O festival da poesia no condado é atualmente um evento referencial para a cultura popular e festiva do verao galego. desde 1981, a sociedade desportiva e cultural do condado (scd) organiza este encontro, onde a poesia é o centro e a música, o desporto ou a artesania conjugam umha ampla proposta de hegemonia cultural que já é modelo para muitas no que será a sua 35 ediçom.
A tarde do 25 de julho começou, dentro dos atos de celebraçom do Festigal, com a apresentaçom do livro ‘50 anos de resistência cultural. SCD-Condado 1973–2023’. Lá estavam algumhas das pessoas hoje responsáveis de que, entre outras cousas, podamos seguir a gozar do Festival da Poesia no Condado, que este ano celebra a sua trigésimo quarta ediçom. Contodo, a história e o fazer da SCD nom se pode resumir apenas no Festival. “Era um livro que havia que fazer”, umha vida ainda em curso que obrigatoriamente devia ser escrita para já, sem perder tempo e aproveitando a ocasiom do aniversário. Assim lho transmitírom os velhos da SCD, a primeira geraçom de ativistas de 1973, moços e moças que tinham a vontade de serem o centro das suas vidas, de escreverem a sua história junto com a vizinhança da comarca do Condado. A mesma geraçom que em 1981, e com ajuda de umha ampla rede, sempre presente nas suas palavras, organizou o primeiro Festival da Poesia, daquela ainda itinerante pola geografia condadesa. O jornalista Gustavo Luca refere num capítulo do próprio livro que a apariçom do Festival da Poesia foi aceite por toda a parte, mas que ademais existia, naquela altura, certa identificaçom da poesia com umha espécie de “território liberado”. Vam 50 anos de trajetória rebelde e é por isso que “nom podiam deixar passar a data”.
“Nesta ediçom facilitou-nos as cousas ter fechado o cartaz de poetas e bandas em janeiro, embora ainda estejamos com questons logísticas. Esse trabalho menos visível recai num grupo reduzido de pessoas, mas o número quintuplica-se no mesmo dia do festival”
Em 1981 o Festival da Poesia no Condado deu os seus primeiros passos da mao desse coletivo que ainda hoje leva o peso do mesmo: a Sociedade Cultural e Desportiva do Condado. Aquela sociedade, que nascera de um projeto de equipa de futebol popular e reunia já daquela relativa legitimidade na vida política e cultural da comarca, decide dar o salto para organizar o que será o Festival pioneiro no nosso país. Foi ademais, assim o argumentam no livro, o primeiro certame poético nacional após o regime ditatorial de Franco. Um Festival que nascia com o objetivo de levar a poesia para o campo da festa, de tirar os poemas dos espaços ocupados polas elites culturais, de pôr fim ao que entendiam como despossessom da cultura do povo, nom unicamente a poesia senom também a escultura, a pintura, a música, o desporto… Um Festival que nunca foi condecorado, homenageado ou nem sequer reconhecido polas instituiçons que ocupam o poder político, e que até sofrendo dificuldades nunca cedeu no seu trabalho nem perdeu de vista os objetivos com que nasce.
É em parte o sentido do comum, do coletivo, da autogestom historicamente assente nas práticas paroquiais, o que define e singulariza as lógicas do Festival da Poesia, nom apenas da sua planificaçom quanto ao programa como também da própria posta em cena, dos esforços e atividades nos dias de realizaçom do evento. Assim o explicam na SCD: “Nesta ediçom facilitou-nos muito as cousas ter fechado praticamente o cartaz de poetas e bandas musicais em janeiro, embora ainda estejamos com as últimas questons logísticas. Esse trabalho menos visível sim que recai num grupo reduzido de pessoas, mas o número quintuplica-se no mesmo dia do festival para levar avante o trabalho”.
Mas o Festival nom virou apenas num evento imprescindível do verao por ser um projeto de cultura de base autogerida muito potente, senom também por contar com umha qualidade destacada entre os eventos musicais e culturais da época estival. Assim é que do programa preparado para o primeiro fim de semana de setembro, comentam-nos que “é complicado destacar umha única cousa, porque o cartaz está à altura da celebraçom do nosso 50 aniversário”. Contodo, salientam algumha palestra “com as pessoas protagonistas polas quais chegamos até aqui, e que falarám dos 50 anos de história da associaçom”. Nesta ocasiom poderemos assistir ademais à “projeçom contínua, num espaço habilitado da Casa do Conde, da gravaçom da VIII Ediçom do Festival da Poesia no Condado, do ano 1988”. O festival foi emitido naquela altura em direto pola TVG. É sem dúvida “um documento audiovisual histórico que te traslada para o torreiro da festa daqueles dias”. Da SCD destacam ademais a presença do artista basco Fermin Muguruza, que para além da sua participaçom na mesa de ideias, junto com vultos da nossa cultura como Sés, Xurxo Souto ou Noe da Arca, está programada a projeçom do seu filme ‘Black is Beltza II: Ainhoa’. Com isto cumprem, dizem, “com o desejo do Manolo Soto, o Rata, que sempre quijo ter no festival o Muguruza”. O que tampouco nom esquecem na conversaçom é a presença de “algumhas das poetas mais destacadas da actualidade na Galiza e outras emergentes”, que sempre tenhem espaço no evento, tanto no palco grande para a chegada da noite como em diferentes recantos pensados para o recital poético mais íntimo durante o dia.
Insistem em que um dos seus objetivos segue a ser o mesmo polo que nasceu, “o acesso de todo o mundo à poesia, umha expressom artística muitas vezes tam afastada da gente de a pé”
O pessoal da atual organizaçom assegura-nos que “seguem a manter essa essência de festival nacional-popular”, com umha ideia clara de “levar o melhor da nossa cultura desde o povo para o povo e de maneira gratuita”, algo que já agora começa a ser difícil de encontrar na ampla rede de festivais. Insistem em que um dos seus objetivos segue a ser o mesmo polo que nasceu, “o acesso de todo o mundo à poesia, umha expressom artística muitas vezes tam afastada da gente de a pé e que o festival procura trazê-la bem pertinho de um amplo e diverso público”. Todas as companheiras da Cultural e Desportiva dizem sentir mais do que nada “orgulho” quando se lhes pergunta o que para elas significa representar hoje essa trajetória de 50 anos e essas 34 ediçons do Festival da Poesia. “Quando conheces a história da SCD”, dizem, “é inevitável nom senti-lo se reparas em que continuas o trabalho daquelas companheiras e companheiros em 1973”.