Xosé Constenla Vega é cantautor com já quatro discos publicados, geógrafo, e militante nacionalista. Licenciou-se e doutorou-se em Geografia na USC, tendo exercido como professor na UDC, na Universidade Carlos III de Madrid, na Universidade de Leom, assim como de investigador do IDEGA e de geógrafo em Urbanismo e Ordenaçom do Território. Tem publicado numerosos artigos em revistas científicas sobre Ciências Sociais. Em 2010 publicou o livro “(Re)Imaxinando o universo urbano. De Baltimore a Santiago de Compostela”, e em 2017 ganha o Premio Ramón Piñeiro de Ensaio com o “O colapso territorial en Galiza. Unha lectura dende o espazo da construción social do país”; livro editado por Galaxia, e sobre cujos conteúdos o entrevistamos a seguir.
Segundo o teu critério, quais som as causas de que, ao longo da Modernidade, a Geografia tenha acostumado a ser considerada de “irmã pobre” das ciências sociais?
Penso que há razons endógenas e exógenas. Por um lado, a geografia foi-se fechando num gueto, dominado por correntes de trabalho essencialmente descritivas e historicistas, perdendo deste jeito o seu valor empírico e analítico. Ademais, existiu sempre umha posiçom tendente a fugir da procura das explicaçons totalizadoras, em detrimento do tratamento do facto compartimentado (até o extremo, em ocasions), regionalizado e excecional. Mais ainda, o fio condutor das ciências sociais na modernidade, é a temporalidade, sendo básica em disciplinas como a história e a economia. Deste jeito, das chamadas forças produtivas modernas, isto é “terra, trabalho e capital”, a terra, enquanto elemento dotado de espacialidade, foi subordinando ao tempo. O próprio Marx entendeu melhor que nengum outro pensador que o capitalismo supunha a aniquilaçom do espaço mediante o tempo”. Este processo impujo umha hegemonia historicista e economicista no conjunto do pensamento social que tem chegado aos nossos dias, fazendo com que o conhecimento geográfico passe a ser um compéndio mais ou menos amplo de erudiçom universal.
“O próprio Marx entendeu melhor que nengum outro pensador que o capitalismo supunha a aniquilaçom do espaço mediante o tempo”.
Reivindicas o “giro espacial” ao pé do advir da pós-modernidade, de cujas novas visons geográficas nos ilustram autores como Edward Soja; do novo urbanismo inspirado pola heterodoxia marxista de autores como Henri Lefebvre, ou da apariçom da Teoria Geral de Sistemas. A sua principal consequência teria sido o passo de umha conceiçom do território como mero suporte físico dos processos histórico-sociais, a umha outra na que o espaço irá ser situado no primeiro lugar da reflexom. Que fatores pensas que podem explicar esta mudança de focagem?
Evidentemente, a pós-modernidade implica umha série de riscos que já fôrom mui alertados por diversos autores (neste senso, sempre gostei muito da interpretaçom realizada por Fredric Jameson). Porém, no seu intuito por fazer morrer a história e por anunciar o derrubamento dos grandes relatos (que no fundo significa a morte da temporalidade) fijo emergir, paradoxalmente, um jeito de pensar original muito mais vencelhado à espacialidade. Certo é que essa noçom de espaço resulta perigosa por ser estética e simulacro, reivindicando a justaposiçom de nom-lugares. Daí a crítica mais intensa que se lhe fai a Soja enquanto geógrafo pós-moderno. Mas, aliás, é interessante o seu jeito de entender o processo dialético (o temporal e o social) como umha “trialética” que incluiria o espacial. Por outras palavras, um programa de emancipaçom civilizatório nom pode deixar fora a experiência espacial nem a construçom do lugar, se nom quiger repetir os erros da modernidade fordista e industrial (sobre tudo no tocante à relaçom humanidade-natureza). É por isso que o território deixa de ser cenário da história e das atividades económicas, para se converter num elemento epistemológico mais integrado de um sistema de pensamento e organizaçom social. Neste contexto, Soja, acusado de “fetichista do espaço”, falou, quase como vingança, de pôr o espaço em “primeiro lugar” (depois de decénios a ser negligenciado), mas, sendo sensatos, a leitura que se pode fazer é que, quando menos, ocupe o mesmo lugar que as outras duas esferas.
