Periódico galego de informaçom crítica

Um tempo de profundas mudanças e revisons

por
ne­rea v. lameiro

Ultimamente ar­re­pia-se-me o corpo cada vez que es­cuito a pa­la­vra ‘sus­ten­tá­vel’. Já le­va­mos al­gum tempo ob­ses­sas com a sus­ten­ta­bi­li­dade. É a úl­tima moda. Tarde pi­a­che… Porque o tempo da sus­ten­ta­bi­li­dade já pas­sou, o tempo em que po­día­mos ter feito al­gumha cousa para pa­rar o de­te­ri­oro do ecos­sis­tema em que vi­ve­mos, para ten­tar mi­ti­gar a mu­dança cli­má­tica, para de­ter a ex­tin­çom de es­pé­cies, a con­ta­mi­na­çom do mar, ou as guer­ras po­los úl­ti­mos recursos.

Quando o pri­meiro mundo fala de sus­ten­ta­bi­li­dade, sim­ples­mente está a pen­sar em como fa­zer para que o nosso modo de vida per­dure para sem­pre sem ir a pior, an­tes bem sem ir a me­nos, in­clu­sive en­gor­dando essa vaca sa­grada que é o PIB, e por­tanto au­men­tando o con­sumo de bens e ser­vi­ços. Velai está a ar­ma­di­lha, por­que o que nom é sus­ten­tá­vel é o mo­delo de vida oci­den­tal, in­se­rido num sis­tema eco­nó­mico ca­pi­ta­lista, que tem como base fun­da­men­tal o cres­ci­mento con­tí­nuo e exponencial.

"Quando o primeiro mundo fala de sustentabilidade, simplesmente está a pensar em como fazer para que o nosso modo de vida perdure para sempre sem ir a pior, antes bem sem ir a menos"

CAPACIDADE DE CARGA

Um ecos­sis­tema só pode ser sus­ten­tá­vel se nom ex­ce­de­mos a sua ca­pa­ci­dade de carga, é di­zer o nú­mero de in­di­vi­duas que po­dem vi­ver nele em fun­çom dos re­cur­sos que este tem e da sua ca­pa­ci­dade de re­ge­ne­ra­çom. É al­ta­mente con­tro­ver­tida a ca­pa­ci­dade de carga do pla­neta a res­peito da es­pé­cie hu­mana. A wi­ki­pé­dia dá-nos umha es­ti­ma­çom de dez mil mi­lhons de se­res hu­ma­nos, o que ao meu ver é ex­tre­ma­da­mente oti­mista. No ou­tro ex­tremo es­tám au­to­res que dam va­lo­res di­ver­sos em fun­çom de dis­tin­tos es­tu­dos e con­si­de­ra­çons, como a mu­dança cli­má­tica ou o es­go­ta­mento dos com­bus­tí­veis fós­seis, mas que quase sem­pre si­tuam a ca­pa­ci­dade de carga do pla­neta Terra por de­baixo dos 3000 mi­lhons de ha­bi­tan­tes hu­ma­nos. Umha mag­ní­fica re­fle­xom so­bre este tema po­de­mos en­con­tra-la no en­saio “Nosotros los de­tri­tí­vo­ros” de Manuel Casal Lodeiro.
Atualmente a po­pu­la­çom mun­dial é de 7,500 mi­lhons mas de­ve­mos ter em conta no sé­culo vinte a po­pu­la­çom mul­ti­pli­cou-se por três, gra­ças à grande dis­po­ni­bi­li­dade de ener­gia que su­pu­gé­rom os com­bus­tí­veis fós­seis, que per­mi­tí­rom a re­vo­lu­çom in­dus­trial com todo o que esta trouxo con­sigo: in­cre­mento da pro­du­çom de ali­men­tos e me­lhora nas con­di­çons hi­gié­nico-sa­ni­tá­rias, va­ci­nas por exemplo.

