Periódico galego de informaçom crítica

A realidade virtual: a materialidade do imaterial

por
adri­ana p. villanueva

Como bem é sa­bido, umha parte cada vez mais im­por­tante da ex­pe­ri­ên­cia men­tal e emo­ci­o­nal das pes­soas, tam­bém na Galiza, está sendo con­fi­gu­rada cada vez mais po­los ecráns dos te­le­mó­veis, com­pu­ta­do­res e te­le­vi­sons. Os inqué­ri­tos in­di­cam que 72% dos la­res ga­le­gos dis­po­nhem dum com­pu­ta­dor, 69% de banda larga e 92.9% uti­li­zá­rom um dis­po­si­tivo mó­vel nos úl­ti­mos três me­ses. Estima-se que em 2015 os dis­po­si­ti­vos mó­veis a ní­vel mun­dial já al­can­çá­rom os 7.9 mil mi­lhons de uni­da­des, mais do que pes­soas no pla­neta, e a ten­dên­cia con­ti­nua a au­men­tar. Existe um forte con­senso so­cial em que as no­vas tec­no­lo­gias, e es­pe­ci­al­mente a rede, con­tri­bui para criar so­ci­e­da­des mais in­ter­li­ga­das, mais in­for­ma­das e, por­tanto, mais cons­ci­en­tes do mundo em que ha­bi­ta­mos. Som, sem dú­vida, as van­ta­gens do “ine­vi­tá­vel” pro­gresso tec­no­ló­gico na era da in­for­ma­çom. Ainda as­sim, o que cos­tuma pas­sar mais inad­ver­tido é o facto de a re­a­li­dade vir­tual cons­ti­tuir umha grande má­quina de pro­du­çom de sub­je­ti­vi­dade, mor­mente con­forme com os pa­ra­dig­mas pre­do­mi­nan­tes. Informaçons e re­la­çons que cir­cu­lam, ao mesmo tempo que in­for­ma­çons e re­la­çons que se em­po­bre­cem e des­troem. Como bem ana­li­sou o so­ció­logo Zygmunt Baumann, as in­ter­co­ne­xons e os vín­cu­los que se ge­ram na rede som lí­qui­dos, e ado­tam for­mas cada vez mais pre­cá­rias, frag­men­ta­das, vo­lá­teis e uti­li­ta­ris­tas pró­prios do pro­jeto da mo­der­ni­dade co­lo­nial. Ora, tema aparte, o que sem dú­vida nom som vo­lá­teis nem lí­qui­das som as ne­ces­si­da­des ma­te­ri­ais que sus­ten­tam esta re­a­li­dade virtual.

Estudos apontam a que um computador de sobremesa requer aproximadamente 240 kg de combustíveis fósseis, 22 kg de produtos químicos variados e 1,5 toneladas de água

O so­ció­logo e psi­có­logo Fernando Cembranos aponta para umha das con­tra­di­çons mais in­qui­e­tan­tes dos nos­sos tem­pos: pa­ra­le­la­mente a que os ter­ri­tó­rios que ha­bi­ta­mos se vam de­gra­dando ou em­po­bre­cendo e os con­fli­tos po­los re­cur­sos au­men­tando, as no­vas tec­no­lo­gias de pro­du­çom da re­a­li­dade som ca­pa­zes de cons­truir umha es­ca­pada vir­tual cada vez com maior ni­ti­dez e re­so­lu­çom, co­res e pos­si­bi­li­da­des de des­frute in­di­vi­du­a­li­za­das. Nos nos­sos con­tex­tos, se­gu­ra­mente, a mai­o­ria das pes­soas que co­nhe­ce­mos sa­bem o que o som as al­te­ra­çons cli­má­ti­cas ou já al­gu­nha vez ou­ví­rom fa­lar da crise eco­ló­gica. Mas, se­gu­ra­mente tam­bém, mui pou­cas te­mos con­sa­ci­ên­cia real da im­por­tán­cia ca­pi­tal des­tes acon­te­ci­men­tos, tanto a ní­vel glo­bal como quo­ti­di­ano. Desde me­a­dos da dé­cada de 70, o con­sumo mun­dial de ener­gia e ma­te­ri­ais, as­sim como os re­sí­duos ge­ra­dos a ní­vel mun­dial, su­pe­ram a bi­o­ca­pa­ci­dade do pla­neta. Nunca an­tes na his­tó­ria da hu­ma­ni­dade os sis­te­mas eco­nó­mico e tec­no­ló­gi­cos es­ti­vé­rom tam em guerra con­tra a bi­os­fera como na atu­a­li­dade. Este sim que é um facto re­al­mente Histórico com maiús­cu­las. Apesar disto, as tec­no­lo­gias mo­der­nas, e em es­pe­cial as TIC e a rede, nom só con­ti­nuam a ter mui boa im­prensa, como, além disso, som apre­sen­ta­das como parte in­dis­pen­sá­vel da so­lu­çom. Isso sim, agora sob no­vas re­tó­ri­cas da sus­ten­ta­bi­li­dade, eco­no­mia ima­te­rial ou da in­for­ma­çom que pro­me­tem pos­si­bi­li­da­des in­fi­ni­tas de futuro.