Os fenómenos de “soluçom espacial” e de “acumulaçom por despossessom” que David Harvey analisa; da “criaçom destrutiva” que Giovanni Arrighi replica, assim como do devir “nom lugares” dos novos espaços produzidos polo Capital que Fréderic Neyrat advirte, teriam afetado o território galego de jeito bem peculiar, por mor do genuíno carácter antropológico-cultural do nosso povo. Como achas que se resolve este facto?
Harvey explica a importáncia do espaço no capitalismo seródio e na nova fase de imperialismo ao advertir que, o capitalismo, busca através dele a soluçom às suas crises. E fai-no bem despregando mecanismos de espólio em âmbitos aos que nom chegara (e superficialmente, nom teriam um interesse acumulativo) ou bem adaptando as estruturas prévias aos seus interesses cambiantes. Na Galiza, esses processos, ao meu ver, desembocam em duas circunstáncias: a aniquilaçom dos usos sociais genuínos do espaço e a perda dramática de biodiversidade. Ambas as duas som consequência direta da acumulaçom por despossessom e da implantaçom da soluçom espacial capitalista desde a década de 1960. Visualmente, o desequilíbrio territorial e a crise demográfica constituem sintomas deste processo, que deve acabar por ser entendido como umha perda acelerada e em pouco tempo da complexidade que o território galego possuía (sendo em qualquer caso um sistema frágil).
Como definirias o conceito de “colapso” que manejas no teu livro, a respeito doutros sensos alternativos possíveis para o mesmo?
O colapso constitui a soluçom espacial do capitalismo para o território galego (e também para outros). A diferença do bolsista, turístico, circulatório ou demográfico, o colapso territorial vai além da noçom de congestom ou caos. Tampouco é apenas umha “queda” ou umha hecatombe civilizatória. Neste caso falamos do estágio disfuncional de um sistema (o territorial) que perde a sua complexidade orgánica. Do que falo é da ideia de que o território foi despojado do seu significado e dos seus lugares (com a sua carga social) para ser convertido num suporte do sistema económico (sem gente que o defenda). Incêndios, eucaliptizaçom, passeios marítimos, portos exteriores, megaminaria, contaminaçom fluvial, despovoaçom e aglomeraçons urbanas ou turistificaçom (entre outros) som mostras de um processo de decomposiçom de um sistema, com o resultado de as pessoas que o habitamos convertermo-nos em “seres nom cognoscentes”; ou seja, terrivelmente alienados e despossuídos de um dos nossos princípios de identidade: o território.
Do que falo é da ideia de que o território foi despojado do seu significado e dos seus lugares (com a sua carga social) para ser convertido num suporte do sistema económico (sem gente que o defenda). Incêndios, eucaliptizaçom, passeios marítimos, portos exteriores, megaminaria, contaminaçom fluvial, despovoaçom e aglomeraçons urbanas ou turistificaçom (entre outros) som mostras de um processo de decomposiçom.
Susténs que o capital espacial fixo necessário para transitar do sistema territorial tradicional ao moderno de forma equilibrada, e assim, poder-se conservar o mesmo grau de complexidade sociocultural do princípio, na Galiza, resultou reduzido a quase umha expressom estética alheia a qualquer vontade real do conjunto dos seus habitantes. No entanto, quais som as tuas expectativas face as galegas podermos chegar a conjugar, em projetos tam esperançosos como coerentes, a recuperaçom de um imaginário espacial de nosso, com a reapropriaçom material do nosso território?
O trabalho coletivo que temos por diante centra-se na construçom social de lugares. Recuperando a sua memória, mas, sem sermos nostálgicos, dotando-os de novos significados e usos. Penso que nesse senso devemos aprender as grandes liçons do feminismo (e da geografia feminista). Nomeadamente, a extrapolaçom dos cuidados e do sentimento empático que deve ser também aplicado ao espacial, quando assumimos umha postura de intervençom política (por exemplo, quando nos implicamos em como queremos que seja o bairro no que vivemos). De algum jeito, o tipo de pessoas que queremos ser será central para sabermos o lugar no que queremos viver.