Em dezembro de 2019 viu a luz Madialeva, o primeiro romance gráfico da licenciada em Física de Partículas e docente em Tecnologia, Ana Moreiras. Moreiras, que desenha desde criança, introduze nesta obra onze relatos protagonizados por mulheres dumha aldeia de Friol, Miraz. Falamos com ela, via telefónica, de garito a garito.
Madialeva começa com um texto em que explicas que houvo experiências vitais que te levárom a querer escrever este relato.
Referes-te à endometriose, nom é? Conto‑o porque é umha doença mui invisibilizada e que padecemos muitas mulheres. Dá-me arrepio como a sociedade trata de evitar o tema, nomeadamente, a respeito da dor e da esterilidade. Principalmente em relaçom à esterilidade, achei muito estigma. Eu tentei ficar grávida, nom é que tratasse de ter umha família numerosa, mas produze dentro de ti sentimentos que ignoravas. Fum consciente de quanto significava vitalmente. Aí comecei a necessitar ter essa descendência, essa continuidade do relato. Necessitava sacá-lo fora, falar da esterilidade e fazer algo positivo disso, criativo e positivo, com um matiz alegre.
A endometriose é umha doença mui invisibilizada. Necessitava sacá-lo fora, falar da esterilidade e fazer algo positivo disso, criativo e positivo, com um matiz alegre.
Essa alegria percebe-se no relato. Denúncias o machismo ou o caciquismo do rural, mas também falas de laços entre mulheres que luitam, que se ajudam a combatê-los.
O livro nom nasce como um produto de luita feminista, mas no momento em que escreves e situas a focagem nas mulheres, sendo ti a narradora, como mulher há histórias que só podem ter esse tom. Eu precisava, efetivamente, contar esse relato desse ponto de vista. Lim muito o rural, a Vilas, a Xabier Alcalá, e tinha interiorizado esse neno labrego, mas como quando és pequena e jogavas aos marcianos, à série V, e querias ser o ‘prota’ masculino. Ao começar a escrever descobrim que saía a nena labrega, com o seu ponto de vista, as suas emoçons femininas e também as suas reivindicaçons. Eu, tanto dum lado da família quanto do outro, estou orgulhosa das mulheres presentes e que tenho trás de mim. Nom fôrom mulheres submissas e nom me educárom como uma pessoa submissa.
Eu, tanto dum lado da família quanto do outro, estou orgulhosa das mulheres presentes e que tenho trás de mim. Nom fôrom mulheres submissas e nom me educárom como uma pessoa submissa.
Essas mulheres de que falas chegárom a ler os teus relatos?
Estám nisso. Os contos partem de três, umha delas é a minha mae, que nom sae na capa, mas sim nalgum dos intertítulos; é loira, mui sueva. Ela, assim como umha prima minha, sim que leu os relatos e tivo umha batalha de sentimentos. Por umha banda, sentia emoçom e tenrura, por outra, umha sorte de pudor ou vergonha de ter vivido tam escrava de determinadas estruturas; mas também coragem, valentia. Tivo algum ataque de pânico com histórias que identificava e que tinham desenlaces que a ela lhe pareciam terríveis, como um aborto. Eu tivem que explicar-lhe que nom conduze a nada julgar o passado desde o presente, o que viveu foi fruto dumha conjuntura que nom vivemos atualmente. “Mamá, que se ficciona!”, dizia-lhe, “porque eu escuitava, mas também engadia finais alternativos da minha colheita”.
Como transcorrérom as apresentaçons?
Faltou o feedback da gente com quem falei, porque nom leram a obra, mas foi emocionante na mesma, em todos os casos. Notei olhadas brilhantes em todas elas, com orgulho mesmo sem o ter lido e isso é emocionante! Passei algo de pudor; eu som professora, nom perita na matéria, e dá apuro. Som leitora de BD, mas nom profissional; som usuária da aldeia, mas nom me criei integramente nela. Todo o que ataco neste romance é desde a humildade.