A segregaçom por sexos no desporto pode estar enfrentando a sua maior “crise”. Por crise entendemos um tempo para repensarmos, para vermos se toda açom é justificada ou seguimos padrons sem sentido porque “sempre foi feito assim”.
A distinçom das categorias nom é igual em todos os desportos. Nalguns nom há separaçom nengumha; noutros, as categorias vam por peso, idade, sexo… Distinguir categorias polas caraterísticas das jogadoras é positivo. Isto garante umha competiçom em igualdade e cria espaços seguros, limitando os riscos de lesom entre as participantes. Cada desporto é muito diferente do outro; é complicada a generalizaçom. Contodo, é possível questionar se a separaçom por sexos, nalguns desportos, tem a sua base em argumentos físicos ou ideológicos.
A participaçom da atleta de halterofilia Laurel Hubbard nos jogos olímpicos abriu um debate sobre as pessoas trans no desporto e, em consequência, sobre a separaçom por sexos. Também, casos como os das futebolistas Mara e Martín Rojo causaram controvérsia há uns anos atrás. Mas antes de entrar no desporto de elite, podemos olhar para os desportos de base, onde, seguramente, é onde mais se está a observar a incidência deste questionamento.
Olhando o exemplo do futebol (um dos desportos mais estendidos na nossa sociedade atual), é habitual que as ligas locais sejam unicamente masculinas, por nom haver suficientes raparigas. O “nom haver suficientes” nom quer dizer que sejam poucas. Nom som suficientes para conformar por separado umha liga local inteira, mas som muitas. Dentro das mulheres excluídas temos que levar em conta todas as pessoas que nom estejam presentes nas normas de género, como as pessoas trans e nom binárias.
É surpreendente que esta seja a soluçom perante um problema tam complexo. Em especial, surpreende o fato de considerar que nos desportos de base a diferença de corpos é maior que nos desportos de elite, nos quais o treino é constante e com planificaçom. Poderíamos dizer que, neste nível, a medida de separar por sexos pode ser tam inútil como efetiva.
Javier Gil Quintana, um dos primeiros investigadores sobre a inclussom das pessoas trans nos desportos, afirma numha entrevista no Confidencial que carecemos de estudos sobre a segregaçom por sexo. Porém, nos Países Baixos a soluçom a nível amateur é clara: o futuro do futebol amateur é misto.
Nesse país, questionárom o jogo segregado e figérom estudos. Finalmente, foi demonstrado que a diferença nas capacidades de homens e mulheres no futebol amateur nom é suficientemente significativa. Os estudos só falam do físico: quiçá isto valide que nom questionar a segregaçom é, na verdade, ideológico em muitos casos.
Rejeitar jogadoras é obviamente mais rápido que procurar a inclusom no campo. Para alcançar umha competiçom mista é precisa a eliminación do machismo, da homofobia e da transfobia do campo. Nom é possível umha competiçom em igualdade se mantemos comportamentos discriminatórios.
É preciso criar umha a perspetiva que nom esteja posta numha competitividade tóxica (mui ligada à “masculinidade”), onde as faltas sejam parte do jogo, entendidas como umha estratégia dentro do campo. Deixar ir essa tensom pode ajudar a que as categorias nom sejam tam rígidas. Todas lembramos a frase “o importante é participar”, mas nom semelha fácil de aplicar na realidade.
Se queremos criar umha liga mista, nom se trata simplesmente de juntar gente: temos por diante um trabalho mais complexo. Isto parece tê-lo claro a liga Gallaecia (liga mista de futebol gaélico), a qual nas suas bases recolhe que o procedimento para alcançar umha liga mista requer um depuramento dos comportamentos no campo e no vestiário.
Ora bem, quando deixamos atrás os desportos de base e imos a competiçons internacionais, o que acontece?
Tradicionalmente, alguns desportos institucionalizados só tiveram categoria num dos sexos. Por exemplo, no caso da nataçom sincronizada só existia a competiçom feminina. É curioso observar como a integaçom de homens nesta disciplina passou diretamente pola fórmula mista em parelhas ou em grupos.
O mencionado Javier Gil Quintana explica na entrevista no Confidencial que “homens e mulheres estám sempre separados, e mesmo assim nom tem que ser a melhor maneira. Por exemplo, há anos que existe nataçom sincronizada mista no Mundial e no Europeu, mas nom nas Olimpíadas. Eles estám começando a perceber que nom todos os desportos devem ser separados por género”. Este caso resume como estám a mudar aqueles desportos que careciam de liga masculina: nom se duvida da sua capacidade e passam diretamente ao misto.
Sucede o contrário nos desportos historicamente negados às mulheres (muito mais numerosos do que os vedados a homens). Em todos eles considerava-se que as mulheres nom seriam capazes de jogar polo facto de serem mulheres. Isto foi o que dixérom no seu momento a Kathrine Switzer, primeira mulher a correr a maratona de Boston. Naquele momento pensava-se que a mulher nom podia, até que umha demonstrou o contrário. O homem conta com a premissa de ser válido, mas nom há homens que queiram. Por contra, a mulher parte da premissa de nom poder.
A segregaçom no desporto tampouco tem o mesmo peso para uma categoria que para outra. Lembremos fitos polémicos como forçar algumas mulheres cis a fazerem processamentos para reduzir os seus níveis de testosterona e poderem competir en atletismo, ou as provas para demonstrar ser mulher cis feitas às jogadoras da seçom estatal de futebol, quando nunca se fixo cousa semelhante aos homens.
Percebe-se umha tendência lenta para a reconsideraçom das categorias por sexos. Esta tendência tem especial força nas ligas de base. A elite desportiva nom sempre vai parelha ao que acontece na base
Com isto podemos observar que a segregaçom polo sexo está no debate desde há tempo. Com certeza, nom devemos menosprezar a transfobia daquelas que diretamente querem excluir da competiçom as pessoas trans pola sua condiçom. Destacar que a problemática que sofrem pessoas trans nom é nova é umha forma de apoiar a sua inclusom.
O curioso é que, de novo, só falamos de mulheres trans no desporto. Em proporçom, som muitos menos os homens trans que acadam a competiçom institucional. É claro, pode-se dizer que é algo meramente físico, mas seria possível que Casillas desse um discurso semelhante ao de Megan Rapinoe ao ganhar o mundial de França? Perguntar-se isto é umha forma de reparar em que as ligas femininas semelham mais abertas a criar espaços diversos que os masculinos. Pode ser pola sua tradiçom de manter-se em pé e luitar pola sua própria existência perante a misoginia imperante no desporto.
Recapitulando, nom é possível elaborar umha soluçom para todos os desportos. Tampouco podemos reunir neste artigo todas as novas possibilidades. Porém, percebe-se umha tendência lenta para a abertura e a reconsideraçom das categorias; lenta, mas existe. Esta tendência tem especial força nas ligas de base. A elite desportiva nom sempre vai parelha ao que acontece na base e seguramente tardará muito mais em abrir-se a novas filosofias. As mudanças cairám muito pouco a pouco, mas o debate chegou para ficar.