As ruas de Compostela no domingo 21 de janeiro acolhiam a mobilizaçom mais numerosa dos últimos anos no país. A consigna Nunca Mais que situou a Galiza no mapa mundial há vinte anos voltava a ouvir-se na capital para recolher a raiva e a indignaçom pola gestom de umha nova catástrofe ambiental nas nossas costas.
As coincidências na gestom desta crise com a do Prestige gerida naquela altura por um PP com Manuel Fraga à frente fôrom o detonante da convocatória em que, como entom, o setor pesqueiro e as organizaçons ecologistas estám sendo as protagonistas. Isto depois de que a Xunta se demorasse mais de três semanas a atender os avisos das populaçons afetadas polos despejos de pellets e ativar o nível de alerta.
Como há vinte anos, as organizaçons convocantes denunciaram as mentiras e a ocultaçom como técnica empregada para tentar minimizar o desastre ambiental que pode ser chave para propiciar umha mudança de governo em Sam Caetano.
Durante semanas os trabalhos de retiraçom dos ‘pellets’ fôrom voluntárias convocadas por associaçons ecologistas sem nenhum tipo de meios, nem indicaçons de organismos públicos. Repetiu-se portanto a cena da gestom dos incêndios ou do chapapote
O governo da Xunta, esta vez com Alfonso Rueda à frente, volta a estar em jogo vinte anos após a chegada do chapapote à Galiza: nas últimas semanas os inquéritos fôrom mudando desde umha nova maioria absoluta para o PP até ser favoráveis a umha possível queda de um governo que leva quatro legislaturas consecutivas.
Como já acontecera em 2002, fôrom os coletivos na defesa do mar a encabeçar o percurso da movilizaçom para denunciar actuaçom das Consellerías do Mar e de Medio Ambiente desde a chegada dos primeiros pellets, vivendo com solidom a chegada de um novo despejo que incide diretamente nos seus postos de trabalho.
No manifesto conjunto lido numa praça do Obradoiro quase cheia, as organizaçons convocantes assinalavam a gestom da Xunta: “mais umha vez a Xunta minimiza o problema, ignora os dados científicos e nom resolve mais que com mentiras e incompetências” ao tempo que a responsabilizavam de falta de açom e criticavam “o fracasso dos sistemas operativos de segurança marinha, tanto de Salvamento Marítimo dependente do Estado como o Serviço de Guarda-costeira, dependente da Xunta”.
Também reclamárom coordenaçom e transparência à Xunta e ao Estado na retirada das sacas que ainda continuam no mar, bem como o fornecimento de meios para recolhê-los na costa, proteçom e contentores nas praias. Ainda solicitárom às instituiçons internacionais a declaraçom dos pellets como mercadoria perigosa, fundamental para lutar contra a contaminaçom que padecem as costas galegas.
Além disto, a mobilizaçom servia para alarmar sobre a perda de produtividade das rias, um problema acusado durante este ano que a Consellería do Mar nom está a abordar. Segundo as estimaçons, a Galiza este ano está a produzir 76% menos de berberecho e 65% menos de amêijoa.
O presidente da Plataforma en Defensa da Ría de Arousa (PDRA), Xocas Rubido, denuncia que “o marisqueio está em risco de desapariçom” e a “Xunta nom cumpre com as suas obrigas”.
Rogelio Santos, presidente da Plataforma en Defensa da Ría de Muros e Noia (PLADEMAR) também falou no ato para reivindicar a participaçom na esfera política da gente do mar: “assistir a umha manifestaçom é política e nom assistir também é politica”; pedia “umha mudança urgente no modelo pesqueiro e de cuidado ambiental”, seja quem for quem govene a Xunta nos próximos anos. O ativista, muito conhecido polo seu labor de divulgador em redes sociais, fora assinalado dias antes por setores próximos do PP pola sua falta de parcialidade por ser irmão da ex-secretária de organizaçom de Podemos na Galiza.
