Por mais que mudem os tempos e a tecnologia avance, o espírito de criaçom de espaços coletivos de reflexom permanece nas formas de fazer rádios independentes. O seu lar é o ar. Nasceu para ser livre, e por mais que tentem domesticá-la, a rádio sempre encontra maneiras de escapar à hegemonia, para sobreviver ao passar do tempo. Nem tem umha forma definida. Como se fosse um animal selvagem, ela metamorfoseia-se, evolui. Seja por ondas eletromagnéticas ou pola interconexom wireless da internet. De um estúdio de gravaçom ou de umha adega no lugar mais inesperado, ao vivo ou em forma de gravaçom, trabalhada sozinha ou coletivamente, a rádio é um meio intrínseco de resistência, do público. Umha ferramenta de oposiçom, de luta social, de liberdade de expressom.
Na Galiza, tanto as chamadas rádios livres como as rádios comunitárias nasceram da procura de uma abordagem contra-hegemónica da informaçom. Essa foi e continua um dos princípios fundamentais dos mais veteranos projetos de rádios livres e de maior impacto no nosso país, como a Rádio Piratona (Vigo), com umha primeira emissom que data do ano 1988, mas também a Rádio Kalimera (Santiago), FilispiM (Ferrol) ou CuacFM (A Coruña). Todos elas a operarem fora do sistema capitalista neoliberal, longe dos subsídios das grandes empresas e dos interesses das grandes emissoras.
Essa independência que viabilizou os projetos de informaçom contra-hegemónicos, por sua vez, fijo com que o meio nom ficasse exclusivamente nas maos de profissionais e, portanto, que a rádio se democratizasse de forma que qualquer pessoa que nom estivesse representada noutros meios pudesse ter acesso à produçom.
As rádios livres e comunitárias nasceram da procura de uma abordagem contra-hegemónica da informaçom
Eva Gil, co-criadora do programa “A resistência do dedo médio” que apareceu pola primeira vez na programaçom da Radio Piratona , destaca que «a contrainformaçom é muito importante na própria definiçom de rádio livre, porque, no fundo, é umha forma de poder aceder informações que nom são veiculadas polos massmedia, mas nom só. O que oferece a rádio livre é umha outra forma de entender a comunicaçom, de entender o desenvolvimento dos programas, que tem a ver com a horizontalidade e tudo o que isso acarreta: a forma como está organizada significa que há conteúdos muito diversos”.
Versátil
Em 2005, a história da rádio na Galiza começaria a mudar com o aparecimento do plan Galicia de Mariano Grueiro, considerado por Uxio Broullón como o primeiro podcast em galego. Nos quatro anos seguintes, os programas começárom a proliferar e expandir o paradigma de como produzir rádios independentes. De repente, a natureza clandestina das rádios livres deu umha viragem de 180 graus, tanto por causa da nova capacidade de acesso pela Internet, quanto polo simples fato de os programas nom serem mais transmitidos ao vivo, mas agora gravados e disponibilizados. Sobre as implicaçons desta mudança na conceçom dos programas de rádio, Broullón, cofundador do diretório de podcasts galegos, PodGalego, menciona: “As rádios livres trabalhavam um pouco a partir do underground e da contracultura. Os podcasts vám um pouco na direçom oposta: o que se busca é ter mais impacto. Acho que os rádios livres também, só que o alcance que elas tinham era reduzido porque só emitiam através das ondas e a antena chegava onde chegava. Agora podes chegar a qualquer lugar do mundo. Acho que aí mudou: quanto mais visível seja, melhor”.
Nesse sentido, para Juan Arias, da Rádio Kalimera, os podcasts representavam “umha mudança de paradigma quase total. As audiências convencionais da rádio há muito tempo estám estáticas e a diminuírem, enquanto os podcasts e a “rádio sob demanda” tenhem crescido muito nos últimos anos. As pessoas preferem ter os seus programas de referência e ouvi-los quando e como quiserem. É aí que mais se trabalha atualmente na Kalimera: produzir programas independentes em que todos falam sobre o que querem e deixam o conteúdo disponível na plataforma que desejam, com total liberdade de criaçom e distribuiçom.
Esta transformaçom traz ainda umha grande mudança em termos de produçom, pois facilita e democratiza ainda mais a criaçom radiofónica. Para Eva Gil, cujo programa passou da rádio ao podcast, as mudanças significárom mais autonomia e liberdade na organizaçom e na confeçom do próprio programa. “Acima de tudo, mudou a técnica da rádio. De ter de estar pendente de umha antena e precisar de alguém para controlar os aparelhos para poder transmitir, hoje basta estares tu sozinha e um computador. Decidimos sair da rádio e passar para o podcast porque temos muita mais flexibilidade e facilidade para poder desenvolver um programa sem nos vermos acoutadas a um horário ou local específicos».
No entanto, rádios livres e podcasts som duas formas de trabalhar o meio radiofônico que nom som exclusivas. Antes bem, som meios que caminham em paralelo. Claro: o que permanece intacto nos dous modos de produçom é a intençom de criar um conteúdo que nom costuma ser tratado polos grandes meios de comunicaçom, fugir aos subsídios e interesses empresariais, ter uma agenda própria.
Sempiterna
A evoluçom contínua do trabalho da rádio é o que lhe permite continuar a ser um meio de comunicaçom de grande procura. “Eentendemos que existe demanda porque se nom, nom haveria tanta produçom. Acho que hoje ouvem-se muitos mais podcasts, mas acho que é porque há umha mudança na maneira como entendemos a comunicaçom social. Agora podes ver tudo via streaming ”, salienta Eva Gil.
O que permanece intacto nas rádios livres e nos ‘podcast’ é a intençom de criar um conteúdo que nom costuma ser tratado polos grandes meios de comunicaçom, fugir aos subsídios e interesses empresariais, ter umha agenda própria
Da mesma forma, para Uxío Broullón é claro para onde vai o futuro do meio: “Agora o que está na moda é o transmédia: os podcasts também som transmitidos via Twitch e carregados no Youtube, porque gravam muitos deles em vídeo, via Zoom. E além de enviar o vídeo, sobe-se apenas o som. Há cada vez mais transmédia que, por sua vez, se conjuga com as diferentes redes sociais. Está a se tentar chegar a mais pessoas de tantos lugares quanto possível, algo que antes nom poderia ser feito antes».
Eva Gil termina destacando a eterna natureza transformadora dos meios livres: “No final, fazer umha rádio ou podcast responde à necessidade que temos de nos comunicar, de falarmos sobre o que consideramos importante, o que acreditamos que deve mudar, para fazermos chegar as nossas ideias . Conecta com aquela que é a nossa parte mais ideológica, mais política. Portanto, o futuro estará lá. A ferramenta que utilizarmos, como tudo, muda. O que importa nom som as ferramentas, ou se a informaçom passa por ondas ou WiFi, mas o que queremos comunicar. A cousa boa em fazer isso dos meios livres é que podemos comunicar aquilo que pensamos ser importante e que pode melhorar as nossas vidas e sociedades; nom é tanto como o figermos».