A pesar das discretas precipitaçons na primavera, a situaçom dos recursos hidrológicos do país é melhor do que o ano passado. Nom se esperam, assim, episódios de seca este verao. Mas a meio prazo, a seca persistente exige toamr medidas sobre as infraestruturas e os consumos, advertem dos organismos que gerem a água na Galiza. O recurso nom deixa de diminuir.
“Sim, o clima está mudando, os episódios de seca som cada vez mais frequentes, duradeiros e intensos. No período 1980–2004 sofremos duas secas, no 89 e no 92. Mas no período 2004–2023 levamos já cinco, e cada vez duram mais e som mais intensas”, assinalam da Confederación Hidrográfica Miño-Sil (CHMS), um dos dous grandes organismos de bacia do país, o do sul, o dos grandes reservatórios de água, onde menos chove e as alertas chegam mais cedo.
“O ano passado, num desses pontos de controlo de aves na Límia que visito duas vezes ao ano desde há 22, vim algo que nom vira nem de longe anteriormente: um sítio que normalmente aparecia anegado de água, estava completamente seco”, conta Serafín González, o presidente da Sociedade Galega de Historia Natural.
O ano passado, no ano hidrológico que vai de outubro a setembro (2021–2022) aconteceu umha dessas secas severas. No 2016–2017 foi a anterior e, no passado, tivemos também secas no 2007–2008 e no 2004–2005.
O recurso da água diminui, a distribuçom das precipitaçons é cada vez mais irregular e os fenómenos extremos som mais comuns. Da CHMS informam do que está por vir segundo os conhecimentos atuais: “Sim, serám secas mais frequentes, de mais duraçom e mais intensas; reduzirám-se os recursos hídricos um 8,5% de aqui ao ano 2040, um 11% em 50 anos e um 20% menos a finais de século”.
O recurso da água diminuiu e a distribuiçom das precipitaçons é cada vez mais irregular. Da Confederaçom Hidrográfica Minho-Sil afirmam que as secas serám mais frequentes e intensas e que a finais de século os recursos hídricos reduzirám-se num 20%
Teresa Gutiérrez, diretora de Augas de Galiza, o organismo bacia Galiza-Norte e, também, parte da administraçom autonómica, situa-se no imediato: “No que vai de 2023 choveu mais no sul e na Marinha, mas choveu menos na área da Corunha. Nós estamos tendo problemas em Cecebre, que abastece Cambre, Culheredo, Oleiros, A Corunha e parte de Arteijo. Estamos preocupadas porque cresce a demanda. Por que? Haveria que perguntar-lho aos concelhos. No mês de junho nom parece que seja um crescimento estacional da populaçom. Temos, em geral, um problema de perdas na rede e sobre isso estamos atuando. Depois da seca do ano 2016–2017, figemos umha reflexom e apostamos por incentivar a planificaçom dos concelhos. A primeira convocatória de ajudas nom se completou. Havia certo medo nos concelhos a pôr-se a medir. Aquilo deu lugar à Lei de Garantía de Abastecemento. Agora estamos em disposiçom de multar aos concelhos que tenham um 20% de perdas, mas se tenhem planos de seca, esse dinheiro investe-se aí; o objetivo nom é cobrar, é desenvolver atuaçons necessárias.
O verao passado, em junho, já estava ativada a alerta por seca em determinadas áreas da CHMS. Foi um episódio severo da seca, com as precipitaçons um 40% por baixo do habitual, o segundo ano mais seco da série de arrancou no 2004. Registárom-se problemas de abastecimento em 112 municípios, a maioria deles na província de Ourense.
Para este verao as perspetivas som melhores. Nom se esperam alertas por seca, nem no norte (Augas de Galiza e Cantábrico Ocidental) nem no sul (CHMS e no anaco de território que depende da Demaracación Hidrográfica del Duero). Meteogaliza informa de umha primavera seca —as precipitaçons situarám-se um 24% no conjunto do país— mas precedida por um inverno húmido —um 36% por acima da meia—. A situaçom é de normalidade. Há mais água embalsada e os caudais estám um 18% por acima da meia histórica quando o ano passado estavan um 32% por baixo. Tudo indica que o ano hidrológico será húmido no seu conjunto”, indicam por parte da CHMS. No território de Augas de Galiza, as previsons som similares. “O acumulado móbil mensual situa as reservas na porcentagem 80, mui por acima de meia. Mesmo os caudais fluviais, que se medem nos últimos três meses, também indicam normalidade dentro de um ano por enriba da meia”, di a diretora do organismo.