CRIAR RIQUEZA

Melhor de­vê­ra­mos di­zer trans­fe­rir ri­queza, neste sen­tido as­se­me­lha-se ao caso da ener­gia. A ri­queza nem se cria nem se des­trói, sim­ples­mente se trans­forma… Muda de maos, e acu­mula-se. Desde que as so­ci­e­da­des hu­ma­nas dei­xá­rom de ser tri­bos nó­ma­das e se con­ver­té­rom em so­ci­e­da­des as­sen­ta­das num ter­ri­tó­rio re­pete-se o mesmo pa­trom. Crescimento das po­pu­la­çons e con­sumo dos re­cur­sos até que es­tes co­me­çam a es­go­tar-se, ne­ces­si­dade de ir na pro­cura des­ses re­cur­sos para além dos li­mi­tes do seu ecos­sis­tema e con­fli­tos por es­ses mes­mos re­cur­sos. Conflitos tam­bém den­tro das co­mu­ni­da­des pola pro­pri­e­dade dos re­cur­sos. O sis­tema eco­nó­mico vi­gente per­se­gue a ma­xi­mi­za­çom dos be­ne­fí­cios, e a re­pro­du­çom do ca­pi­tal. Está ba­se­ado no cres­ci­mento con­ti­nuo, que re­quer um con­sumo de re­cur­sos (ma­té­rias pri­mas e ener­gia) tam­bém cres­cente. Isto choca com o feito de vi­ver­mos num mundo fi­nito, que por muito que fa­ga­mos e in­ven­te­mos tem li­mi­tes. Por exem­plo, a ener­gia so­lar é re­no­vá­vel mas, é sus­ten­tá­vel? Quanta ener­gia con­sume a fa­bri­ca­çom e posta em mar­cha de umha placa fo­to­vol­taica em re­la­çom à ener­gia que logo rende? E a ri­queza que gera, a onde vai pa­rar? É pos­sí­vel subs­ti­tuir toda a ener­gia que hoje con­su­mi­mos por ener­gia de fon­tes renováveis?

É possível substituir toda a energia que hoje consumimos por energia de fontes renováveis?

COLAPSO E RESILIENCIA

Historicamente te­nhem-se dado mu­dan­ças me­ta­bó­li­cas nas so­ci­e­da­des, ou­tras ve­zes te­nhem-se dado co­lap­sos so­ci­ais. A queda do im­pé­rio ro­mano ou a re­vo­lu­çom in­dus­trial som dous exem­plos. Sabemos que nos en­fren­ta­mos a uma mu­dança muito pro­funda na atu­a­li­dade, e o que a ca­rac­te­riza do meu ponto de vista, é que é umha mu­dança glo­bal. Vem pro­vo­cado por um es­go­ta­mento dos re­cur­sos (ener­gia e ma­té­rias pri­mas) e acom­pa­nhada da mu­dança do clima.
Já que o tempo da sus­ten­ta­bi­li­dade pas­sou, só po­de­mos am­pa­rar-nos num termo que, a pouco que nos des­cui­de­mos, tam­bém per­ver­te­rám. Já ou­vi­mos fa­lar nos âm­bi­tos po­lí­ti­cos e eco­nó­mi­cos de re­si­li­ên­cia, mas será de re­si­li­ên­cia desse sis­tema que pro­vo­cou esta si­tu­a­çom de overshoot, de ex­tra­li­mi­ta­çom. Essa nom é a re­si­li­ên­cia que nos in­te­ressa como se­res humanos.

Se nom podemos já ser sustentáveis, devemos no mínimo preparar-nos para o choque que vai representar o esgotamento de recursos que já temos encima

Se nom po­de­mos já ser sus­ten­tá­veis, de­ve­mos no mí­nimo pre­pa­rar-nos para o cho­que que vai re­pre­sen­tar o es­go­ta­mento de re­cur­sos que já te­mos en­cima, e com ele as pro­fun­das mu­dan­ças no nosso mo­delo eco­nó­mico e so­cial que já co­men­çá­rom, em forma de re­for­mas la­bo­rais, re­corte de di­rei­tos so­ci­ais e de li­ber­da­des. Começou-nos o po­der, para me­lhor se­guir con­tro­lando os re­cur­sos e a ri­queza. Devemos tam­bém co­me­çar a pre­pa­rar-nos desde abaixo, a cons­truir a nossa re­si­li­ên­cia, in­di­vi­dual com uma mu­dança de va­lo­res e ob­je­ti­vos vi­tais, mas so­bre­tudo co­le­tiva, cri­ando co­mu­ni­dade nas nos­sas lo­ca­li­da­des, no nosso en­torno. Reconhecendo a nossa in­ter­de­pen­dên­cia e a nossa eco de­pen­dên­cia. Eis onde co­meça um longo tempo de pro­fun­das mu­dan­ças e re­vi­sons, re­vi­sons dos nos­sos ob­je­ti­vos como se­res hu­ma­nos, dos lo­gros atin­gi­dos nas nos­sas lui­tas, de classe, de gé­nero, e da ma­neira em que ha­bi­tu­al­mente fô­rom apro­vei­ta­das para se­guir trans­fe­rindo ri­queza. Quiçais este mo­mento seja umha opor­tu­ni­dade para sim­pli­fi­car, para des­com­pli­car a vida. O mau é que pos­si­vel­mente nom dis­po­nha­mos já de muito tempo.

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