A minha geraçom tem a precariedade marcada no rostro.
Somos aquelas que de podermo-nos emancipar pagamos alugueres excessivos por vivendas podres e carcomidas, a quem oferecem trabalhos nom remunerados ou que aceitam choios a jornada completa por menos de 700 euros. As mesmas que pagamos milheiros de euros para acedermos a um mestrado, as que mal vivemos com a bolsa de estudos e as trabalhadoras esclavas que produz a FP.
Às que lhes come a vergonha cada vez que um revisor lhes rifa num comboio ou autocarro por fazer armadilhas com o bilhete ou viajar sem ele. Somos as retaliadas por beber na rua porque nom nos podemos permitir sair de festa e tomar algo num bar.
As que vos ponhem a cerveja no bar e cobram por fazer essa extra, 50 euros, em negro. Aqueles e aquelas que vos preparam o menu Big Mac no Burguer King e as que servem o bufete livre no Muerde La Pasta. Os que respondem às vossas chamadas e respondem “061 Boa tarde”, com o serviço externalizado. Aquelas que arrumam as prateleiras dos estabelecimentos Eco-Friendly, onde mercades os alimentos orgânicos e de produçom sustentável que nós nunca provaremos. Somos a maioria de comerciais que tocam na porta das vossas casas e que choiam por comissom, fazendo jornadas de oito horas sem ter um salário assegurado.
No verão trabalhamos na vendima, de guias por três duros atendendo os guiris que venhem às nossas cidades e que deixam quantidades ingentes de dinheiro que nom repercutem no bem-estar e desfrute do coletivo senom em benefícios para umhas poucas maos. Fazemos quinzenas nos acampamentos e gerimos o ócio das vossas crianças poupando o dinheiro para subsistir no inverno.
Padecemos a taxa do 40% de paro juvenil na Galiza, a temporalidade, a inestabilidade laboral. O 35% da juventude galega encontra-se em níveis de pobreza e ainda atopando emprego sofremos vidas totalmente indecentes.
Compramos no Familia, porque os outros supermercados som demasiados caros. E quando fazemos a compra da semana procuramos encher um bocado os bolsos para reduzir o custe e poder ir tomar umha cerveja. De ver a estreia daquele filme no cinema nem falemos, ainda bem que temos o Playmax. Quando queremos ver-nos as caras com as amigas de sempre, o patrom que se reproduz é que faltam colegas, exiladas em Londres e Berlim na procura de oportunidades que a nossa terra nos nega.
Se queredes identificar-nos só tendes que mirar as nossas olheiras, as nossas caras consumidas polo cansaço e ansiedade nas aulas da faculdade, nas bibliotecas, nos centros de trabalho, no transporte público. A precariedade consome a nossa energia, lastra a etapa “mais feliz das nossas vidas”, impede-nos viajar, independizar-nos do nosso núcleo familiar, desfrutar da cultura todo o quigéramos, mercar a ediçom daquele livro, ir ver aquela obra o teatro ou o grupo que está na moda e toca numha sala da cidade.
Padecemos a taxa do 40% de paro juvenil na Galiza, a temporalidade, a inestabilidade laboral. O 35% da juventude galega encontra-se em níveis de pobreza e ainda atopando emprego sofremos vidas totalmente indecentes. Um de cada três assalariados galegos cobra menos do salário mínimo sendo a percentagem mais alta entre as jovens. Acentuando-se todo isto nas mulheres tendo centos de teitos de cristal que as freiam e cobrando menos do que os homens polo mesmo choio, carregando sobre as suas costas com a maioria do trabalho doméstico e de cuidados.
Vivemos enganadas. Desde crianças escuitamos que se estudávamos, se tínhamos um bom nível formativo, poderíamos ter um trabalho do que gostar e ter umha vida confortável. Mentírom.
Exige-se-nos adaptar e conformar as nossas expectativas vitais a um emprego e vida inestáveis. A nossa precarizaçom implica umha perda de estatus social, condenadas a nom termos um salário e emprego assegurados.
Vivemos enganadas. Desde crianças escuitamos que se estudávamos, se tínhamos um bom nível formativo, poderíamos ter um trabalho do que gostar e ter umha vida confortável. Mentírom. A escassez de continuidade laboral nega-nos umha identidade profissional, sendo-nos esta arrebatada umha e outra vez, atopamos trabalhos que nom tenhem relaçom com a nossa formaçom, ou com as nossas anteriores experiências laborais.
