Periódico galego de informaçom crítica

A lei (audiovisual) do mais forte

por

Neste úl­timo ou­tono ti­ve­mos em Compostela umha sé­rie de fes­ti­vais, dous de ci­nema (Curtocircuito e Cineuropa) e um mu­si­cal como sec­çom ci­ne­ma­to­grá­fica (WOS Festival). Três en­con­tros que nos ache­gam aos nos­sos ecráns mui­tas das pro­pos­tas mais in­te­res­san­tes den­tro de cada umha das li­nhas edi­to­ri­ais para as que cada um dos cer­ta­mes de­dica o seu tempo. Curiosamente, umha peça au­di­o­vi­sual ga­lega de há apro­xi­ma­da­mente um ano es­tivo pre­sente nas três. Nom na sec­çom a con­curso, tam­pouco em re­tros­pe­ti­vas nem em sec­çons pa­ra­le­las, nom. A obra em ques­tom, que se pudo ver an­tes de al­gumha das pro­je­çons chama-se Non vas po­der con nós!, a úl­tima en­trega de umha sé­rie de ví­deos aglu­ti­na­dos baixo o lema Vivamos como galegos.

Como mui­tos dos lei­to­res e lei­to­ras já sa­be­rám, trata-se de umha peça pu­bli­ci­tá­ria, o ví­deo com o que Gadis nos aga­sa­lha cada ano com umha ran­çosa dose de su­bal­ter­ni­dade, mer­ca­ti­li­za­çom, in­fan­ti­li­za­çom e sim­pli­fi­ca­çom da nossa cul­tura e so­ci­e­dade. Mas neste caso, a ab­je­çom for­mal e dis­cur­siva que ti­ve­mos que su­por­tar atinge quo­tas nunca an­tes vis­tas. Em pri­meiro lu­gar, está a du­vi­dosa le­gi­ti­mi­dade mo­ral de apro­vei­tar as ruas e es­tra­das va­zias do fe­che que so­fre­mos du­rante a qua­ren­tena de há um ano e meio para fa­zer umha au­tên­tica es­pe­ta­cu­la­ri­za­çom do drama so­cial polo qual pas­sa­mos; as­sim, os es­té­ti­cos pla­nos da Ponte de Rande, Os Cantons co­ru­nhe­ses, a Praia das Catedrais e os di­fe­ren­tes cas­cos an­ti­gos das ci­da­des cum­prem per­fei­ta­mente a sua mis­som de ma­cro-fo­lheto tu­rís­tico da cidade. 

Por se a ba­na­li­za­çom das ima­gens nom fosse su­fi­ci­ente, a lo­cu­çom já se en­car­rega de re­mar­car-nos a sua men­sa­gem: “Porque nom vas po­der evi­tar que o ano que vem, desde todo o mundo, a gente ca­mi­nhe até a Galiza”, dei­xando às cla­ras as ma­lé­vo­las in­ten­çons deste la­men­tá­vel tar­jeto-pos­ta­lismo. A morte, bran­que­ada até o ex­tremo, fai a apa­ri­çom no iní­cio da peça num im­pro­vá­vel fu­ne­ral de cin­zas ao vento com o fundo so­noro de umha gaita e nos se­res que­ri­dos que “nos dei­xá­rom”. Numha re­vi­ra­volta in­crí­vel de­pois de quase doze anos de crise, des­pe­jos cons­tan­tes, des­man­te­la­mento da sa­ni­dade e edu­ca­çom pú­bli­cas, perda de po­der aqui­si­tivo e ín­di­ces de de­sem­prego inad­mis­sí­veis, es­cui­ta­mos se­gun­dos de­pois: “Figeste que os ne­nos vis­sem como os seus pais ti­nham medo pola pri­meira vez”, numha cena en­qua­drada num am­plo sa­lom de ca­tá­logo de ten­das de móveis. 

O terço fi­nal do ví­deo, com a ci­tada men­sa­gem de “non vas po­der con nós” e di­zendo-lhe “que che dem” ao ví­rus pro­cura a con­fron­ta­çom com esse ini­migo in­vi­sí­vel que é o SARS-CoV‑2. Isto é mais um exem­plo de como as nos­sas em­pre­sas de­tur­pá­rom qual­quer tipo de de ini­ci­a­tiva po­pu­lar e crí­tica do ca­pi­ta­lismo tar­dio para sair de festa, elas sim, mais for­tes (eco­no­mi­ca­mente). O re­al­mente ter­rí­vel é ter que en­fren­tar-nos com este tipo de pan­fle­tos no marco duns fes­ti­vais aos que se lhe su­pom que fo­gem dos dis­cur­sos he­ge­mó­ni­cos e de mo­no­for­mas es­té­ti­cas. Sabendo que nom é do­ado es­ca­par das im­po­si­çons que cer­tos pa­tro­ci­na­do­res exer­cem das suas po­si­çons de po­der, tem que ha­ver al­gumha ma­neira de evi­tar esta vi­leza nos nos­sos ecráns.

O último de Opiniom

O Estado

Pedro M. Rey Araujo repassa as principais conceiçons arredor do Estado no

Os corpos e a terra

Alberte Pagán fai umha resenha do filme 'O Corno', de Jaione Camborda,
Caminho e casas de pedra, com teito de lousa, da aldeia de Froxám, no Courel.

Refúgio climático

Os meios de comunicaçom falam de um novo 'nicho' de mercado: as
Ir Acima