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I‑le-gal

por
co­mu­ni­dade de mon­tes de tameiga

A afouteza da vizinhança comuneira de Tameiga pom em xeque o espólio dos montes comunais promovido polo presidente do Celta e o Partido Popular. 

I‑le-gal. É a pa­la­vra que ecoa na ca­beça da vi­zi­nhança co­mu­neira de Tameiga, de­pois de o Tribunal Superior de Justiça da Galiza ter pro­fe­rido, há ape­nas um mês, sen­tença firme que de­cla­rava ile­gal a cons­tru­çom da ci­dade des­por­tiva do Celta em mon­tes co­mu­nais de Mos. 

Um ob­ser­va­dor, des­co­nhe­ce­dor da teia de ara­nha dos in­te­res­ses po­lí­ti­cos e lu­cra­ti­vos, pen­sa­ria que, com esta de­ci­som da jus­tiça, acabe o boom do de­sen­vol­vi­mento ur­bano nos bal­dios de Mos. Nada mais longe da re­a­li­dade, os pro­mo­to­res deste de­lí­rio já fô­rom ao en­con­tro da pro­mul­ga­çom da sen­tença, anun­ci­ando que já ti­nham umha ar­ti­ma­nha le­gis­la­tiva para fu­gir à lei. 

Os pro­mo­to­res deste aten­tado am­bi­en­tal anun­ciá­rom, há mais de cinco anos, os seus pla­nos como facto con­su­mado: nom con­ta­vam com a “in­so­lên­cia” das vi­zi­nhas de Tameiga

A pre­si­dente da Câmara de Mos, Nidia Arévalo, do Partido Popular, sem o me­nor ar­re­pen­di­mento por pro­mo­ver umha cons­tru­çom que nom está em con­for­mi­dade com as li­cen­ças, or­gu­lha-se de le­ga­li­zar à força a en­ge­nhoca ce­leste, con­ce­dendo-lhe co­ber­tura ur­ba­nís­tica, após a sua cons­tru­çom, atra­vés da tra­mi­ta­çom ex­pressa de um Plano Desportivo Especial. 

Simultaneamente, e com o Partido Popular como de­no­mi­na­dor co­mum, o pre­si­dente do Celta, Carlos Mouriño, trouxe à luz do dia um novo pro­jeto, Galicia Sport 360, para ga­nhar o fa­vor da Junta da Galiza, atra­vés de umha de­cla­ra­çom de in­te­resse au­to­nó­mico no pro­jeto, sob o pre­texto de con­tor­nar a le­gis­la­çom de pro­te­çom ambiental. 

O Governo da Xunta nom tem qual­quer es­crú­pulo em de­cla­rar de in­te­resse re­gi­o­nal um pro­jeto de­cla­rado ile­gal de acordo com um acór­dão fi­nal do Tribunal de Justiça. Nem um traço de de­cên­cia de­mo­crá­tica, quando os in­te­res­ses eco­nó­mi­cos e po­lí­ti­cos do Partido Popular som os que mais pe­sam na balança. 

O novo pro­jeto re­duz a ex­ten­som da flo­resta co­mu­nal a ex­pro­piar, mas man­tém toda a gra­vi­dade do efeito so­bre as nas­cen­tes do abas­te­ci­mento de água, a par­tir das quais é for­ne­cida água po­tá­vel a mais de duas mil ca­sas em Mos

As co­mu­ni­da­des flo­res­tais, a sua pro­pri­e­dade vi­ci­nal in­trans­mis­sí­vel e a sua ges­tom em as­sem­bleia cons­ti­tuem um obs­tá­culo à von­tade de pri­va­ti­za­çom da Galiza por parte do go­verno da Xunta. O caso do monte vi­ci­nal de Tameiga é o mais co­nhe­cido, mas nom o único. O Partido Popular está a li­de­rar umha nova vaga de açons agres­si­vas para rou­bar a flo­resta lo­cal e en­tregá-la gra­tui­ta­mente ao sec­tor empresarial. 

O pro­jeto mo­di­fi­cado, que pas­sou a cha­mar-se “fac­to­ría do de­porte”, in­te­gra agora a parte co­mer­cial na zona des­por­tiva para jus­ti­fi­car a ex­pro­pri­a­çom de ter­re­nos flo­res­tais es­pe­ci­al­mente pro­te­gi­dos com base num maior in­te­resse des­por­tivo, re­clas­si­fi­cando-os em se­guida como uso ter­ciá­rio e en­tre­gando-os ao Sr. Mouriño para seu be­ne­fí­cio pessoal. 

Habituados a atuar im­pu­ne­mente, os pro­mo­to­res deste aten­tado am­bi­en­tal anun­ciá­rom, há mais de cinco anos, os seus pla­nos como um facto con­su­mado. Nom con­ta­vam com a “in­so­lên­cia” dos vi­zi­nhos de Tameiga. Vizinhos que, re­cu­sando-se a ser tra­ta­dos como sim­ples súb­di­tos, se uni­ram con­tra a ex­pro­pri­a­çom das suas ter­ras e nas­cen­tes comunitárias. 