Nunca antes na história da humanidade os sistemas económico e tecnológicos estivérom tam em guerra contra a biosfera como na atualidade.

O ci­clo de vida das tecnologias
Umha aná­lise um pouco me­nos tecno-en­tu­si­asta deixa ver fa­cil­mente os sé­rios pro­ble­mas de en­ten­di­mento que tem a tec­no­lo­gia mo­derna com os sis­te­mas bi­o­fí­si­cos que a sus­tenta. Dito dou­tra forma, as no­vas tec­no­lo­gias, e em par­ti­cu­lar as da co­mu­ni­ca­çom, te­nhen im­por­tan­tís­si­mos cus­tos eco­ló­gi­cos que cons­ti­tuem a face in­vi­sí­vel e ma­te­rial do que, co­mum­mente, é con­cep­tu­a­li­zado como vir­tual e ima­te­rial. Para po­der di­men­si­o­nar esta ma­te­ri­a­li­dade da ima­te­ri­a­li­dade vir­tual, é ne­ces­sá­rio ter umha vi­som glo­bal do ci­clo de vida des­tas tec­no­lo­gias: desde que se ex­traem os ma­te­ri­ais ne­ces­sá­rios para fa­bri­car os dis­po­si­ti­vos que uti­li­za­mos até os re­sí­duos que ge­ram, pas­sando pola cons­tru­çom e ma­nu­ten­çom das in­fra­es­tru­tu­ras ne­ces­sá­rias que per­mi­tem o seu fun­ci­o­na­mento. O con­sumo, ou o im­pacto di­recto do uso dos te­le­mó­veis, com­pu­ta­do­res, ta­blets, TVs, é so umha parte do pro­blema, nom é o todo. Como sus­pei­ta­mos, a rede é umha vo­raz con­su­mi­dora de ener­gi­a/­ma­te­ri­ais-emis­sons/­re­sí­duos. Centos de ser­vi­do­res, hubs, rou­ters, mo­dems e ou­tros apa­re­lhos ele­tró­ni­cos con­so­mem cons­tan­te­mente ener­gia elé­trica. Estima-se que man­ter esta es­tru­tura glo­ba­li­zada de da­dos re­quer, se­gundo o in­ves­ti­ga­dor da Universidade de Stanford Jonataham Koomey, 10% da ele­tri­ci­dade mun­dial. A International Science Crid es­tima que as TIC ge­ram cerca de 4% das emis­sons de ga­ses de efeito es­tufa equi­va­lente à da in­dús­tria ae­ro­náu­tica. Sem dú­vida, umha per­cen­ta­gem nada depreciável.

Quanto mais modernos e tecnológicos forem os nossos bens de consumo, mais modernos e tecnológicos serám os nossos resíduos

