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Foto de 1978. Quatro militantes da SCD Condado, com fouzinhos e sachos na mao, estám apoiados numha garita arrodeada de erva, durante umhas jornadas de limpeza das muralhas acarom do rio Minho.

Festival da Poesia do Condado. Mais um ano

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Foto de 1978. Quatro militantes da SCD Condado, com fouzinhos e sachos na mao, estám apoiados numha garita arrodeada de erva, durante umhas jornadas de limpeza das muralhas acarom do rio Minho.
Tarefas de lim­peza das mu­ra­lhas de Salvaterra an­tes da Festa do Vinho or­ga­ni­zada pola SCD em 1978.

O festival da poesia no condado é atualmente um evento referencial para a cultura popular e festiva do verao galego. desde 1981, a sociedade desportiva e cultural do condado (scd) organiza este encontro, onde a poesia é o centro e a música, o desporto ou a artesania conjugam umha ampla proposta de hegemonia cultural que já é modelo para muitas no que será a sua 35 ediçom.

A tarde do 25 de ju­lho co­me­çou, den­tro dos atos de ce­le­bra­çom do Festigal, com a apre­sen­ta­çom do li­vro ‘50 anos de re­sis­tên­cia cul­tu­ral. SCD-Condado 1973–2023’. Lá es­ta­vam al­gumhas das pes­soas hoje res­pon­sá­veis de que, en­tre ou­tras cou­sas, po­da­mos se­guir a go­zar do Festival da Poesia no Condado, que este ano ce­le­bra a sua tri­gé­simo quarta edi­çom. Contodo, a his­tó­ria e o fa­zer da SCD nom se pode re­su­mir ape­nas no Festival. “Era um li­vro que ha­via que fa­zer”, umha vida ainda em curso que obri­ga­to­ri­a­mente de­via ser es­crita para já, sem per­der tempo e apro­vei­tando a oca­siom do ani­ver­sá­rio. Assim lho trans­mi­tí­rom os ve­lhos da SCD, a pri­meira ge­ra­çom de ati­vis­tas de 1973, mo­ços e mo­ças que ti­nham a von­tade de se­rem o cen­tro das suas vi­das, de es­cre­ve­rem a sua his­tó­ria junto com a vi­zi­nhança da co­marca do Condado. A mesma ge­ra­çom que em 1981, e com ajuda de umha am­pla rede, sem­pre pre­sente nas suas pa­la­vras, or­ga­ni­zou o pri­meiro Festival da Poesia, da­quela ainda iti­ne­rante pola ge­o­gra­fia con­da­desa. O jor­na­lista Gustavo Luca re­fere num ca­pí­tulo do pró­prio li­vro que a apa­ri­çom do Festival da Poesia foi aceite por toda a parte, mas que ade­mais exis­tia, na­quela al­tura, certa iden­ti­fi­ca­çom da po­e­sia com umha es­pé­cie de “ter­ri­tó­rio li­be­rado”. Vam 50 anos de tra­je­tó­ria re­belde e é por isso que “nom po­diam dei­xar pas­sar a data”.

“Nesta edi­çom fa­ci­li­tou-nos as cou­sas ter fe­chado o car­taz de po­e­tas e ban­das em ja­neiro, em­bora ainda es­te­ja­mos com ques­tons lo­gís­ti­cas. Esse tra­ba­lho me­nos vi­sí­vel re­cai num grupo re­du­zido de pes­soas, mas o nú­mero quin­tu­plica-se no mesmo dia do festival”

Em 1981 o Festival da Poesia no Condado deu os seus pri­mei­ros pas­sos da mao desse co­le­tivo que ainda hoje leva o peso do mesmo: a Sociedade Cultural e Desportiva do Condado. Aquela so­ci­e­dade, que nas­cera de um pro­jeto de equipa de fu­te­bol po­pu­lar e reu­nia já da­quela re­la­tiva le­gi­ti­mi­dade na vida po­lí­tica e cul­tu­ral da co­marca, de­cide dar o salto para or­ga­ni­zar o que será o Festival pi­o­neiro no nosso país. Foi ade­mais, as­sim o ar­gu­men­tam no li­vro, o pri­meiro cer­tame poé­tico na­ci­o­nal após o re­gime di­ta­to­rial de Franco. Um Festival que nas­cia com o ob­je­tivo de le­var a po­e­sia para o campo da festa, de ti­rar os po­e­mas dos es­pa­ços ocu­pa­dos po­las eli­tes cul­tu­rais, de pôr fim ao que en­ten­diam como des­pos­ses­som da cul­tura do povo, nom uni­ca­mente a po­e­sia se­nom tam­bém a es­cul­tura, a pin­tura, a mú­sica, o des­porto… Um Festival que nunca foi con­de­co­rado, ho­me­na­ge­ado ou nem se­quer re­co­nhe­cido po­las ins­ti­tui­çons que ocu­pam o po­der po­lí­tico, e que até so­frendo di­fi­cul­da­des nunca ce­deu no seu tra­ba­lho nem per­deu de vista os ob­je­ti­vos com que nasce.

