Ultimamente sucedérom-se as polémicas arredor das políticas culturais do Concelho de Ourense. Pessoas do tecido cultural da cidade aparecérom em La Región a queixarem-se de que a conhecida como a “Atenas galega” ficasse em pouco tempo sem o Outono Fotográfico, sem Banda de Música, com o Museu Arqueológico Provincial fechado e tivesse problemas com as livrarias ou o Festival Internacional de Teatro. O conflito mais forte foi o do OUFF, o Festival Internacional de Cinema, com a demissom do diretor artístico Fram Gayo depois de negar-lhe, o Concelho, a possibilidade de contar com a sua equipa, e com a cancelaçom da ediçom de 2018.
Muitas personalidades do cinema e mais o Cineclube Padre Feijó apoiárom Gayo nos seus comunicados, com o do Cineclube pedindo a demissom da Concelheira de Cultura, Belén Iglesias. Isso mesmo fijo a oposiçom, com a exceçom de Gonzalo Pérez Jácome, de Democracia Ourensana, que pedia diretamente a supressom dum evento “que tira apenas o 1% do seu custo”, ademais de pedir umha condecoraçom para a concelheira por conseguir em poucos meses o que o seu partido nom lograra em anos: algo que podemos definir como “cargar-se os chiringuitos”. Poderia ser umha visom popular em Ourense?
Estes debates tendem a fechar-se em falso. Se olhamos para um conflito como este de perto, podemos ver um exemplo evidente de má gestom pública. Se olhamos dum pouco mais longe, podemos ver um exemplo da má adequaçom das leis à realidade do trabalho cultural. E, caso olharmos ainda de mais longe, temos a Jácome, no seu pensamento puramente liberal, formulando indiretamente umha questom relevante. Umha questom que coloniza as nossas cabeças: a que projetos culturais devem destinar dinheiro as administraçons?
Coloniza porque impede a pergunta necessária: Podemos pensar a cultura (e as políticas culturais) à margem do dinheiro? É imprescindível opor-se a um pensamento que valora a cultura em termos económicos. Mas é necessário lembrar que essa valoraçom nom só está presente no discurso de alguém que, como Jácome, liga cultura a rendibilidade. Está também na centralidade da industria e o profissionalismo nas políticas culturais. Enquanto o debate sobre elas gire arredor de investimento, postos de trabalho e consumo, estaremos a tratar a cidadania como umha entidade passiva à que há que entreter, ou educar, como se os concelhos e as pessoas (ou a cultura e o público) tivessem de ir por separado. Neste contexto, o apoio a projetos nom rendíveis (que costumam ser os minoritários) terá sempre o sesgo arbitrário dumha elite que decide a cultura que as pessoas necessitam. Fai-no em base a uns valores comunitários? Só no melhor dos casos (e o OUFF poderia ser um). Mas essa cultura criada em base a valores comunitários fai-na principalmente a própria cidadania, que cria e participa em muitas formas e espaços, marginados numhas políticas que giram arredor dos eventos e nom da criaçom de equipamentos, ferramentas e facilidades legais. Se calhar havia que dar-lhe umha volta e fazer que as políticas culturais tivessem como centro as agrupaçons desportivas, os coletivos culturais ou as bibliotecas. Fazer que falasse menos em dinheiro e legalidade e mais em cultura de abaixo, livre e até descontrolada.