Num es­tudo para as Naçons Unidas, o dou­tor em fí­sica Eric Williams e em eco­no­mia Ruediger  Kuehr  mons­trá­rom como a fa­bri­ca­çom de dis­po­si­ti­vos elec­tró­ni­cos é al­ta­mente in­ten­siva no uso de re­cur­sos na­tu­rais ul­tra­pas­sando lar­ga­mente ou­tros bens de con­sumo. Segundo as suas es­ti­ma­ti­vas, fa­bri­car um com­pu­ta­dor de se­cre­tá­ria re­quer cerca de 240 kg de com­bus­tí­veis fós­seis, 22 kg de pro­du­tos quí­mi­cos va­ri­a­dos e 1,5 to­ne­la­das de água. O peso dos com­bus­tí­veis fós­seis e a água mul­ti­pli­cam por 100 e 600 o peso do pró­prio com­pu­ta­dor. Que ten­tado es­tou nes­tes mo­men­tos de uti­li­zar esta re­la­çom para apro­xi­mar-me ao im­pacto dos 7.9 mil mi­lhons de dis­po­si­ti­vos mó­veis dos quais fa­lá­va­mos an­te­ri­or­mente, um nú­mero que vai cres­cendo. Apesar disto, a ten­dên­cia é mu­dar os dis­po­si­ti­vos cada vez mais rá­pido, a ob­so­les­cên­cia pro­gra­mada. No Estado es­pa­nhol, um es­tudo con­clui que os mó­veis som subs­ti­tuí­dos apro­xi­ma­da­mente qua­tro anos an­tes da sua ob­so­les­cên­cia pro­gra­mada. Estes mi­lha­res de dis­po­si­ti­vos em des-uso ge­ram mi­lha­res de pro­ble­mas de re­sí­duos. Quanto mais mo­der­nos e tec­no­ló­gi­cos fo­rem os nos­sos bens de con­sumo, mais mo­der­nos e tec­no­ló­gi­cos se­rám os nos­sos re­sí­duos de­vido ao ca­rác­ter en­tró­pico da eco­no­mia. Mais isto pa­rece ser um pro­blema me­nor na era da in­for­ma­çom e/ou que im­porta re­la­ti­va­mente pouco nas so­ci­e­da­des de con­sumo, so­bre­todo en­quanto pu­der­mos con­ti­nuar des­lo­cando os re­sí­duos e os cus­tos cara ou­tros ter­ri­tó­rios, mais po­bres, com certeza.

adri­ana p. villanueva

Conflitos eco­ló­gi­cos dis­tri­bu­ti­vos, neo-ex­tra­ci­o­nismo e es­go­ta­mento dos re­cur­sos naturais
Partindo das pre­mis­sas da eco­lo­gia po­lí­tica, todo pro­blema am­bi­en­tal cons­ti­tui um con­flito só­cio-eco­nó­mico pre­sente ou fu­turo. Conflito me­di­ado, ine­vi­ta­vel­mente, po­las re­la­çons de po­der e o pri­vi­lé­gio que per­mite acu­mu­lar ri­que­zas à custa de so­ci­a­li­zar cus­tos de todo tipo. De igual forma que o fa­moso col­tám, o pla­tino, pa­lá­dio ou va­ná­dio, en­tre mui­tos ou­tros, som três mi­ne­rais nom ener­gé­ti­cos que cons­ti­tuem ra­ri­da­des na crosta ter­res­tre e que som in­dis­pen­sá­veis para o fun­ci­o­na­mento desta “nova eco­no­mia”. Como a lei­tora bem in­tuirá, es­tes mi­ne­rais som re­cur­sos nom re­no­vá­veis, e como tal, te­nhen o mau cos­tume de se es­go­tar. A es­cas­sez ob­je­tiva de re­cur­sos mi­ne­rais nom ener­gé­ti­cos cons­ti­tui ou­tro dos gran­des li­mi­tes bi­o­fí­si­cos que ame­a­çam o pro­jeto da mo­der­ni­dade tec­no­ló­gica. Esta pre­o­cu­pa­çom é re­la­tada ate pola Uniom Europeia no seu re­la­tó­rio “Crítical Materials Strategy, Report (DOE 2011)” onde ana­lisa os ris­cos de for­ne­ci­mento de mi­ne­rais, re­la­ci­o­na­dos com o es­go­ta­mento e/ou con­fli­tos ge­o­po­lí­ti­cos, em fun­çom da sua im­por­tán­cia es­tra­té­gica para a eco­no­mia a curto/meio prazo (ho­ri­zonte 2025). Dumha pers­pec­tiva só­cio-am­bi­en­tal, po­de­ria-se di­zer que na me­dida em que as no­vas tec­no­lo­gias se ex­pan­dem e con­so­li­dam ge­rando pos­si­bi­li­da­des de fu­turo vir­tual, es­trei­tam-se as pos­si­bi­li­da­des mes­mas de fu­turo. Paradoxal.

 

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