A sentença favorável à devoluçom do Paço de Meirás para o Estado vem dar a razom a aquelas vozes que levam anos a denunciarem que a Transiçom foi apenas umha reforma do regime franquista que deixou intatas as elites e as suas prebendas. O trabalho militante de muitas ativistas pola memória, assim como várias investigaçons historiográficas, deixou-nos já muitíssima documentaçom que expom as costuras do que se nos vendeu como um exercício democrático modelo. Seguindo com o caso de Meirás, o trabalho realizado por Carlos Babío e Manuel Pérez Lorenzo, que leva por título ‘Meirás. Un pazo, un caudillo, un espolio’ é um bom exemplo deste tipo de trabalhos.
O atual estado espanhol nom pode entender-se ainda sem Franco: a permanência de umha instituiçom decrépita e corrupta como a monarquia, a sagrada unidade territorial, a insignia rojigualda ou a conivência institucional e mediática com discursos xenófobos e machistas som várias das pegadas ainda indeléveis de quarenta anos de ditadura fascista. Rachar de umha vez por todas com a herdança do franquismo nom é só, ainda que também, liberar-nos da simbologia franquista das nossas ruas ou restituir a dignidade das vítimas da repressom. Rachar com o franquismo significa também rachar com a Espanha atual, filha do regime fascista.
Talvez a sentença primeira sobre a propriedade de Meirás, que ainda nom é firme, signifique que algo está a mudar socialmente na forma de entender o passado mais recente. Mas para a consecuçom dessa sentença fôrom necessários muitos anos de investigaçom, mobilizaçom e denúncia. Ainda que semelhe que as instituçons espanholas estám a dar passos em saldar contas com o passado franquista, fôrom as organizaçons populares as que estivérom na vanguarda. E agora talvez já nom se trate de reescrever o passado, senom o presente.