“Se baixa a disponibilidade de água, se se constata que as precipitaçons estám a diminuir, se mesmo a forma de chover, a distribuçom das chuvas mudou… o que haveria que fazer é adaptar-se”, adverte Serafín González. “Há que reduzir o consumo. Nom pode ser, por exemplo, que a tarifa vaia em contra do aforro. Por deixar um exemplo claro: umha vivenda com duas pessoas pode abrir a bilha e derramar milhares de litros cada mês pagando o mesmo. Há que estabelecer consumos mínimos mais estritos e em funçom das pessoas registadas em cada vivenda. Isso, no tocante ao aforro”.
Serafín González, da Sociedade Galega de História Natural: “Há que reduzir o consumo. Nom pode ser, por exemplo, que a tarifa vaia em contra da poupança”
Quanto à gestom pública, González lembra que o ecologismo leva tempo reclamando mediadas mais sérias nos planos dos organismos de bacia. “Se um plano de seca contempla medidas em funçom do nível da seca. Por resumir: numha situaçom nomral, nom se fai nada. Nós pensamos que há que atuar doutra maneira. Na escala de seca leve, seca moderada, seca forte e seca muito forte; deveríamos aplicara as medidas previstas em cada momento já no nível anterior. Noutras palavras, adotar as medidas da seca moderada já quando nos topemos em situaçom de seca leve; as da seca forte, na moderada, e assim sucessivamente”.
Polo momento, no nível municipal, e tendo em conta a experiência do passado verao, a improvisaçom impóm-se sobre a planificaçom. A soluçom diante das dificuldades de abastecimento fôrom as perfuraçons de novos poços em núcleos rurais, os camions cisterna e os cortes pola noite. “Furar novos poços, ir buscar água mais funda, salva umha situaçom concreta, a nós; mas estamos a restar água aos ecossistemas. Isso nom é planificar. Os cortes noturnos, tampouco. Quando se corta pola noite o que se aforra nom é o consumo, senom a que se perderia por falhas nas infraestruturas durante essas horas”, assinala o presidente da Sociedade Galega de Historia Natural.
De Augas de Galiza, Teresa Gutiérrez insiste nos avances. “Estamos a fazer já auditorias de planos municipais, acompanhando-os no processo. Trata-se de saber onde se perde a água e onde há que atuar. O seguinte será abrir umha linha de ajudas para cofinanciar o desenvolvimento dos planos. Nalguns será questom de implantar contadores em captaçons e depóstivos; noutros, fazer novas captaçons ou novas distribuiçons. O fundamental, com certeza, é eliminar as perdas, por isso estabelecemos o rango do 20% para impor sançons, mas há concelhos com perdas do 50%, precisa. Informa também de que um terço dos concelhos de menos 20.000 habitantes do país, nom tenhem ainda planos de gestom de águas.
Estagnada a declaraçom da Límia como zona de águas vulneráveis
Em setembro do ano passado, com motivo da inauguraçom da Feira da Pataca, o conselheiro do Meio Rural, o ourensano José González, anunciou em Ginzo de Límia que nesse mês se apresentaria o Plan Estratéxico da Limia. Passou o tempo e o plano nem sequer se debateu no Parlamento galego. O texto devia dar resposta, entre outras quetons, à gestom das águas numha comarca com graves problemas de contaminaçom e um recurso submetido à pressom do agrogadeiro.
Meses antes, em maio, o Ministerio para la Transición Ecológica, publicava a atualizaçom do mapa de águas afetadas pola contaminaçon por nitratos. Pola primeira vez incluía vários pontos da Límia (também os primeiros no país) e obrigava à Junta da Galiza a iniciar o trâmite para a declaraçom da comarca como zona de águas vulneráveis pola contaminaçom antes de 3 anos diante da ameaça de sançons por parte de Europa. O procedimento, treze meses depois, ainda nom arrancou.
“O nosso trabalho é conseguir um bom estado das águas”, reconhece desde Augas de Galiza a sua diretora, Teresa Gutiérrez. “No nosso caso, também o principal problema é a contaminaçom. Temos muita mais populaçom, mas também temos problemas de contaminaçom difusa de origem agrícola e os reservatórios refletem esse problema. O controlo de vertidos é fundamental”.
No sul do país, quando a CHMS, organismo dependente do Ministério, promoveu a inclusom da Límia no mapa, deu por rematado o seu papel e passou a pataca quente à Junta.