
O passado mês de agosto Alberte Mera estreava ‘Reboiras. Açom e coraçom’. Através de testemunhas, materiais de arquivo e ficçom, o filme oferece umha aproximaçom à figura política e humana de Moncho Reboiras, a um momento chave da nossa história recente e à geraçom que o protagonizou.
De onde nasce ‘Reboiras. Açom e coraçom’?
Há umha dívida com Reboiras e com toda a geraçom de galegas e galegos que nesse momento desafiárom a ditadura com enorme valentia e compromisso. Falta um reconhecimento nom só na historiografia oficial, senom também a nível institucional. Por outro lado, acho que havia umha imagem um pouco distorcida de Reboiras e havia que dar-lhes a oportunidade às pessoas que o conhecérom de primeira mao de que nos figeram um retrato fiel dele, que é o que tentei neste filme.
Que novas dimensons da figura de Reboiras descobriste?
Toda a sua implicaçom sindical, que muitas vezes aparece em segundo plano. Ele está nas greves do 72, nos estaleiros, trabalhando mao a mao com a Organizaçom Obreira, ajudando desde a UPG… Eu, que sou de Vigo, desconhecia muito desta história de combate e de sindicalismo nom pactista, senom de confronto e luita direta contra o capital. Conhecer a figura de Xesús Chaves abriu-me muito os olhos. Outra questom é que nom deixa de ser contraditório que reconheçamos a Moncho com a imagem que ele precisamente utilizava para se disfarçar na clandestinidade, com bigode postiço e perruca. Tento derrubar essa imagem tanto com a ficçom como com fotografias que nunca viram a luz e que me cedeu o seu irmao Manuel.
Porque essa mistura de ficçom e testemunhas para armar o documentário?
Dava-me certo medo que a espetadora, ao escuitar os relatos das testemunhas, fosse imaginando a Reboiras com esse rosto transformado. Por isso principiamos com a ficçom e rompemos a cronologia e o espaço-tempo começando polos últimos acontecimentos da súa vida em Ferrol. Com Daniel Celester, além de um mui bom ator, buscamos o parecido físico com o Moncho das fotos.
Que papel tem o audiovisual na recuperaçom da memória?
Eu creio que é fundamental. Depois da morte de Franco há muito material registado, que é desconhecido e está escassamente difundido. Surpreende, porque nos poderia dar muitas chaves para sabermos quem somos, aonde vamos e de onde vimos. Isso temos que quebrá-lo e o audiovisual é umha ferramenta que, além de ser o formato em que me sinto mais a gosto criando, tem umhas possibilidades brutais numha sociedade como a nossa.
O filme conseguiu financiamento através de crowdfunding e está a ser mui bem acolhido polo público. É sintoma do interesse por este tipo de produçons e temáticas?
Tem que ser. Completamos o crowdfunding em dous meses, apresentamos o filme em Imo —lugar natal de Reboiras— e tivemos de repetir porque ficou gente fora, projetamo-lo em Ferrol coincidindo com o aniversário… O seguimento que tem, o carinho com que se está a acolher, motiva muito e é indicativo de que interessa a nossa história, de que interessa o nosso país e de que no audiovisual temos espaço.