Os dias transcorridos entre o 20 de julho e o 27 de agosto de 2020 passarám sem dúvida à história do Deportivo da Corunha, com umha curiosidade, de todo o tempo transcorrido entre umha e outra data apenas 90 minutos fôrom no campo de jogo. Um surto de coronavírus entre o plantel da equipa madrilena do Fuenlabrada, contra a qual o Depor se jogava a permanência, suspende um jogo vital que após um longo processo dirimido, fundamentalmente na mídia, remata com a equipa corunhesa em 2ºB.
Um processo longo e desigual que transcendeu o ámbito desportivo e, sobretodo, deu mais ar do que nunca à infiltraçom de todo tipo de agentes na direçom da máxima competiçom futebolística masculina do Estado. Agentes que vinculam desde mandos policiais a militantes da extrema direita e estafadores imobiliários.
Os clans
Javier Tebas Medrano e Javier Tebas Llanas som pai e filho, presidente de La Liga e assessor jurídico do Fuenlabrada, respectivamente. Umha circunstáncia que a priori deveria ser um evidente conflito de interesses foi obviado, permitindo que umha equipa com evidentes vínculos com a direçom da Liga fosse constantemente beneficiada polas decisons desta. Tanto é assim que a Liga, por boca do seu presidente, reconhece a sua responsabilidade no permisso outorgado ao Fuenlabrada para viajar à cidade corunhesa, pese às advertências do próprio médico do clube, provocando nom só a suspensom do partido senom a exposiçom de todo tipo de profissionais dos transportes e da hotelaria ao surto, como assim denunciárom tanto a alcaldesa da Corunha como a própria Junta da Galiza. O assunto encontra-se agora em vias judiciais, mas a realidade é que a nível desportivo nom tivo nengum tipo de trascendência.
Mas o vínculo paterno-filial nom tem a ver só com os interesses desportivos, senom também com dous mais vistosos. Por umha banda, o económico, pai e filho som sócios de diversas empresas dedicadas a todo tipo de atividades económicas vinculadas ao desporto, da representaçom e os patrocínios até bufetes especializados em direito desportivo. Ou o que é o mesmo, pai e filho dirigem umha instuiçom relevante dentro dum mercado, e à vez participam dele mediante capital privado.
Um surto de coronavírus entre o plantel do Fuenlabrada, contra o qual o Depor se jogava a permanência, suspende um jogo vital que após um longo processo dirimido, fundamentalmente na mídia, remata com a equipa corunhesa em 2ªB
Por outra banda, o ideológico. O clam Tebas está vinculado com outro clam, o Le Pen, neste caso tia e sobrinha. A atual hierarca do clam Le Pen, Marine, dirigente do antigo Front National francês, é umha pessoa pola que o presidente de La Liga sente admiraçom, assim o fazia público no ano 2016 numha entrevista em La Vanguardia. Mas além das simpatias também há negocio, a sobrinha de Marine Le Pen, Marion, possui um liceu sediado em Lyon dedicado à formaçom de quadros políticos de partidos extremistas de toda Europa. O liceu instalou-se em Madrid a começos de 2020 em forma de fundaçom, tendo entre os seus patronons a Tebas Junior.
O homem de palha (e cimento)
Jonathan Praena, presidente do Fuenlabrada. Outros dos beneficiados pola resoluçom do caso é um velho conhecido do clam Tebas e também nom foge de participar num conflito de interesses. Praena, diretivo de diversas empresas dedicadas à promoçom e construçom imobiliárias, tem relaçom comercial de há tempo com Javier Tebas pai. De facto, através dum dos seus principais grupos empresariais tivo de passar várias vezes polo julgado, umha em vias de resoluçom, pola venda de pisos a particulares que nunca chegaram a ser entregues, na própria Fuenlabrada, e outra pola entrada em concurso de acredores da principal das suas empresas, o grupo Prádena. A assessoria jurídica realizada ao grupo Prádena foi realizada polo bufete propriedade de Javier Tebas pai.
Javier Tebas Medrano e Javier Tebas Llanas som pai e filho, presidente de ‘La Liga’ e assessor jurídico do Fuenlabrada, respectivamente. Umha circunstáncia que ‘a priori’ deveria ser um conflito de interesses foi obviada
O interesse comercial também toca com o desportivo, assim, o Fuenlabrada quando se topou, como tantas outras equipas, com problemas financeiros que punham em causa a sua adecuaçom aos estándares promovidos pola Liga recebeu assessoramento para passar fundos das contas das empresas de Praena às da equipa, e salvar assim a situaçom.
O caso Bergantinhos
Durante esta desigual batalha também houvo umha tentativa clara de culpabilizar o Deportivo desta situaçom. Numha das cenas mais chamativas, o capitám da equipa corunhesa foi detido logo de filtrar a Cadena Cope um áudio em que qualificava a celebraçom do partido 18 dias depois da data oficial como um “paripé”. Bergatinhos foi detido logo dumha denúncia realizada polo diretor do departamento de Integridade e Seguridade da Liga, Florentino Villabona, antigo comissário chefe de Segurança Cidadá no Ministério de Interior durante os anos do PP no governo do Estado. Desde o seu antigo cargo condecorou Tebas pai reconhecendo a sua labor na “promoçom da segurança e integridade no desporto”.
Bergantinhos encontra-se também na via judicial para esclarecer os feitos e conta com o apoio, entre outros, de diversos sindicatos policiais.
A resoluçom provisória
Após esta desigual batalha, o Deportivo tinha ainda pendente um trámite no máximo estamento desportivo espanhol, o CSD, dependente do Ministério de Cultura. O órgao, presidido por Irene Lozano, ex-eurodeputada por UPyD e Ciudadanos foi posteriormente reciclada polo PSOE como representante da Marca España. A esperança do deportivismo estava posta em que Lozano, que estatutariamente exerce como mediadora entre a Federaçom Espanhola de Futebol e a La Liga, propugera umha soluçom que amparasse o clube corunhês pola desigualdade de condiçons em que tivo de competir na última jornada. A soluçom consistia em imitar a medida posta em prática noutras ligas europeias de cancelar os descensos, ampliando a segunda divisom até 24 equipas, proposta publicamente rejeitada desde La Liga. Porém, o 27 de agosto este organismo público falhou em favor do clam Tebas, abrindo umha nova polémica que trascendia o ámbito desportivo: sugeriu à alcaldesa da Corunha, Inés Rey, aceitar a soluçom proposta pola Liga e em troca o Estado desbloquearia umha série de investimentos pendentes na cidade da Corunha, sem especificar de que tipo.
O convite, inicialmente rejeitado pola alcaldesa, é o penúltimo capítulo desta história, dado que o Deportivo, e a outra equipa afetada, o Numáncia de Sória, trasladam agora à justiça ordinária o pleito porque sejam reconhecidos os agrávios competitivos que sofrérom.
O próprio dia 27, Fernando Vidal, presidente do Deportivo anunciava que este episódio era “o princípio do fim de Tebas ao mando do futebol espanhol”, seja como for, o certo é que o caso destapou, como nom ocorrera antes com nengum outro, a quantidade de interesses cruzados entre diversos sectores económicos e políticos com o desporto no Estado espanhol.