Santos também alçou a voz em concordância com as associaçons ambientalistas na importância “do saneamento das rias, do controlo do desembalse das barragens que está a matar o marisco e nas indemnizaçons ao setor pesqueiro e marisqueiro quando tem de parar a atividade”.
A cena política despregou-se em Compostela
A mobilizaçom serviu também para que as porta-vozes dos principais partidos políticos, nom só galegos ‑com a exceçom do PP‑, se somassem à convocatória ambientalista consciente de que a crise e a gestom do PP pode inclinar a balança do lado de um governo progressista, reeditando como já acontecera após o Prestige um bipartido , mas desta vez co BNG à fronte da presidência da Xunta.
As candidatas Ana Pontón (BNG), e Marta Lois (Sumar), a Ministra de Trabajo Yolanda Díaz, a candidata às eleiçons europeias Irene Montero e o candidato socialista José Ramón Gómez Besteiro alçavam a sua voz numha mensagem para criticar “as mentiras” a que foram expostas a cidadania galega desde a primeira chegada de pellets às nossas costas.
Falta de operatividade para gerir a contaminaçom
As redes sociais fôrom determinantes nesta ocasiom para denunciar a passividade da Xunta diante das chamadas de alerta das vizinhas, das trabalhadoras do mar e da associaçom Noia Limpa que indicavam a chegada dos primeiros microcorpos de plástico às costas do Barbança a 15 de dezembro. Eram parte da carga que o buque mercante CSAV Toconao perdera no 8 de dezembro perante as costas portuguesas. Desde o dia em que as autoridades portuguesas avisárom da catástrofe, nada aconteceu. Nem Xunta nem o governo central com competência sobre o mar ativárom um plano de contingência por contaminaçom marinha acidental ante a apariçom dos microplásticos.
“Os únicos voluntários que podiam falar na TVG eram os que levavam os coletes distribuidos pola ‘Consellería de Medio Ambiente’, os contratados pola ‘Xunta’”, expom Raquel Lema, presidenta do Comité Interempresas da CRTVG
Diversas entidades ecologistas como a Adega denunciavam em dezembro que “nenhum organismo estava a controlar os efeitos do despejo, detectar os pontos de contaminaçom e acotar as praias afetadas para proceder à retirada”. Durante semanas os trabalhos de retiraçom dos pellets fˆorom voluntárias convocadas por associaçons ecologistas sem nenhum tipo de meios, nem indicaçons de organismos públicos. Repetiu-se portanto a cena da gestom dos incêndios ou do chapapote. Yasmina García, técnica ambiental, denuncia que durante os primeiros dias as pessoas que acudiam de maneira voluntária nom sabiam como retirar os pellets porque nom havia pessoas expertas para dar explicaçons nem um protocolo de retirada: “reinou a desorganizaçom”. Segundo a ambientalista, “a gente acudiu maciçamente a chamamentos de entidades ou influencers, mas nestas açons pisou-se muito a areia, enterrando mais os pellets e alterando mesmo sistemas dunares, que som refúgio de distintos animais e o lugar onde criam”.
A Xunta e o governo central encetárom a açom a 4 de janeiro, 3 semanas após as denúncias, ante a chegada dos primeiros meios de comunicaçom a relatar o desastre e trás o cruze de acusaçons entre ambos por falta de operatividade, a Xunta anunciava o incremento da alerta a nível 2 que facultava a Administraçom central para enviar mais efetivos e recursos a limpar as praias galegas. Assim as estratégias de ambos os governos mudavam: da passividade ante o desastre, para copar o debate pré-eleitoral de todos os candidatos à Xunta.
A 17 de janeiro, umha investigaçom jornalística de Elena Martín, redatora também no Novas, Javier H. Rodriguez e Pablo Santiago para O Salto revelava que a Xunta contratou uma empresa de comunicaçom e marketing vinculada ao PP para a formaçom de pessoas voluntárias e limpeza das praias afetadas polo despejo. Trata-se da Silman 97 SL à qual diversas administraçons governadas polo PP tenhem adjudicado dúzias de contratos. O Salto filtrava uns áudios de Manuel Roca, conselheiro de umha empresa matriz, Noventia Corporación Empresarial, em que convida a fazer-se formadores de voluntariado a pessoas sem experiência.
