Periódico galego de informaçom crítica

Abolir a precariedade, conquistar o futuro

por
Santiago Sierra

A mi­nha ge­ra­çom tem a pre­ca­ri­e­dade mar­cada no rostro.

Somos aque­las que de po­dermo-nos eman­ci­par pa­ga­mos alu­gue­res ex­ces­si­vos por vi­ven­das po­dres e car­co­mi­das, a quem ofe­re­cem tra­ba­lhos nom re­mu­ne­ra­dos ou que acei­tam choios a jor­nada com­pleta por me­nos de 700 eu­ros. As mes­mas que pa­ga­mos mi­lhei­ros de eu­ros para ace­der­mos a um mes­trado, as que mal vi­ve­mos com a bolsa de es­tu­dos e as tra­ba­lha­do­ras es­cla­vas que pro­duz a FP.

Às que lhes come a ver­go­nha cada vez que um re­vi­sor lhes rifa num com­boio ou au­to­carro por fa­zer ar­ma­di­lhas com o bi­lhete ou vi­a­jar sem ele. Somos as re­ta­li­a­das por be­ber na rua por­que nom nos po­de­mos per­mi­tir sair de festa e to­mar algo num bar.

As que vos po­nhem a cer­veja no bar e co­bram por fa­zer essa ex­tra, 50 eu­ros, em ne­gro. Aqueles e aque­las que vos pre­pa­ram o menu Big Mac no Burguer King e as que ser­vem o bu­fete li­vre no Muerde La Pasta. Os que res­pon­dem às vos­sas cha­ma­das e res­pon­dem “061 Boa tarde”, com o ser­viço ex­ter­na­li­zado. Aquelas que ar­ru­mam as pra­te­lei­ras dos es­ta­be­le­ci­men­tos Eco-Friendly, onde mer­ca­des os ali­men­tos or­gâ­ni­cos e de pro­du­çom sus­ten­tá­vel que nós nunca pro­va­re­mos. Somos a mai­o­ria de co­mer­ci­ais que to­cam na porta das vos­sas ca­sas e que choiam por co­mis­som, fa­zendo jor­na­das de oito ho­ras sem ter um sa­lá­rio assegurado.

No ve­rão tra­ba­lha­mos na ven­dima, de guias por três du­ros aten­dendo os gui­ris que ve­nhem às nos­sas ci­da­des e que dei­xam quan­ti­da­des in­gen­tes de di­nheiro que nom re­per­cu­tem no bem-es­tar e des­frute do co­le­tivo se­nom em be­ne­fí­cios para umhas pou­cas maos. Fazemos quin­ze­nas nos acam­pa­men­tos e ge­ri­mos o ócio das vos­sas cri­an­ças pou­pando o di­nheiro para sub­sis­tir no inverno.

Padecemos a taxa do 40% de paro juvenil na Galiza, a temporalidade, a inestabilidade laboral. O 35% da juventude galega encontra-se em níveis de pobreza e ainda atopando emprego sofremos vidas totalmente indecentes.


Compramos no Familia, por­que os ou­tros su­per­mer­ca­dos som de­ma­si­a­dos ca­ros. E quando fa­ze­mos a com­pra da se­mana pro­cu­ra­mos en­cher um bo­cado os bol­sos para re­du­zir o custe e po­der ir to­mar umha cer­veja. De ver a es­treia da­quele filme no ci­nema nem fa­le­mos, ainda bem que te­mos o Playmax. Quando que­re­mos ver-nos as ca­ras com as ami­gas de sem­pre, o pa­trom que se re­pro­duz é que fal­tam co­le­gas, exi­la­das em Londres e Berlim na pro­cura de opor­tu­ni­da­des que a nossa terra nos nega.

Se que­re­des iden­ti­fi­car-nos só ten­des que mi­rar as nos­sas olhei­ras, as nos­sas ca­ras con­su­mi­das polo can­saço e an­si­e­dade nas au­las da fa­cul­dade, nas bi­bli­o­te­cas, nos cen­tros de tra­ba­lho, no trans­porte pú­blico. A pre­ca­ri­e­dade con­some a nossa ener­gia, las­tra a etapa “mais fe­liz das nos­sas vi­das”, im­pede-nos vi­a­jar, in­de­pen­di­zar-nos do nosso nú­cleo fa­mi­liar, des­fru­tar da cul­tura todo o qui­gé­ra­mos, mer­car a edi­çom da­quele li­vro, ir ver aquela obra o te­a­tro ou o grupo que está na moda e toca numha sala da cidade.

