“Son jóvenes. Son primos. Son emprendedores. Son los Pierre. Y quieren comerse el mundo. Ambos tienen esa media sonrisa del emprendedor que sabe que tiene éxito. Esa mirada inquieta. […]”.
Nestes termos introduzia um jornalista do suplemento Papel do jornal El Mundo umha peça sobre dous novos empresários que estám a triunfar com as suas apps para dispositivos móveis (1). Com um estilo próprio das reportagens publicitárias, os dous criativos explicam em que consistem e como funcionam os seus inventos.
O jornalista pergunta-lhes polo conselho que dariam aos novos empreendedores: “O primeiro, que empreender nom é para toda a gente. Há que ter inquedanças, ser inconformista, ter vontade de criar algo novo que vá ser usado”, responde um. Óscar Pierre, o primo que lançou umha app de compras ao domicílio, espera faturar entre 35 e 40 milhons de euros neste ano. Nom lhe dá vergonha reconhecer que a sua empresa deu de alta como autónomos os seus 750 repartidores e que estes apenas recebem entre dous e quatro euros por entrega.
Esta moda mediática nom é nova. Já nos anos ’90 e primeiros 2000, os relatos de sucesso económico individual abundavam nas páginas da imprensa financeira, nomeadamente anglo-saxónica. Os yuppies que triunfavam no casino das finanças, ao estilo de Leonardo DiCaprio em O lobo de Wall Street, eram apresentados como modelos sociais a imitar.
Os yuppies das finanças, ao estilo de DiCaprio em O lobo de Wall Street, já eram apresentados como modelos sociais a seguir pola imprensa dos anos '90 e 2000
Nos últimos anos o modelo de empreendedor promovido pola imprensa alargou-se para acolher novos perfis. Personagens como Mario Conde ou Amancio Ortega já nom som os únicos heróis da economia. Os rapazes que saem da universidade e tenhem sucesso ao montar umha startup tecnológica ou o trabalhador desempregado que resolve procurar a vida como trabalhador independente som os novos exemplos que nos ensinam que, se se tem vontade, nom é necessário aguardar pola ajuda de ninguém para sair adiante.
‘Esta empresa já nom existe’
Os casos de triunfo pessoal com que muitas vezes a imprensa retrata os empreendedores distam bastante da realidade que ilustram os dados estatísticos. Segundo dados do IGE, entre 2009 e 2014 cerca de 127 mil negócios fechárom as portas no nosso país, enquanto no mesmo período apenas se criárom cerca de 116 mil, o que deixa um saldo de 11.190 empresas menos nesses cinco anos. Em 2015, último ano para o que há dados, esta tendência inverteu-se e o ano rematou com 2.000 empresas mais, umha cifra que, porém, reflete um ritmo de criaçom de empresas mui inferior o anterior à crise. 2008, o último ano com saldo positivo antes deste ciclo, findou com 4.300 empresas mais.
Por outra parte, os dados de filiaçom à Segurança Social no regime de autónomos revelam que o auto-emprego também nom é um caminho doado. Apesar do discurso que identifica os autónomos como o motor que sacará a economia da crise, o certo é que o número de trabalhadores por conta própria nom deixou de cair desde 2009. Se, em janeiro daquele ano, havia na Galiza umha média de aproximadamente 232 mil pessoas registadas como autónomas, no mesmo mês deste ano apenas ficam 214 mil, isto é, quase 18.000 menos, segundo dados da Segurança Social. A única exceçom durante este período foi a do ano 2014, quando o censo de autónomos subiu cerca de três mil pessoas.
Psicologia ou economia?
De que se precisa para triunfar como empreendedor? Acesso a umha educaçom de qualidade? Apoio das administraçons públicas? Que os bancos concedam créditos com tipos de juro acessíveis? Que a gente disponha de empregos estáveis e bons salários para poder demandar os teus serviços?
De que se precisa para triunfar como empreendedor? Damos um passeio pola hemeroteca digital do El País e as primeiras respostas tenhem mais a ver com a psicologia do que com a economia
Damos um passeio pola hemeroteca digital do jornal El País e as primeiras respostas que encontramos estám mais ligadas ao campo da psicologia que ao da economia. Em “Cómo criar a nuestros hijos para que sean futuros emprendedores”, do suplemento Smoda, umha coatch explica que potenciar valores como “a segurança e a estabilidade económica por cima doutros como o talento e a paixom” produziu “umha maré de amantes do funcionariado” (2). Noutro texto do suplemento Retina intitulado “Los rasgos de la personalidad que hacen triunfar a los emprendedores”, afirma-se que a chave está em fatores como ser propenso ao risco, pró-ativo, autónomo, inovador ou em estar motivado (3).
Individualismo e competiçom
A que responde esta adoraçom da imprensa mainstream pola figura do empreendedor? Paschal Preston e Henry Silke, da Universidade de Dublin, assinalam o individualismo e a competiçom como dous dos conceitos-chave que sustentam o discurso neoliberal (4). Som os mesmos conceitos básicos que se encontram nos artigos jornalísticos sobre empreendimento. Segundo esta narrativa, o porvir dumha pessoa depende basicamente de si mesma: “Esses da cima da escada chegárom ali polo seu sucesso empreendedor e nom por nengumha vantagem estrutural”. Da mesma maneira, os de embaixo da pirâmide – precários, desempregados, pobres, etc. – também som os únicos responsáveis pola sua miséria. Se alguém montar umha empresa e fracassar, é porque nom tinha perfil empreendedor.
Ao situar o foco no indivíduo, este discurso exime de toda responsabilidade os fatores estruturais que determinam a situaçom económica das pessoas, como as políticas públicas existentes ou o próprio sistema económico. Desta maneira, que sentido teria mudar as políticas económicas ou, até, o próprio sistema? O único que cumpriria mudar é a própria mentalidade para se adaptar a um ambiente económico já percebido como natural.
(1) “Los Pierre: el último caso de emprendedores españoles de éxito”, Papel (El Mundo), 25/01/2017.
(2) “Cómo criar a nuestros hijos para que sean futuros emprendedores”, Smoda (El País), 20/03/2017.
(3) “Los rasgos de la personalidad que hacen triunfar a los emprendedores”, Retina (El País), 12/04/2017.
(4) Preston, P. & Silke, H. (2011). Market ‘realities’. De-coding neoliberal ideology and media discourses. Australian Journal of Communication, 38 (3), 47–64.