A fórmula com que nos exploram é mais cruel e bárbara do normal. Devemos deixar a pele no choio, trabalhando fora das horas e dias de trabalho remunerados se o queremos conservar, para além de centos de horas de tempo nunca reconhecidas ou remuneradas, dedicadas a encontrar um oco neste sistema enfermo e conseguir um trabalho. Fazendo cursos, cobrindo papéis burocráticos, esperando colas, preenchendo impressos. Até a ETT nos chamar.
Temos menos direitos civis, culturais, políticos e económicos, e a própria destruçom e descomposiçom do trabalho impede a criaçom de umha identidade comum e dificulta a socializaçom entre nós. Essa socializaçom que nos permita encontrar-nos, debater, e organizar as nossas reinvidicaçons na procura da felicidade e de umha vida digna. Somos a primeira geraçom da história que foi perdendo sistematicamente os direitos conquistados previamente polas camadas populares, limitadas a viver pior do que os nossos pais e nais.
A deslocalizaçom e a terciarizaçom da económica galega destroçaram a segurança para encontrar um espaço no mundo laboral, a segurança de saber-se exploradas mas estáveis. A temporalidade e a reduçom dos grandes focos que concentravam as assalariadas, tirou por terra os princípios do sindicalismo clássico, que nom se adapta à nova realidade do precariado nem sabe analisar os nossos relacionamentos com o capital. É necessário um grande trabalho de debates, de conhecimento das nossas realidades, de idenficaçom como parte do mesmo sujeito de classe e de estruturaçom e aprofundaçom das luitas.
A exigência e a criaçom de um discurso sindical que identifique isto e centre as reclamas nom só, que também, na derogaçom das reformas laborais causantes da inestabilidade do emprego e da primazia dos convénios de empresa por acima dos sectoriais e dos territoriais que anulam a negociaçom coletiva como método de luita. Ademais disto cumpre exigir à administraçom medidas compensatórias como a da Renda Básica que trasladem umha mínima segurança para as nossas vidas.
Pese ao discurso de recuperaçom que chega dos meios de comunicaçom e por parte das instituçons públicas, a situaçom laboral que afrontamos as jovens na Galiza é umha das piores das últimas décadas. Nom é casualidade, é o fruto da perda de soberania económica e política que padecemos e responsabilidade de um governo da Junta da Galiza que cumpre o rol de subdelegaçom do governo estatal na nossa comunidade autónoma e que trabalha ao serviço dos interesses espúrios dos mercados que compram e vendem a nossa força de trabalho.
O desemprego continua disparado, a dessangrar o futuro do nosso país e da classe trabalhadora, a precariedade impom-se como mínimo comum denominador da nossa geraçom na relaçom com o mundo da exploraçom laboral e milhares de nós vemo-nos obrigadas a migrar na procura da supervivência, que nos negamos de chamar mobilidade exterior porque é exilio.
Vivemos na chantagem entre o paro, a precariedade ou o exílio. Marchamos da terra ou voltamos a casa dos nossos pais abandonando a ideia de viver independizadas.
Vivemos na chantagem entre o paro, a precariedade ou o exílio. Marchamos da terra ou voltamos a casa dos nossos pais abandonando a ideia de viver independizadas.
Ainda sendo vulneráveis, somos o futuro que vam ter que escuitar. E a próxima vez na máquina de café da faculdade falaremos com o companheiro de aulas que mal vive com a bolsa, fumando o cigarro na porta do choio comentaremos o problema da subcontrata que nos pressiona para assinarmos umha reduçom do contrato ou falaremos no transporte público com a rapariga à que lhe botam a bronca por viajar sem bilhete. Através do mútuo reconhecimento como parte de um todo, canalizando as nossas potencialidades em espaços nos quais organizar as nossas luitas em base à multiplicidade de posiçons construiremos e materializaremos as possibilidades de rutura e de atingir vitórias, tirando por terra com o binómio paro-precariedade.
Gerando discurso e construindo os nossos projetos políticos arredor da necessidade da cultura, da felicidade nas nossas quotidianidades, enfrentando a perdida de direitos civis à importância de decidir radicalmente sobre o social, sobre o coletivo, sobre a economia. Falar do direito como povo à emancipaçom e a construir um novo marco jurídico-político superador no qual destroçar o trabalho assalariado que nos embrutece e contamina as nossas vidas à vez que enche as contas bancárias das menos.
Estamos obrigadas a canalizar a nossa capacidade de rutura e superar o estado atual das cousas já que somos a classe que nasceu para abolir-se a si própria.
Advertimos que queremos o pam mas também as rosas.