A rede co­mu­nal de abas­te­ci­mento de água e a Comunidade dos Montes de Tameiga uní­rom-se na pla­ta­forma “A água é vida” para de­fen­der o bem co­mum. Fôrom seis lon­gos anos de mo­bi­li­za­çom inin­ter­rupta de vi­zi­nhos que fi­gé­rom sa­cri­fí­cios para man­ter a sua mon­ta­nha e a sua água intatas. 

co­mu­ni­dade de mon­tes de tameiga

No pri­meiro pro­jeto, o Celta con­tava com umha área se­pa­rada da área des­por­tiva para de­sen­vol­ver a parte co­mer­cial. Esse de­lí­rio de as­fal­tar a mon­ta­nha nom teve os re­la­tó­rios obri­ga­tó­rios fa­vo­rá­veis ao go­verno lo­cal do Partido Popular para com­ple­tar umha mo­di­fi­ca­çom es­pe­cí­fica do PGOM que da­ria co­ber­tura le­gal à ope­ra­çom de de­sen­vol­vi­mento ur­bano. Um pro­jeto para já pa­rado por falta de um go­verno “amigo” em Madrid. 

O novo pro­jeto re­duz, à par­tida, a ex­ten­som da flo­resta co­mu­nal a ex­pro­priar, mas man­tém em toda a sua gra­vi­dade o efeito so­bre as nas­cen­tes do abas­te­ci­mento de água, a par­tir das quais é for­ne­cida água po­tá­vel a mais de duas mil ca­sas em Mos. 

O go­verno mu­ni­ci­pal de Mos pom em risco a água de to­das es­tas fa­mí­lias sem ter umha al­ter­na­tiva de abas­te­ci­mento. Toda a sua ar­gu­men­ta­çom se re­sume ao ne­ga­ci­o­nismo, à ne­ga­çom da ve­ra­ci­dade dos re­la­tó­rios hi­dro­ló­gi­cos, à ne­ga­çom de que o as­fal­ta­mento de todo o topo de umha mon­ta­nha nom im­pe­dirá que a chuva pe­ne­tre na terra e re­car­re­gue os aquíferos. 

Após a ten­ta­tiva fra­cas­sada de com­prar com li­cença so­cial ape­lando para o sen­ti­mento ce­leste, o pro­jeto re­no­vado vem car­re­gado de mar­ke­ting. “Universidade do de­porte”, “Investigación mé­dica”, “fac­to­ría do de­porte”, “fu­turo sos­ti­ble”… e um longo etc. de pa­la­vras que com­po­nhem o ar­se­nal de fra­ses gran­di­lo­quen­tes com que ten­tam es­con­der a des­trui­çom am­bi­en­tal e so­cial que este pro­jeto teria. 

Mas, o que é isso do 360? Na ver­tente des­por­tiva, prevê a cons­tru­çom de um es­tá­dio para 20 000 es­pe­ta­do­res e do com­plexo de treino já cons­truído (a cha­mada ci­dade des­por­tiva). O resto do pro­jeto é pu­ra­mente es­pe­cu­la­tivo, com­prando o ter­reno a um preço rús­tico, rezoneando‑o e revendendo‑o a ter­cei­ros da in­dús­tria do lazer. 

O go­verno mu­ni­ci­pal de Mos nom ofe­rece umha al­ter­na­tiva de abas­te­ci­mento para as fa­mí­lias e in­siste em ne­gar a ve­ra­ci­dade dos re­la­tó­rios hidrológicos

Um pro­jeto to­tal­mente su­pér­fluo em re­la­çom às ne­ces­si­da­des da po­pu­la­ção de Mos, mas tam­bém às ne­ces­si­da­des pu­ra­mente des­por­ti­vas do clube de fu­te­bol de Vigo. O Celta de Vigo tem em usu­fruto o es­tá­dio mu­ni­ci­pal de Balaídos para a equipa prin­ci­pal e o campo de fu­te­bol do Barreiro para a equipa B. 

Entom, qual é a ne­ces­si­dade de ar­ra­sar os bal­dios de Tameiga para cons­truir ou­tro es­tá­dio? A ope­ra­çom nom co­bre ne­nhuma das ca­rên­cias do clube, serve ape­nas para sa­tis­fa­zer a co­biça do Sr. Mouriño e de umha ca­ma­ri­lha de po­lí­ti­cos do Partido Popular. 

O des­prezo dos sa­que­a­do­res pelo pa­tri­mó­nio co­mum é tal que, na cons­tru­çom da ci­dade des­por­tiva, nom he­si­tá­rom em pas­sar com bull­do­zers por cima de um sí­tio único que re­monta à Idade do Bronze. A História nunca teve H maiús­cula para es­tes pre­da­do­res, que nom res­pei­tam nada mais do que a sua conta de resultados. 

Todo o bem co­mum acaba sob o rolo com­pres­sor do “pro­gresso”, aquilo a que cha­mam pro­gresso e que acaba sem­pre nos bol­sos de al­guns, em de­tri­mento da grande maioria. 

Mas, por ve­zes, esta mai­o­ria junta-se, or­ga­niza-se e diz basta! Em Tameiga, os vi­zi­nhos som cla­ros: a flo­resta nom está à venda. 

Nom pas­sa­rám! 

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