É em parte o sen­tido do co­mum, do co­le­tivo, da au­to­ges­tom his­to­ri­ca­mente as­sente nas prá­ti­cas pa­ro­qui­ais, o que de­fine e sin­gu­la­riza as ló­gi­cas do Festival da Poesia, nom ape­nas da sua pla­ni­fi­ca­çom quanto ao pro­grama como tam­bém da pró­pria posta em cena, dos es­for­ços e ati­vi­da­des nos dias de re­a­li­za­çom do evento. Assim o ex­pli­cam na SCD: “Nesta edi­çom fa­ci­li­tou-nos muito as cou­sas ter fe­chado pra­ti­ca­mente o car­taz de po­e­tas e ban­das mu­si­cais em ja­neiro, em­bora ainda es­te­ja­mos com as úl­ti­mas ques­tons lo­gís­ti­cas. Esse tra­ba­lho me­nos vi­sí­vel sim que re­cai num grupo re­du­zido de pes­soas, mas o nú­mero quin­tu­plica-se no mesmo dia do fes­ti­val para le­var avante o trabalho”.

Dúzias de pessoas participam de um ato de celebraçom do 50 aniversário nas muralhas de Salvaterra.
Celebraçom do ani­ver­sá­rio na pri­ma­vera deste ano. | charo lopes

Mas o Festival nom vi­rou ape­nas num evento im­pres­cin­dí­vel do ve­rao por ser um pro­jeto de cul­tura de base au­to­ge­rida muito po­tente, se­nom tam­bém por con­tar com umha qua­li­dade des­ta­cada en­tre os even­tos mu­si­cais e cul­tu­rais da época es­ti­val. Assim é que do pro­grama pre­pa­rado para o pri­meiro fim de se­mana de se­tem­bro, co­men­tam-nos que “é com­pli­cado des­ta­car umha única cousa, por­que o car­taz está à al­tura da ce­le­bra­çom do nosso 50 ani­ver­sá­rio”. Contodo, sa­li­en­tam al­gumha pa­les­tra “com as pes­soas pro­ta­go­nis­tas po­las quais che­ga­mos até aqui, e que fa­la­rám dos 50 anos de his­tó­ria da as­so­ci­a­çom”. Nesta oca­siom po­de­re­mos as­sis­tir ade­mais à “pro­je­çom con­tí­nua, num es­paço ha­bi­li­tado da Casa do Conde, da gra­va­çom da VIII Ediçom do Festival da Poesia no Condado, do ano 1988”. O fes­ti­val foi emi­tido na­quela al­tura em di­reto pola TVG. É sem dú­vida “um do­cu­mento au­di­o­vi­sual his­tó­rico que te tras­lada para o tor­reiro da festa da­que­les dias”. Da SCD des­ta­cam ade­mais a pre­sença do ar­tista basco Fermin Muguruza, que para além da sua par­ti­ci­pa­çom na mesa de ideias, junto com vul­tos da nossa cul­tura como Sés, Xurxo Souto ou Noe da Arca, está pro­gra­mada a pro­je­çom do seu filme ‘Black is Beltza II: Ainhoa’. Com isto cum­prem, di­zem, “com o de­sejo do Manolo Soto, o Rata, que sem­pre quijo ter no fes­ti­val o Muguruza”. O que tam­pouco nom es­que­cem na con­ver­sa­çom é a pre­sença de “al­gumhas das po­e­tas mais des­ta­ca­das da ac­tu­a­li­dade na Galiza e ou­tras emer­gen­tes”, que sem­pre te­nhem es­paço no evento, tanto no palco grande para a che­gada da noite como em di­fe­ren­tes re­can­tos pen­sa­dos para o re­ci­tal poé­tico mais ín­timo du­rante o dia.

Insistem em que um dos seus ob­je­ti­vos se­gue a ser o mesmo polo que nas­ceu, “o acesso de todo o mundo à po­e­sia, umha ex­pres­som ar­tís­tica mui­tas ve­zes tam afas­tada da gente de a pé”

O pes­soal da atual or­ga­ni­za­çom as­se­gura-nos que “se­guem a man­ter essa es­sên­cia de fes­ti­val na­ci­o­nal-po­pu­lar”, com umha ideia clara de “le­var o me­lhor da nossa cul­tura desde o povo para o povo e de ma­neira gra­tuita”, algo que já agora co­meça a ser di­fí­cil de en­con­trar na am­pla rede de fes­ti­vais. Insistem em que um dos seus ob­je­ti­vos se­gue a ser o mesmo polo que nas­ceu, “o acesso de todo o mundo à po­e­sia, umha ex­pres­som ar­tís­tica mui­tas ve­zes tam afas­tada da gente de a pé e que o fes­ti­val pro­cura trazê-la bem per­ti­nho de um am­plo e di­verso pú­blico”. Todas as com­pa­nhei­ras da Cultural e Desportiva di­zem sen­tir mais do que nada “or­gu­lho” quando se lhes per­gunta o que para elas sig­ni­fica re­pre­sen­tar hoje essa tra­je­tó­ria de 50 anos e es­sas 34 edi­çons do Festival da Poesia. “Quando co­nhe­ces a his­tó­ria da SCD”, di­zem, “é ine­vi­tá­vel nom senti-lo se re­pa­ras em que con­ti­nuas o tra­ba­lho da­que­las com­pa­nhei­ras e com­pa­nhei­ros em 1973”.

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