Carthago delenda est. Com essa frase costumava Catom o Velho terminar os seus discursos nos últimos anos das Guerras Púnicas: Cartago deve ser destruída. Afinal, Cartago simbolizava a antítese de Roma, o inimigo mais evidente, o mais íntimo — e nom era só Catom a pensar assim.
Com a Venezuela passa qualquer cousa de parecido. Como se fosse umha Cartago pós-moderna, diversos poderes globais, com Washington à cabeça, desejam vê-la destruída. Para eles, como para a antiga Roma que entom começava a pensar como um império, a simples existência de qualquer espaço nom conquistado ou integrado constitui umha ameaça a sério. Sobretodo se promove processos de soberania semelhantes, um mundo multipolar ou nacionalizaçons de setores chave e recursos naturais.
Contodo, o império do século XXI tem forças limitadas e a apariçom recente de potências contra-hegemónicas nom permite já agir com a força bruta como único argumento. As novas guerras imperialistas, a partir da experiência iraquiana, necessitam extensos prolegómenos de justificaçom e fabricaçom do inimigo, mesmo se é basicamente com mentiras, dados descontextualizados ou situaçons dramáticas criadas com antecedência, para poder executar embargos, bloqueios, sançons, etc. E também necessitam assegurar um cenário pós-agressom que permita atingir os objetivos da operaçom: o saque dos recursos, o capitalismo de reconstruçom, o domínio geopolítico.
Na Venezuela, esse período começou há já anos. Na realidade, desde a primeira vitória de Hugo Chávez. E tem-se radicalizado enormemente desde 2015, quando a Venezuela foi declarada oficialmente “ameaça” para os Estados Unidos. Desde há pouco mais de um mês, o Atlântico Norte joga a esgrimir a responsabilidade de proteger como princípio de intervenção, a desconhecer o governo de Caracas e a colocar um presidente de palha para facilitar as deserções e, assim, o controlo territorial sem necessidade de investir todos os recursos de umha ocupaçom normal. Porém, com o crédito político de Juan Guaidó completamente desaparecido e com a Venezuela a funcionar com dificuldades, mas com relativa normalidade, a hipótese de umha invasom boots on ground como única saída ganha cada vez mais força.
As dificuldades de algo assim seriam enormes, por enquanto. Primeiro porque, com exceçom dos mais radicalizados opositores, ninguém na Venezuela quer uma invasom militar, nem sequer entre quem apoiou o golpe. Segundo porque a Venezuela é um país grande — o duplo do Iraque —, montanhoso, selvático, onde mover-se é extremamente difícil e onde a superioridade de armamento serve de pouco. E terceiro, porque ninguém quer umha Líbia nos Caraíbas e porque o governo de Nicolás Maduro tem mais aliados dos que maçadoramente se nos quer fazer acreditar, mália que Washington tenha também alguns aliados à mao na América Latina. Destruir a Revoluçom Bolivariana, portanto, nom seria rápido nem barato. E com umha relaçom custo-benefício tam pouco clara, nom admira que alguns dos mais entusiastas imperialistas estejam a pensar duas vezes.