Conversamos nas seguintes linhas com a vozeira do Congresso Nacional Indígena Mª de Jesus Patricio, Marichuy, e a integrante da Assembleia dos Povos Indígenas do Istmo em Defesa da Terra e o Território, Nisaguie Abril Flores, que estivérom este mês de novembro na Galiza, dentro da “Gira pola Vida”, para continuarem a tecer redes na viagem que começara o Escuadrom Zapatista neste passado verao. A defensa do território e a luita contra o capitalismo centrárom este diálogo, porque “é urgente unirmo-nos contra este monstro”.
Como fôrom os vossos encontros nesta nova etapa da gira pola vida?
Nisaguie: foi mui interessante toda a gira para encontrarmos luitas mui semelhantes: aqui fomos até um projeto de minaria, como também temos em Mexico. Tivemos umha acolhida mui cálida.
Marichuy: Os objetivos eram achegar-nos às distintas luitas e resistências que se levam desde estas outras geografias. Vimos que aqui também há territórios que estám a viver um espólio semelhante polo capitalismo, umha modificaçom de formas de vida que se vam implementando polos interesses económicos e vam alterando maneiras de viver, e lesionam ao mesmo tempo a Terra, a água, os montes… Encontramo-nos com esta realidade, ocultada polos meios, e é que só através destes encontros é como podemos conhecer essas realidades. Queríamos vir e escuitar, e também expor o modo em que consideramos os povos que temos que levar umha organizaçom desde abaixo e umha relaçom com outros grupos, desde o campo à cidade, mulheres, mocidade e todas as pessoas que sintam a necessidade de tecerem luitas polo bem da vida, assim como se chama a nossa gira. Temos um compromisso com a mae terra e o nosso dever é cuidá-la, para que continue a haver vida para as que venham depois.
“Vimos que aqui também há territórios que estám a viver um espólio semelhante polo capitalismo”
Como se vam concretizar mais adiante esta organizaçom e os contatos criados nestas juntanças?
Marichuy: nom trazemos receitas; esta organizaçom tem que se tecer de acordo com os tempos e formas de cada lugar. Nom temos soluçons mágicas nem queremos impor algo que nom nos toca. Só queremos partilhar como os povos de México estám a resistir fronte a este espólio, como fazemos fronte ao capitalismo, e este sistema nom só esta em México, senom em todo o mundo. Há interesses económicos e do poder que todo o transformam em quartos, for água, bosques, comida ou pessoas. Para as comunidades, todo isto é a vida: contar com um pedaço de terra, com a água e com os montes. Quando isto for destruído, destruiremo-nos todos coletivamente. A Terra está a chamar por nós diante de todas estas modificaçons do clima, enfermidades novas, cultivos modificados, terra degradada… e quando chegue a colapsar o Planeta nom vai escolher por onde começa. Por isso pensamos que é importante coordenar-nos e fortalecer as nossas alianças.
Como se pode fazer frente ao espólio que sofrem os povos?
Marichuy: É preciso construir outras formas organizativas desde abaixo, pensar, sonhar e artelhar outras possibilidades que nos permitam proteger as comunidades, as mulheres, trabalhadoras e trabalhadores, mocidade… O povo é quem tem que decidir. Apenas nos ensinárom umha forma de tomar decisons, tomadas polos que estám no governo ou polos que tenhem dinheiro, que decidem por todos e todas. Nós cremos que o figérom mal: os seus planos e projetos levam-nos ao matadoiro. Temos que organizar-nos, porque se nom vam acabar com nós e fazer o que nom pudérom fazer há mais de 500 anos. Nós queremos retomar as nossas próprias formas organizativas como comunidades, já que estas formas fôrom lesionadas com a introduçom de partidos, programas… Por iso apostamos pola reconstituiçom integral dos nossos povos e comunidades, com a educaçom, a saúde, o trabalho coletivo, o cuidado da terra, os nossos ciclos de vida… Retomar isto, porque nom é nemgumha invençom, senom que é voltar à Terra, retomar o que permitiu que ainda hoje existam as comunidades indígenas, ainda que tenham sido mui golpeadas. Nom podemos deixar que os que estám arriba decidam por nós. Temos o direito de ir formando algo diferente polo bem dos nossos filhos e filhas e do nosso território.
“É preciso construir outras formas organizativas desde abaixo, pensar, sonhar e artelhar outras possibilidades que nos permitam proteger as comunidades, as mulheres, trabalhadoras e trabalhadores, mocidade… ”
Como é a experiência desde que é presidente Manuel López Obrador em México?
Nisaguie: Este governo nom é como o dim. Nom é um governo dos povos, nem de esquerdas nem está com os pobres. É um governo que entrou com todo, com megaprojetos, que até agora tiveram problemas para levar adiante com outros presidentes. Nom é nem foi um governo que trouxesse melhoras para os povos indígenas. Matárom Samir Flores, um companheiro e camponês indígena que luitou em defensa das terras comunais, e que foi assassinado em fevereiro de 2019, quando Manuel López Obrador já era presidente. As comunidades indígenas somos um chiste para ele, e nom, nós somos comunidades que estamos vivas, que trabalhamos, vivemos e semeamos, e nom nos foi melhor em nada. Gerou ruturas dentro das comunidades, a violência continua a aumentar e também o narcotráfico. Há muitas cousas que continuam a passar, mas parece que nom acontecera nada.
Marichuy: Nom sabemos o que acontece, mas, quando chegam ao poder, transformam-se e se esquecem que tivérom o apoio do povo e que há necessidades abaixo. Desde a experiência que tivemos participando no processo eleitoral, ficou ainda mais claro que há um grupo que decide, que está arriba, e que é o capital quem governa. Por isso para nós é ainda mais importante a construçom de algo diferente, algo que nem tam sequer cabe nas urnas. A mudança tem que vir de abaixo, e vai vir também com a participaçom das mulheres. Temos que acabar com o patriarcado se queremos acabar com o capitalismo.
A luita e a gira pola vida continuam nos próximos meses. Como enfrentades os próximos passos neste caminho coletivo?
Nisaguie: Há esperança ainda e por isso estamos aqui. Criarmos redes de apoio, conhecer-nos e sabermos que somos muitas ainda que estejamos em diferentes geografias, que a luita de abaixo e de nós permanece ainda com todo para combatermos este monstro. Nom vamos permitir que no nosso nome se negocie nem se venda nada. É importante que continuemos a defender-nos, porque só temos um planeta e é de todas e todos.