Periódico galego de informaçom crítica

Despatriarcalizar a vida

por
uxía amigo

Se o 8 de março foi sem­pre umha data im­por­tante para nós, o do ano que an­da­mos mar­cou um fito. Só no es­tado es­pa­nhol saí­mos às ruas mais de seis mi­lhons de pes­soas. Insistíamos em que nom ia ser só umha greve, se­nom o co­meço dum pro­cesso cara à igual­dade in­te­gral e para to­das, desde o acesso aos re­cur­sos eco­nó­mi­cos para a vida, até o con­trolo so­bre os nos­sos cor­pos e, má­dia leva!, con­tra as vi­o­lên­cias machistas.

Essa igual­dade in­te­gral deve in­cluir ne­ces­sa­ri­a­mente um pro­cesso de sa­ne­a­mento pro­fundo nas nos­sas re­la­çons com to­das as es­tru­tu­ras so­ci­ais em que par­ti­ci­pa­mos, com cada umha das de­mais pes­soas e com nós mes­mas. Dizia Alexandra Kollontai: “Nom avonda com a abo­li­çom da pro­pri­e­dade pri­vada (…), é ne­ces­sá­ria umha re­vo­lu­çom da vida co­tiá e dos cos­tu­mes, for­jar umha nova con­ce­çom do mundo e, muito es­pe­ci­al­mente, umha nova re­la­çom en­tre os se­xos”, e desenvolvia‑o cin­quenta anos de­pois Kate Millet, re­su­mindo em “o pes­soal é po­lí­tico” a re­pro­du­çom da opres­som es­tru­tu­ral das mu­lhe­res nas re­la­çons in­ter­sub­je­ti­vas, no­me­a­da­mente de parelha.

Mas a con­tra­di­çom se­gue pre­sente, a atra­vessa-lo tudo e a di­fi­cul­tar se­ri­a­mente o avanço face à igual­dade real, por­que o pa­tri­ar­cado inça to­das as es­tru­tu­ras po­lí­ti­cas, so­ci­ais, cul­tu­rais, in­ter­pes­so­ais… e in­tra­pes­so­ais, e tal­vez por isso é tam di­fí­cil a sua des­tru­çom. Também por­que o seu traço mais de­fi­ni­tó­rio é o PODER.

O pa­tri­ar­cado inça to­das as es­tru­tu­ras po­lí­ti­cas, so­ci­ais, cul­tu­rais, in­ter­pes­so­ais… e in­tra­pes­so­ais, e tal­vez por isso é tam di­fí­cil a sua destruçom

O PODER co­meça com o pa­tri­ar­cado, que o exerce na sua ori­gem su­bor­di­nando se­xu­al­mente as mu­lhe­res; pro­duz a ân­sia de mais po­der, que se iden­ti­fica de­pois com a acu­mu­la­çom de ou­tras pro­pri­e­da­des (de ri­queza), e di­vide a so­ci­e­dade em classes.

O PODER é o que está no fundo de to­das as opres­sons es­tru­tu­rais (de gé­nero, de classe, de et­nia…), que se pro­je­tam em to­das e cada umha das opres­sons exer­ci­das (mais ou me­nos cons­ci­en­te­mente) nas or­ga­ni­za­çons so­ci­ais e nas re­la­çons in­ter­pes­so­ais… e a vi­o­lên­cia (tam­bém pa­tri­ar­cal) per­pe­tua esse po­der. Mas nom há po­der sem sub­mis­som e esta é cons­truida den­tro de cada quem, e de­ter­mina a re­la­çom que es­ta­be­le­ce­mos com nós mesmas.

A vi­o­lên­cia sim­bó­lica, que pro­move a con­fi­gu­ra­çom dum in­cons­ci­ente co­le­tivo, pro­je­tado a cada in­cons­ci­ente in­di­vi­dual, de­ter­mina re­la­çons de po­der e sub­mis­som in­sa­tis­fa­tó­rias e di­fi­culta que se iden­ti­fi­quem es­tas ei­vas como tais.

Baixo cada tran­sa­çom de PODER en­tre os se­res hu­ma­nos (in­di­vi­dual ou co­le­tiva), está o pa­tri­ar­cado: a do­mi­na­çom e o so­fri­mento. Após cada es­quema or­ga­ni­za­tivo ver­ti­cal, após cada as­si­me­tria nas va­lo­ri­za­çons e re­la­çons hu­ma­nas e, com cer­teza, após cada ma­ni­pu­la­çom (cons­ci­ente ou nom) para con­se­guir a pre­pon­de­rân­cia so­bre as de­mais, está o pa­tri­ar­cado; e de­ve­mos ser es­pe­ci­al­mente tei­mu­das, por­que o ca­mi­nho a per­cor­rer nom é doado.

Olhar (tam­bém) para den­tro de nós, re­fle­xi­o­nar so­bre os nos­sos de­se­jos e as nos­sas ân­sias, re­ver as nos­sas re­la­çons com as de­mais. Nom sem­pre imos gos­tar do que ve­mos, mas é a única ma­neira de muda-lo.
Acometamos o pro­cesso: des­pa­tri­ar­ca­li­ze­mos a vida.

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