Em outubro de 2016, um grupo de vizinhas de Ourense decidiu parar de receber os média e iniciou um projeto de rádio colaborativo autogerido para transmitir as suas próprias informaçons. Surge assim a Rádio LiVerdade, um meio comunitário que nos fala da realidade galega com uma agenda própria que lhes permite estabelecer as suas próprias prioridades temáticas.
É neste espaço que o programa Efecto Bandúa aparece, um novo projeto colaborativo, desde a sua forma até o seu conteúdo. Conversamos com umha das criadoras, Beatriz Pirês Laranxeira, sobre a experiência de fazer rádio e formar umha equipa de trabalho que prioriza cuidados, processos e interesses pessoais.
Como é que surge o Efecto Bandua?
Nasce da necessidade que temos de relacionamento e pertença, de contacto entre nós e o nosso meio ambiente, e especialmente tendo em conta a situaçom de repressom política na Galiza. Começa quando duas colegas nos encontrámos numha reuniom aberta em Ourense sobre visibilidade e apoio às acusadas e pensámos que podíamos criar um espaço para conversar sobre a questom da repressom política, em particular a repressom ao movimento independentista, e foi a partir daí que nos propugemos fazer um programa de rádio. Entom, figemos um primeiro programa centrado na Operaçom Jaro para informar sobre essa questom. Na altura, participámos quatro pessoas. Três delas na elaboraçom de conteúdos e umha, que já colaborava com a Rádio Liverdade, a tratar da parte de ediçom.
A partir daí, começárom a surgir ideias para fazer outros programas e dar assim continuidade à questom da repressom política, ao passo que expandíamos conteúdos. Tínhamos vontade de continuar e foi a partir daí que também surgiu o nome…
O que significa o nome do programa?
Bandua é umha divindade. Foi a Gema, umha colega historiadora, que o ideou. No início, pensámos em chamar o programa «Efecto Bolboreta», mas nom estávamos mui convencidas. Entom a Gema falou-nos dumha divindade castreja, umha figura protetora da comunidade. Tínhamos a convicçom de que o programa devia tratar questons como a repressom política ao nível comunitário e de como isso nos afetava também às pessoas que nom estávamos envolvidas diretamente no movimento independentista e foi por isso que o achámos ajeitado.
“Figemos um primeiro programa centrado na ‘Operaçom Jaro’. A partir de aí começárom a surgir ideias para fazer outros programas”
Como se organiza e gere o trabalho colaborativo?
Nom temos umha estrutura fixa. Nom há funçons estabelecidas. Todas fazemos tudo. Relevamo-nos. Nom é um grupo fechado, mas existe esse espaço sonoro, o programa através do qual poder gerar conteúdo e ver pessoas diferentes.
Nas reunions anteriores à COVID-19, juntávamo-nos na casa de alguns de nós, mas a partir do estado de emergência trabalhámos através de encontros virtuais. Fôrom surgindo outras necessidades e motivaçons e convidamos outras colegas. Começámos também a tratar nós da ediçom. Isto é, fazemos tanto os conteúdos quanto a ediçom. Tudo é um processo de autoformaçom: fazemos e aprendemos a fazer.
Cobrides umha ampla gama de tópicos nos quais falades sobre questons atuais e também sobre tópicos mais escolhidos, como a morte …, qual o fio condutor dos programas do Efecto Bandua?
É mui diverso. Respeitam as cousas que nos apetecem. Temos flexibilidade e liberdade suficientes para propor. A Radio LiVerdade estava lá e, por ser um projeto aberto, queríamos tirar proveito dessa plataforma de som para tornar visível e falar sobre aquilo que nos dizia respeito. A rádio é um meio interessante através do qual fornecer outras informaçons que nos permitem entender o ambiente que nos rodeia e nos incentiva a atuarmos. Falo dum tipo de informaçom que nom encontramos nos meios de desinformaçom generalistas que instigam medo e desconfiança, que incentivam rumores e pensamentos nom críticos.
Da experiência de fazer Efecto Bandua, que é aquilo que mais valorizades?
Que é um espaço onde todas as vozes som ouvidas e onde há cuidado suficiente com o processo de cada umha. Partilhámos entre todas aquilo que mais nos preocupa, se nos apetece ou nom participar em cada programa. O processo de construçom dos programa também é feito em comum. Se alguém quer tratar da parte técnica ou quem prefira deixar de tratar dos conteúdos, ouvimos o que se tem para dizer e mudamos. O processo é agradável no sentido em que fazemos o que queremos. Nom há responsabilidade ou obriga de ter de fazer ou criar um programa. Damo-nos tempo de acordo com o ritmo de cada um.
Porque é importante para vós que o espaço seja construído em comunidade?
Em geral, todos gostamos de construir a partir do comunitário. Entre as pessoas que fazemos parte do Efecto Bandua existe muita afinidade. Umha das colegas costuma definir-nos como uma floresta diversa de que todas participamos até porque nom podemos fazer nada as umhas sem as outras, somos interdependentes. Gostamos de fazer o programa, podemos exprimir-nos e falar daquilo que nos interessa falar naquilo que lhe interessa e transladar a sua voz, e também porque fazemos de elo de ligaçom com outras pessoas que querem transmitir o seu ponto de e vista e nom estám a ter forma de o transladar.
“Bandua é umha divindade castreja, umha figura protetora da comunidade”
Como adaptastes este trabalho comunitário ao confinamento?
Com o estado de alarme, a distância social e o isolamento, torna-se mais necessário manter as redes funcionando. A participaçom vira essencial, tal como os espaços de apoio mútuo e a construçom coletiva. Entom criámos a secçom “Community Talk!” na qual qualquer um poderia participar. Precisávamos conhecer outras vozes e que as pessoas permanecessem ligadas mesmo estando confinadas. Queríamos ouvir-nos, saber como estávamos e dar espaço às pessoas para transladar o que lhes estava a passar e o que pensavam. Queríamos pôr em comum as estratégias que cada um estava a assumir para se sentir mais à vontade com a situaçom.
Tendes algumha ideia sobre o que iredes querer falar quando isto passar?
Queremos continuar com a questom da repressom política, da realidade dos cárceres e do suicídio. Agora estamos a trabalhar num novo programa sobre o significado da morte noutras culturas. Lá, entramos em contacto com umha colega palestiniana e com umha mexicana interessadas em participar e que já tinham colaborado na secçom «Fala a comunidade!” de um programa anterior.