Padecemos a taxa do 40% de paro ju­ve­nil na Galiza, a tem­po­ra­li­dade, a ines­ta­bi­li­dade la­bo­ral. O 35% da ju­ven­tude ga­lega en­con­tra-se em ní­veis de po­breza e ainda ato­pando em­prego so­fre­mos vi­das to­tal­mente in­de­cen­tes. Um de cada três as­sa­la­ri­a­dos ga­le­gos co­bra me­nos do sa­lá­rio mí­nimo sendo a per­cen­ta­gem mais alta en­tre as jo­vens. Acentuando-se todo isto nas mu­lhe­res tendo cen­tos de tei­tos de cris­tal que as freiam e co­brando me­nos do que os ho­mens polo mesmo choio, car­re­gando so­bre as suas cos­tas com a mai­o­ria do tra­ba­lho do­més­tico e de cuidados.

Vivemos enganadas. Desde crianças escuitamos que se estudávamos, se tínhamos um bom nível formativo, poderíamos ter um trabalho do que gostar e ter umha vida confortável. Mentírom.

Exige-se-nos adap­tar e con­for­mar as nos­sas ex­pec­ta­ti­vas vi­tais a um em­prego e vida ines­tá­veis. A nossa pre­ca­ri­za­çom im­plica umha perda de es­ta­tus so­cial, con­de­na­das a nom ter­mos um sa­lá­rio e em­prego assegurados.

Vivemos en­ga­na­das. Desde cri­an­ças es­cui­ta­mos que se es­tu­dá­va­mos, se tí­nha­mos um bom ní­vel for­ma­tivo, po­de­ría­mos ter um tra­ba­lho do que gos­tar e ter umha vida con­for­tá­vel. Mentírom. A es­cas­sez de con­ti­nui­dade la­bo­ral nega-nos umha iden­ti­dade pro­fis­si­o­nal, sendo-nos esta ar­re­ba­tada umha e ou­tra vez, ato­pa­mos tra­ba­lhos que nom te­nhem re­la­çom com a nossa for­ma­çom, ou com as nos­sas an­te­ri­o­res ex­pe­ri­ên­cias laborais.

A fór­mula com que nos ex­plo­ram é mais cruel e bár­bara do nor­mal. Devemos dei­xar a pele no choio, tra­ba­lhando fora das ho­ras e dias de tra­ba­lho re­mu­ne­ra­dos se o que­re­mos con­ser­var, para além de cen­tos de ho­ras de tempo nunca re­co­nhe­ci­das ou re­mu­ne­ra­das, de­di­ca­das a en­con­trar um oco neste sis­tema en­fermo e con­se­guir um tra­ba­lho. Fazendo cur­sos, co­brindo pa­péis bu­ro­crá­ti­cos, es­pe­rando co­las, pre­en­chendo im­pres­sos. Até a ETT nos chamar.

Temos me­nos di­rei­tos ci­vis, cul­tu­rais, po­lí­ti­cos e eco­nó­mi­cos, e a pró­pria des­tru­çom e des­com­po­si­çom do tra­ba­lho im­pede a cri­a­çom de umha iden­ti­dade co­mum e di­fi­culta a so­ci­a­li­za­çom en­tre nós. Essa so­ci­a­li­za­çom que nos per­mita en­con­trar-nos, de­ba­ter, e or­ga­ni­zar as nos­sas rein­vi­di­ca­çons na pro­cura da fe­li­ci­dade e de umha vida digna. Somos a pri­meira ge­ra­çom da his­tó­ria que foi per­dendo sis­te­ma­ti­ca­mente os di­rei­tos con­quis­ta­dos pre­vi­a­mente po­las ca­ma­das po­pu­la­res, li­mi­ta­das a vi­ver pior do que os nos­sos pais e nais.

A des­lo­ca­li­za­çom e a ter­ci­a­ri­za­çom da eco­nó­mica ga­lega des­tro­ça­ram a se­gu­rança para en­con­trar um es­paço no mundo la­bo­ral, a se­gu­rança de sa­ber-se ex­plo­ra­das mas es­tá­veis. A tem­po­ra­li­dade e a re­du­çom dos gran­des fo­cos que con­cen­tra­vam as as­sa­la­ri­a­das, ti­rou por terra os prin­cí­pios do sin­di­ca­lismo clás­sico, que nom se adapta à nova re­a­li­dade do pre­ca­ri­ado nem sabe ana­li­sar os nos­sos re­la­ci­o­na­men­tos com o ca­pi­tal. É ne­ces­sá­rio um grande tra­ba­lho de de­ba­tes, de co­nhe­ci­mento das nos­sas re­a­li­da­des, de iden­fi­ca­çom como parte do mesmo su­jeito de classe e de es­tru­tu­ra­çom e apro­fun­da­çom das luitas.

coco riot

A exi­gên­cia e a cri­a­çom de um dis­curso sin­di­cal que iden­ti­fi­que isto e cen­tre as re­cla­mas nom só, que tam­bém, na de­ro­ga­çom das re­for­mas la­bo­rais cau­san­tes da ines­ta­bi­li­dade do em­prego e da pri­ma­zia dos con­vé­nios de em­presa por acima dos sec­to­ri­ais e dos ter­ri­to­ri­ais que anu­lam a ne­go­ci­a­çom co­le­tiva como mé­todo de luita. Ademais disto cum­pre exi­gir à ad­mi­nis­tra­çom me­di­das com­pen­sa­tó­rias como a da Renda Básica que tras­la­dem umha mí­nima se­gu­rança para as nos­sas vidas.

