Na sua assembleia nacional de setembro, o Movimento Galego ao Socialismo (MGS) anunciava o início de um processo para a criaçom de umha nova organizaçom política cujo objetivo será reforçar o espaço independentista, socialista e feminista no soberanismo. Esta decisom vinha precedida de umha série de debates polo país arredor dos desafios futuros do soberanismo. O novo processo foi batizado como ‘Somarmos forças pola ruptura’ e está a organizar encontros abertos polas comarcas do país. Porém, o desenvolvimento desta fase está a ver-se afetada polas restriçons relacionadas com a pandemia da Covid19.
O que notastes nesses encontros que conseguírom realizar-se?
Estamos notando um importante acolhimento, tanto no qualitativo, como no quantitativo. Há achegamento de pessoas do BNG e da CIG, que som as nossas referências no sindical e na estrutura política, mas também alheias a elas e que se venhem achegando a este processo. Acho que umha das cousas mais positivas deste é a geraçom de espaços de debate que a dia de hoje quase nom existem no conjunto do nacionalismo. Já nos apercebêramos no desenvolvimento de umha série de jornadas abertas em diferentes regions do país no último trimestre de 2019, e que culminárom no passado mês de janeiro com umhas jornadas nacionais. Essa geraçom de pontos de encontro e de debate entre pessoas que participam de diversos ámbitos de atuaçom, tanto no social como no político, é umha das cousas que podemos colocar como um dos pontos mais significativos.
Nessas jornadas abertas que mais necessidades detetastes no campo soberanista?
Se nos isolamos de organizaçons das que podamos participar, como é no nosso caso o BNG, há um processo que semelha que é de permanente reconstruçom, com diferentes propostas e alternativas. De algumha maneira transladou-se neste processo a necessidade de espaços em que podamos debater e construir esse processo. Depois, fundamentalmente, a necessidade de recuperar a militância e criar estrutura social.
O que vos levou ao MGS dar um passo atrás e rematar umha etapa?
Mais do que um passo atrás, consideramo-lo como um passo adiante. Chegar a conclusom de que é necessário construir umha nova ferramenta política nom é negativo e fazemo-lo para alargar o espaço político que vimos ocupando. Somos umha organizaçom que foi determinante no devir do BNG após a Assembleia Nacional de Ámio, mas é certo que os momentos fôrom mudando. A dinámica de participaçom organizativa é umha das mudanças que constatamos, e entendemos que nom nos acontece só a nós.
“Umha das cousas positivas deste processo é a geraçom de espaços de debate, que eram quase inexistentes no conjunto do nacionalismo”
Achamos que socialmente a participaçom e a organizaçom militante como a conheciamos está a perder-se e ao lado disso há umha forte dependência das redes sociais. Passamos de organizar-nos de un jeito físico a organizar-nos de jeito virtual, com os seus prós e contras. Acho que a utilizaçom das redes sociais deve partir de premissas em base às quais essas redes sejam úteis para nós e nom à inversa. Um exemplo que acho que é claro para identificar isto é o surgimento e o devir da organizaçom política que pretendeu ser o núcleo organizativo da esquerda e que estivo jogando no nosso país com o soberanismo desde 2012 até a atualidade. Foi um tipo de organizaçom que se centrou nas redes e nom em estabelecer estruturas sociais, ficando dependentes portanto do que o poder determinasse em cada momento. Também no nacionalismo dos primeiros 2000, com o que se deu em chamar ‘quintanismo’, houvo umha perda de perspetiva. Nom se quijo estruturar a sociedade e passou-se a depender, por exemplo, dos meios de comunicaçom.
Sobre a crise de valores militantes que apontas, que comportamentos novos percebedes na militância e como achades que tem que ser um modelo organizativo flexível?
Além de constatar essa flexibilizaçom da militância, há outro problema, tanto para nós como para qualquer organizaçom. Às vezes tende-se a organizar o trabalho contando com que pode haver uns mil militantes, mas depois na prática nom existem esses mil militantes senom que talvez tenhas cem militantes, alguns centos de quotizantes e outros centos de simpatizantes. E se desenhas trabalho para mil e o tenhem que fazer cem, podes cair no simples voluntarismo, que a longo prazo pode provocar o “queime” das pessoas. Pode acabar por gerar frustraçons e nom é esse o caminho que se pretende seguir, mas todo o contrário. A conclusom a que chegamos é a de colocar em riba mesa um modelo organizativo mais acaído, por um lado, para adaptar o nosso desenho do trabalho organizativo às pessoas comprometidas como militantes e, ao mesmo tempo, contar com aquelas que num momento determinado nom estám em disposiçom de militar mas sim de contribuir e de colaborar. Estabelecemos níveis de compromisso, mas tampouco som níveis estanques. Naturalmente, a nossa aposta é construir e criar militantes, nom é relaxar a militância ainda que podamos compreender essas situaçons numha sociedade como esta.
Apostades numha unidade de açom em base a objetivos comuns, com referencialidade para o BNG, a CIG e os movimentos sociais. Como ideades que tem que ser?
Para nós, o BNG continua sendo a estrutura de participaçom política e de articulaçom do soberanismo. Por outro lado, consideramos a CIG como referência sindical. E conjuntamente com isto, está a participaçom de diferentes movimentos sociais. Neste sentido falamos de feminismo, de mocidade, do ativismo nos centros sociais… Desde essa participaçom, queremos colocar acima da mesa a interlocuçom que já vimos exercendo e estabelecendo, além da nossa participaçom no BNG, com organizaçons que nom estám no BNG ou na CIG, ou que participam em movimentos sociais onde coincidem também com a nossa militância.
Achades que independentistas que nom tenhem o BNG como referência podem sentir-se distantes a participar deste processo?
Nom devera significar isso, mas entendo que podam existir ressentimento. Porém, o MGS formou sempre parte do BNG e com a nossa praxe política temos demonstrado que dentro dele se pode exercer de independentista e se pode exercer de socialista. É complexo e complicado, sim, pois a maioria do BNG por definiçom nom se move no independentismo. Ainda assim, acho que é perfeitamente palpável o que foi a evoluçom do BNG desde Ámio até a atualidade. O que pretendemos em todo o caso é afortalar justamente as posiçons independentista e socialista.
“Pretendemos afortalar as posiçons independentista e socialista”
Porque achades importante afortalar essas posiçons?
Com a crise económica de 2008 e também com a crise atual que mistura o social, o sanitário e o económico, está a evidenciar-se o papel do capitalismo e a necessidade de romper. Por isso, o lema de ruptura. É romper com o regime do 78 mas também com um sistema capitalista que continua resolvendo cada crise com umha maior acumulaçom de riqueza em menos maos. E a Covid19 o expom mais claramente do que nunca. Nom se dota dos recursos necessários para combater a pandemia senom que se aproveita esta situaçom para fins de acumulaçom de riqueza.
Já por outra banda, na sequência das últimas eleiçons galegas, estamos a avaliar a necessidade de organizar o número de votos que tivo o nacionalismo. Para nós seria um absoluto erro que nom aproveitássemos o tempo para consolidar o voto que apoiou o BNG no mês de julho e que pensemos que simplesmente com depositar umha papeleta na urna está todo feito. Há muitíssima consciência que contribuir para fazer avançar e essa é umha das tarefas fundamentais.