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Outro salto para o novo normal

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Chega-me umha pe­ti­çom do Novas da Galiza para fa­lar da si­tu­a­çom da pes­soas que tra­ba­lham na cul­tura. Digo que sim, ob­vi­a­mente, se­nom nom es­ta­rias a ler isto. E justo de­pois de acei­tar, per­gunto-me quem se­rám es­sas pes­soas so­bre as que di­gem que ia es­cre­ver. Quais som as suas ti­po­lo­gias. Umha que tra­ba­lhe numha edi­tora, penso; ou­tra numha pro­du­tora au­di­o­vi­sual ou num es­tú­dio de de­se­nho, digo, e su­bi­ta­mente a mi­nha mente fica pa­rada. Tento vi­su­a­li­zar mais, mas só me ve­nhem à ca­beça ima­gens de pes­soas au­tó­no­mas. Nom, ainda apa­re­cem abaixo as mais pre­ca­ri­za­das, as que nom con­se­guem fa­zer frente à quota men­sal de auto-ex­plo­ra­çom e re­cor­rem, quando o pre­ci­sam, a ser­vi­ços ar­ri­vis­tas de co­o­pe­ra­ti­vas de faturaçom.

Sim, este é o pa­no­rama la­bo­ral que ago­cha o res­plan­dor das in­dús­trias cul­tu­rais, nome atrás do qual o pró­prio se­tor se ocul­tou, preso da sua de­pen­dên­cia das apa­rên­cias. A cul­tura, como as pe­gas, adora as re­ful­gên­cias e, no iní­cio deste sé­culo, es­co­lheu afas­tar-se do som­brio gré­mio ar­te­sám. O alerta sa­ni­tá­rio, pan­de­mia ou do jeito que o quei­ras cha­mar, re­ti­rou algo desse res­plan­dor. As ver­go­nhas caí­rom e dei­xá­rom en­tre­ver o pa­ra­doxo en­tre a sua re­a­li­dade e a sua fic­çom, en­tre a es­mola da sub­ven­çom e o de­sam­paro da li­ber­dade cri­a­tiva, en­tre o pre­me­di­ta­da­mente trans­cen­dente dal­gumhas das suas obras e a ba­na­li­dade de mui­tos dos seus prémios.

A pa­rada epi­dé­mica, ou a ma­neira que pre­fi­ras para a no­mear, des­ve­lou o re­fugo que fi­cou após 2008. Naquele mo­mento, as me­lho­ras tec­no­ló­gi­cas aliá­rom-se à pro­cura da re­du­çom de cus­tos, a ne­ces­si­dade eco­nó­mica uniu-se à falta de cons­ci­ên­cia de classe e, des­ses fa­to­res, a cul­tura to­mou o im­pulso que pre­ci­sava para dar o salto mor­tal com que cair de pé na pre­ca­ri­e­dade. Enquanto isso acon­te­cia, as ins­ti­tui­çons que su­pos­ta­mente se en­car­re­gam da sua pro­mo­çom, aplau­dí­rom desde a sua pol­trona: ‘Admiramos a vossa ca­pa­ci­dade de vos rein­ven­tar’. Foi todo o que ela pre­ci­sou para a sua vai­dade es­que­cer os es­com­bros que a ro­de­a­vam e umha luz vol­tasse surgir.

Em 2008 as me­lho­ras tec­no­ló­gi­cas aliá­rom-se à pro­cura da re­du­çom de cus­tos, a ne­ces­si­dade eco­nó­mica uniu-se à falta de cons­ci­ên­cia de classe e a cul­tura to­mou o im­pulso que pre­ci­sava para dar o salto mor­tal com que cair de pé na precariedade

Durante esta crise, ou como nor­mal­mente te re­fi­ras a ela, o en­tu­lho nom puido ser ocul­tado. Apesar de as as­so­ci­a­çons pro­fis­si­o­nais pe­di­rem atu­a­çons quase idên­ti­cas às das in­dús­trias (li­nhas de em­prés­timo, com­pen­sa­çons par­ci­ais do lu­cro ces­sante, en­tre ou­tras) houvo pes­soas que se atre­vé­rom a apon­tar cara ao ren­di­mento mí­nimo vi­tal apro­vado polo go­verno es­pa­nhol como a me­dida mais efe­tiva para o se­tor. Ao mesmo tempo, os agen­tes de de­mo­li­çom pre­pa­rá­rom o ce­ná­rio (o Fondo de Proxectos Culturais Xacobeo 21), dis­pu­gé­rom os seus as­sen­tos e já es­tám pron­tos a des­fru­tar do novo salto: ‘Surpreendede-nos, sa­be­mos que po­de­des che­gar mais alá’.

Agora, no novo nor­mal ou o ne­o­lo­gismo que uses, a es­pe­rança é que as au­tó­no­mas cul­tu­rais te­nham to­mado cons­ci­ên­cia da sua pre­ca­ri­e­dade e que rei­vin­di­quem o seu ca­rá­ter ar­te­sa­nal; que pro­cu­rem ou­tro as­so­ci­a­ti­vismo, trans­ver­sal, fora da ló­gica das dis­ci­pli­nas, que es­cape do bri­lho do pré­mio; que pro­mova um có­digo de boas prá­ti­cas, den­tro do se­tor e com as ad­mi­nis­tra­çons, para as­se­gu­rar umhas con­di­çons de vida e de tra­ba­lho dignas.

Chiqui Pereira é encenador e membro da companhia de teatro Berrobambán.

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