 

Pese ao dis­curso de re­cu­pe­ra­çom que chega dos meios de co­mu­ni­ca­çom e por parte das ins­ti­tu­çons pú­bli­cas, a si­tu­a­çom la­bo­ral que afron­ta­mos as jo­vens na Galiza é umha das pi­o­res das úl­ti­mas dé­ca­das. Nom é ca­su­a­li­dade, é o fruto da perda de so­be­ra­nia eco­nó­mica e po­lí­tica que pa­de­ce­mos e res­pon­sa­bi­li­dade de um go­verno da Junta da Galiza que cum­pre o rol de sub­de­le­ga­çom do go­verno es­ta­tal na nossa co­mu­ni­dade au­tó­noma e que tra­ba­lha ao ser­viço dos in­te­res­ses es­pú­rios dos mer­ca­dos que com­pram e ven­dem a nossa força de trabalho.

O de­sem­prego con­ti­nua dis­pa­rado, a des­san­grar o fu­turo do nosso país e da classe tra­ba­lha­dora, a pre­ca­ri­e­dade im­pom-se como mí­nimo co­mum de­no­mi­na­dor da nossa ge­ra­çom na re­la­çom com o mundo da ex­plo­ra­çom la­bo­ral e mi­lha­res de nós vemo-nos obri­ga­das a mi­grar na pro­cura da su­per­vi­vên­cia, que nos ne­ga­mos de cha­mar mo­bi­li­dade ex­te­rior por­que é exilio.

Vivemos na chan­ta­gem en­tre o paro, a pre­ca­ri­e­dade ou o exí­lio. Marchamos da terra ou vol­ta­mos a casa dos nos­sos pais aban­do­nando a ideia de vi­ver independizadas.

Vivemos na chantagem entre o paro, a precariedade ou o exílio. Marchamos da terra ou voltamos a casa dos nossos pais abandonando a ideia de viver independizadas.

Ainda sendo vul­ne­rá­veis, so­mos o fu­turo que vam ter que es­cui­tar. E a pró­xima vez na má­quina de café da fa­cul­dade fa­la­re­mos com o com­pa­nheiro de au­las que mal vive com a bolsa, fu­mando o ci­garro na porta do choio co­men­ta­re­mos o pro­blema da sub­con­trata que nos pres­si­ona para as­si­nar­mos umha re­du­çom do con­trato ou fa­la­re­mos no trans­porte pú­blico com a ra­pa­riga à que lhe bo­tam a bronca por vi­a­jar sem bi­lhete. Através do mú­tuo re­co­nhe­ci­mento como parte de um todo, ca­na­li­zando as nos­sas po­ten­ci­a­li­da­des em es­pa­ços nos quais or­ga­ni­zar as nos­sas lui­tas em base à mul­ti­pli­ci­dade de po­si­çons cons­trui­re­mos e ma­te­ri­a­li­za­re­mos as pos­si­bi­li­da­des de ru­tura e de atin­gir vi­tó­rias, ti­rando por terra com o bi­nó­mio paro-precariedade.

Gerando dis­curso e cons­truindo os nos­sos pro­je­tos po­lí­ti­cos ar­re­dor da ne­ces­si­dade da cul­tura, da fe­li­ci­dade nas nos­sas quo­ti­di­a­ni­da­des, en­fren­tando a per­dida de di­rei­tos ci­vis à im­por­tân­cia de de­ci­dir ra­di­cal­mente so­bre o so­cial, so­bre o co­le­tivo, so­bre a eco­no­mia. Falar do di­reito como povo à eman­ci­pa­çom e a cons­truir um novo marco ju­rí­dico-po­lí­tico su­pe­ra­dor no qual des­tro­çar o tra­ba­lho as­sa­la­ri­ado que nos em­bru­tece e con­ta­mina as nos­sas vi­das à vez que en­che as con­tas ban­cá­rias das menos.

Estamos obri­ga­das a ca­na­li­zar a nossa ca­pa­ci­dade de ru­tura e su­pe­rar o es­tado atual das cou­sas já que so­mos a classe que nas­ceu para abo­lir-se a si própria.

Advertimos que que­re­mos o pam mas tam­bém as rosas.

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