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Do trauma à reparaçom: o caso galego

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De jo­e­lhos con­tra a pa­rede du­rante duas ho­ras. Assim cas­ti­ga­vam o his­to­ri­a­dor Xosé Estévez por uti­li­zar o ga­lego. “Aldeano, que es us­ted un al­de­ano”. O ar­tista Siro López ex­plica como es­tas hu­mi­lha­çons eram cons­tan­tes sim­ples­mente por se lhes es­ca­par al­gumha pa­la­vra no nosso idi­oma. Malhar nos de­dos até fazê-los san­grar era o mé­todo usado na es­cola da po­eta Luz Fandinho para que dei­xas­sem de “ha­blar mal”. Vivências par­ti­lha­das por todo o país e com pro­fun­das con­sequên­cias psicológicas.

as sequelas do terrorismo de Estado afetam várias geraçons: isolamento, inibiçom social, agressividade, autocensura, insónia e outras doenças severas.

Na América Latina tam­bém pa­de­cé­rom a bar­bá­rie das di­ta­du­ras. Ali a so­bre­vi­vên­cia do trauma nas ví­ti­mas de ter­ro­rismo de Estado foi muito mais in­ves­ti­gada (Kersner, Madariaga, Edelman, etc). Segundo es­tes es­tu­dos, as suas se­que­las afe­tam vá­rias ge­ra­çons: iso­la­mento, ini­bi­çom so­cial, agres­si­vi­dade, au­to­cen­sura, in­só­nia e ou­tras do­en­ças se­ve­ras. Favorecido pola im­pu­ni­dade, é co­mum a ir­rup­çom do trauma pas­sa­dos vinte anos. Fenómeno que deita umha nova luz so­bre a ru­tura da trans­mis­som fa­mi­liar da língua.

O golpe de Estado fas­cista pro­fun­dou umha ex­pe­ri­ên­cia es­co­lar de­vas­ta­dora para o psi­quismo in­fan­til. O mo­vi­mento de re­no­va­çom pe­da­gó­gica que a Segunda República im­pul­sara foi ex­tir­pado a base de de­pu­ra­çons e as­sas­si­na­tos. Para con­se­guir a ade­som ao novo re­gime im­plan­tou-se unha vi­o­lên­cia ex­trema e pla­ni­fi­cada que in­va­diu to­dos os âm­bi­tos, in­cluído o da vida quo­ti­di­ana. Com umha po­pu­la­çom em shock, a es­cola tor­nou-se um cen­tro de maus-tra­tos para a in­fân­cia e de exal­ta­çom do su­pre­ma­cismo cas­te­lhano. Esta ca­tás­trofe so­cial pode di­vi­dir-se em três fases:

Com umha populaçom em shock, a escola tornou-se um centro de maus-tratos para a infância e de exaltaçom do supremacismo castelhano.

Na pri­meira fase (1936), as agres­sons fí­si­cas e psi­co­ló­gi­cas re­for­çam as pau­tas di­glós­si­cas, mas nom con­se­guem mu­dar os há­bi­tos lin­guís­ti­cos. Entre ou­tros mo­ti­vos por­que a maior parte do alu­nado só fre­quen­tou esta ins­ti­tui­çom dos seis aos doze anos. Porém, o des­garro do mundo in­te­rior foi tam fundo que atin­giu o in­cons­ci­ente e vai-se ma­ni­fes­tar dé­ca­das de­pois na intimidade.

Na se­gunda fase (1956), o “de­sar­rol­lismo” pro­cura a to­tal es­co­la­ri­za­çom e aprova a cons­tru­çom de 25.000 no­vos cen­tros de en­sino. Com umha at­mos­fera de ter­ror con­so­li­dada, pro­paga-se de forma ma­ciça o co­lapso do ga­lego den­tro da casa. As maes e pais so­ci­a­li­za­dos na fase an­te­rior nom trans­mi­tem a lín­gua, trans­mi­tem o trauma. Com a nova ge­ra­çom re­a­tiva-se a vi­vên­cia de de­sam­paro que in­fringe umha ci­som na pró­pria sub­je­ti­vi­dade. Como me­ca­nismo de de­fesa pe­rante um pas­sado de maus-tra­tos, as pes­soas adul­tas ocul­tam e ex­cluem a sua des­cen­dên­cia da co­mu­ni­dade linguística.

Na ter­ceira fase (1976), o for­ta­le­ci­mento das or­ga­ni­za­çons na­ci­o­na­lis­tas forja umha tí­mida es­pe­rança no meio dumha au­to­es­tima co­le­tiva des­feita. Na Galiza con­tem­po­râ­nea, o so­ci­o­lin­guista Fernando Ramalho quan­ti­fica em 70.000 as pes­soas ne­o­fa­lan­tes. Milhares de ho­mens e mu­lhe­res que nom acei­tá­rom a pri­va­çom lin­guís­tica, ra­chá­rom com o medo e in­cor­po­rá­rom-se ao ga­lego de adul­tas. Eis o ob­je­tivo: vi­ver sem com­ple­xos, fa­lar com cons­ci­ên­cia. Contudo, esta nova fase de re­pa­ra­çom co­mu­ni­tá­ria ainda nom con­tra-ar­resta as duas an­te­ri­o­res que sus­te­nhem o pro­cesso etnocida.

Para interrompermos o seu impacto, cumpre restaurar esta memória ferida, isto é, enfrentar-se ao trauma, verbalizá-lo, socializá-lo.

Nom ba­na­li­ze­mos o fran­quismo. O ex­ter­mí­nio e re­pres­som que as clas­ses po­pu­la­res pa­de­cé­rom é dumha di­men­som di­fí­cil de ima­gi­nar. Muitas das suas inér­cias con­ti­nuam ati­vas. Para in­ter­rom­per­mos o seu im­pacto, cum­pre res­tau­rar esta me­mó­ria fe­rida, isto é, en­fren­tar-se ao trauma, ver­ba­lizá-lo, so­ci­a­lizá-lo. De aí a re­le­vân­cia do do­cu­men­tá­rio A me­mó­ria da lín­gua ou de ini­ci­a­ti­vas como a Semente. Há umha parte pe­quena mas sig­ni­fi­ca­tiva da so­ci­e­dade que re­pa­rou o trauma e trans­for­mou o es­tigma em es­tima. Em sín­tese, o ga­lego per­mite pas­sar da bar­bá­rie à de­mo­cra­cia. Imelhorável fer­ra­menta de eman­ci­pa­çom social.

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