Entretanto, a Adega denunciava ao governo galego por “plagiar” o seu protocolo de limpeza de praias em roda de imprensa. O seu presidente Roi Cuba indicou que no passado dia 18 estavam convocados para umha reuniom com a diretora-geral de voluntariado para organizar a limpeza e que esta foi cancelada de maneira inesperada. A organizaçom ecologista indica que a “Xunta prefere contratar gente afim sem experiência para limpar a sua imagem” em alusom à empresa Silman.
Meios públicos a reproduzir discurso do PP
Enquanto a imprensa espanhola punha o foco na Galiza e nas irregularidades da Xunta, os meios públicos galegos continuárom com o mandato da presidência, cientes de que Alfonso Rueda tem “muito em jogo nestas eleiçons”. Raquel Lema, presidenta do Comité de Interempresas da CRTVG assegura que a TVG participou da ocultaçom da existência do despejo. “Quando já estava nas redes e nom pudo ocultá-lo mais, os meios públicos reproduzírom o relato dado polo PP sem contrastar nenhum tipo de fonte. Aqui, deu-se umha consigna clara: nom se podiam dar imagens dos voluntários nem recolher declaraçons, os únicos voluntários que podiam falar eram os que levavam os coletes distribuidos pola Consellería de Medio Ambiente, os contratados pola Xunta”.
Lema denuncia que na Rádio e na TV públicas nom se deu voz a marinheiros, mariscadoras ou grupos ecologistas, continuando a fazer a “pré-campanha a Rueda”: “Na TVG foi apagado tudo o que indicasse que a administraçom competente permaneceu desparecida”. A jornalista reclama “o cesse do sequestro mediático da corporaçom para poder informar com rigor as galegas, que tenhem que ver cada dia como os informativos públicos contam o que fai Feijóo em Madrid e não a realidade galega”
Entretanto, a outra Galiza, a que tentavam apagar da CRTVG, era entrevistada e gravada em TVs espanholas como a La Sexta e meios escritos como o Público, o El Diario ou o El Salto assinalando a falta de transparência da Xunta. Elena Martín indica que na Galiza nom há um jornalismo crítico e com um discurso diferente do do PP, além dos mass media: “fazer um jornalismo de investigaçom como o que fizemos estes dias n’O Salto requer quase umha militância jornalística porque as que trabalhamos em meios independentes somos precárias, nom podemos dedicar os nossos dias a este trabalho porque, se nom, nem pagamos o aluguer nem comemos”. Denuncia aliás que na Galiza o jornalismo nom afim ao Partido Popular nom recebe subençons da Xunta, dinheiro a que deveriam ter acesso todos os meios: “O PP compra com subençons o La Voz de Galicia, o El Progreso, o La Región… a relatarem notícias random para nom pôr o foco na gestom da Xunta. O outro dia ocupava a capa de um destes jornais umha notícia de um menino que leu um monte de livros, isto enquanto as costas continuavam cheias de pellets” .
Tanto Lema como Martín citam como exemplo a mudança na perceçom do público sobre o antigo presidente da Xunta, Feijóo. “Na Galiza era um líder impecável porque só se transmitia a declaraçom editada e perfeita. Os seus deslizes, a falta de rigor, as mentiras… fôrom assinaladas polos meios espanhóis ao passar a ser candidato do PP à presidência espanhola e assim a gente pudo descobrir um outro Feijóo”, assegura Raquel Lema.
Ambas as jornalistas incidem na importância de poder desenvolver na Galiza e a partir da Galiza um jornalismo que relate com rigor a nossa realidade, chave para a criaçom de umha opiniom pública fundada.