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Memória de Março de 1972

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Três anos de vida restavam-lhe a Francisco Franco quando a classe obreira galega se erguia numha greve decisiva. O ditador agoniçava mas a engrenagem repressiva gozava de vigorosidade. Em 10 de março de 1972, o sangue operário tingia as ruas de Ferrol com umha história tantas vezes repetida: nossos os mortos, sua a impunidade.

No pri­meiro terço de 70 a Galiza es­toura em con­fli­tos. Em Compostela, o es­tu­dan­tado para du­rante me­ses, as la­bre­gas opo­nhem-se ao pa­ga­mento da quota da Seguridade Social que as equi­pa­rava às em­pre­sá­rias e as ma­ris­ca­do­ras im­pe­dem a ins­ta­la­çom dum vi­veiro de peixe que su­prime o seu tra­ba­lho co­mu­nal. Vigo leva adi­ante duas gre­ves e em Ferrol o con­flito la­bo­ral salda-se com o as­sas­si­nato de dous trabalhadores.

Convénio pró­prio

Ademais dos assassinatos houve dezenas de feridos, dos quais 16 por bala, nom se atrevendo a irem ao hospital para evitar serem detidos

Em 72 o es­ta­leiro de Bazán, com fi­li­ais em Ferrol, Cartagena e Cádiz, ne­go­cia o con­vé­nio co­le­tivo. Os tra­ba­lha­do­res fer­ro­la­nos de­man­dam um acordo pró­prio pro­vin­cial, mas a em­pressa em­presa as­sina em Madrid um con­vé­nio in­ter­pro­vin­cial que re­baixa as suas exi­gên­cias. Como re­sul­tado con­voca-se umha as­sem­bleia em Ferrol e des­pe­dem-se seis en­la­ces sin­di­cais, sendo agre­dido um de eles. A fá­brica para com 5.000 tra­ba­lha­do­res con­cen­tra­dos re­cla­mando a anu­la­çom dos des­pe­di­men­tos e san­çons para os guardas.

O di­re­tor de Bazán re­clama a volta à ati­vi­dade sem ofe­re­cer ga­ran­tia de re­ad­mis­som dos des­pe­di­dos, os ope­rá­rios nom ce­dem e a pa­tro­nal ame­aça com um des­pejo po­li­cial. Produz-se a pri­meira carga com mais de vinte fe­ri­dos e a fá­brica fecha.

10 de Março
Com Bazán fe­chada, umha co­luna de 4.000 pes­soas sae da fá­brica pe­dindo a so­li­da­ri­e­dade das in­dús­trias, até che­gar ao cen­tro da ci­dade. A mar­cha ape­drea ape­dreja à sede do Sindicato Vertical, mas vê-se de­tida ao che­gar à Ponte das Pias, onde efe­ti­vos da Polícia Armada e da Guarda Civil uti­li­zam ar­mas de fogo. O con­flito atinge tal mag­ni­tude que um na­vio de guerra aquar­tela-se frente à costa para intervir.

Os autores materiais, assim como os responsáveis políticos e policiais dos assassinatos, ficárom impunes

O saldo do con­fronto som dous as­sas­si­na­dos, Amador Rey e Daniel Niebla. Dezenas de fe­ri­dos, dos quais 16 som fe­ri­dos por bala, nom se atre­vendo a irem ao hos­pi­tal para evi­tar se­rem  em   de­ti­dos. Um cento de apre­sa­das, 60 en­car­ce­ra­das, 54 mul­ta­das e ou­tras tan­tas que pas­sá­rom à clan­des­ti­ni­dade. Os co­mér­cios e es­co­las fe­cham e a so­li­da­ri­e­dade es­pa­lha-se polo país ber­rando “as­sas­si­nos” à Polícia. Em Ferrol, o Governo fran­quista corta as co­mu­ni­ca­çons, in­clui­das in­cluí­das as te­le­fó­ni­cas, e con­cen­tra efe­ti­vos para to­mar a ci­dade que es­tava em maos das grevistas.

O acon­te­cido sus­ci­tou tal co­mo­çom que foi re­co­lhido nas ca­pas de vá­rios jor­nais in­ter­na­ci­o­nais, ao igual que as mo­bi­li­za­çons de pro­testo pola bru­tal re­pres­som. Três anos de­pois, che­ga­ria o “Juízo dos 23” que de­ri­vou em con­de­nas de en­tre qua­tro e seis anos de ca­deia para sin­di­ca­lis­tas. Pola con­tra, os au­to­res ma­te­ri­ais, as­sim como os res­pon­sá­veis po­lí­ti­cos e po­li­ci­ais dos as­sas­si­na­tos, fi­cá­rom impunes.

Dia da Classe Operária Galega
O 10 de Março de cada ano ho­me­na­gea-se os dous obrei­ros que pa­gá­rom com a sua vida avan­ços co­le­ti­vos, mas essa data su­pom igual­mente um ponto de in­fle­xom para as tra­ba­lha­do­ras ga­le­gas ao con­cre­ti­zar-se o bi­nó­ni­mio in­dis­so­lú­vel de li­ber­ta­çom na­ci­o­nal e a luita de clas­ses, dando lu­gar ao ger­molo dos sin­di­ca­tos nacionalistas.
Amador Rey, tiro no peito. Daniel Niebla, tiro na ca­beça. Com o peito e com a ca­beça é como a Galiza os man­tém vi­vos a eles e a tan­tas ou­tras que com a sua morte en­chem de vida.

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