunidades do próprio território resulta fundamental para poder entrar a considerar as suas problemáticas e necessidades particulares. A consulta a mulheres que normalmente som expertas dos seus bairros e que estám melhor situadas para articular as suas próprias necessidades e identificar as barreiras é essencial.
Quanta importância tem a sinalizaçom dos pontos inseguros na toma de consciência coletiva de que as mulheres também na rua estamos expostas a múltiplas violências?
A partir do desenho das cidades podemos contribuir para criaçom de espaços em que a perceçom de segurança seja maior, mas a erradicaçom do medo é algo muito complexo e deveria incluir muitas mais medidas.
Assinalaria três ideias básicas para reverter estes pontos de insegurança: a mistura de usos ou o fomento da presença de equipamentos em riqueza de atividade em horários de dia e noite, gerando concorrência (pessoas saindo, entrando, transeuntes, vizinhança presente…), o que favorece os “olhos da cidade” que dizia Jane Jacobs; vigia natural ou controlo informal, já que os lugares mono-funcionais como as ruas exclusivas de lazer noturno ou polígonos industriais geram umha perceçom de insegurança a depender das horas.
O seguinte ponto é favorecer rotas claras, mas sobretodo fomentar a visibilidade com um alumiado público suficiente e uniforme, com especial atençom às paradas de transporte público, bem situadas e com luz.
Para rematar com um elemento esperançador. Quais cidades estám a fazer bem as cousas e som exemplo da inclusom do fator género?
Falando da Galiza, Ponte Vedra é um referente a nível estatal. Implementárom-se políticas de pacificaçom e sustentabilidade, que agora estám mui na moda, mas Ponte Vedra recolhe os fruitos dumha política de há uns dez ou vinte anos.
A nível europeu o melhor exemplo é Viena.