
AXVII Assembleia Nacional do BNG revalidou o liderado político de Ana Pontón e marcou objetivos como o fortalecimento da sua base organizativa ou a consecuçom de um maior apoio nos prósimos processos eleitorais. Uns dias depois dessa assembleia, a porta-voz nacional do BNG recebe-nos no seu gabinete no Parlamento, umha instituiçom que considera útil para tecer pontes com a sociedade galega, para refletir sobre os reptos que enfrenta o nacionalismo nesta etapa política.
No BNG atual há umha mensagem clara de que o objetivo é chegar à Xunta; aliás o BNG é já umha organizaçom com experiência de governo. Fazendo umha comparativa entre o BNG liderado por Anxo Quintana, que chegou ao governo em 2005, e o atual, que aspira a atingi-lo em 2024, quais seriam as semelhanças e diferenças entre estes dous projetos?
O BNG tem um percurso que vai além de quem estiver na sua portavozia nacional. É umha organizaçom democrática de base assemblear e continuamos a ser um BNG que defende que Galiza é umha naçom, que acha que tem que estar no dia-a-dia com os problemas deste país e construindo a alternativa, e que temos mui claro que para dar um grande salto nom podemos ter à frente da Xunta um governo e um presidente que está a trabalhar contra os interesses do país. Necessitamos pôr as instituiçons galegas ao serviço da Galiza e esse é um repto de primeira magnitude que nos fixamos para os próximos anos, pois como projeto nacional temos que ter vocaçom de realmente contribuir para liderar o país e produzir umha grande mudança. Como fazemos isso? Pois eu acho que conetando com as maiorias sociais, confiando na Galiza, confiando nas galegas e galegos e na capacidade deste projeto para podermos chegar a essa maioria. Eu som das pessoas que acredito em que nom podemos ser umha corrente de opiniom, temos de nos converter na força determinante da Galiza.
“Nom podemos ser umha corrente de opiniom, temos que nos converter na força determinante da Galiza”
Qual é para o BNG, como organizaçom nacionalista, o roteiro para se desenvolver um processo de autodeterminaçom?
Há umha questom que debatemos muito nesta Assembleia, que tem a ver com que entendermos a autodeterminaçom como um ato concreto é um erro. Entendemo-la como um processo de tomada de consciência e temos que ser realistas ao respeito de qual é o ponto de partida em que estamos. E, sobretodo, temos de trabalhar para fazer entender à cidadania que a defesa da soberania (que é a capacidade de decidir), é básica para melhorarmos as condiçons de vida do nosso país. Nessa rota em que estamos a trabalhar o importante é passarmos do abstrato para o concreto: falarmos em cousas como a tarifa elétrica galega ou em como acabarmos com o espólio dos nossos recursos, ou por que a gente aqui tem de emigrar, ou do injusto que é para a Galiza que a chave do nosso dinheiro esteja em Madrid. Trata-se, portanto, de irmos a um processo em que tenhamos em conta a consciência que há no país e como fazemos entender as nossas propostas e as nossas alternativas. E sendo conscientes de que nesses saltos que se verificam noutros lugares há umha história, umha história em que o nacionalismo tivo as responsabilidades de governo durante décadas. O repto em que estamos hoje na Galiza é conseguirmos que com as instituiçons de autogoverno que temos, cativas e limitadas, nós tenhamos a capacidade para liderá-las e produzirmos mudanças beneficiosas para o país tanto nas suas condiçons de vida como na consciência nacional.
“Entender a autodeterminaçom como um ato concreto é um erro, é um processo de toma de consciência”
Na Galiza nos últimos anos tem mudado a relaçom do BNG com forças independentistas mais pequenas. O que achas que achegou isto ao BNG?
Penso que melhoramos em nos conhecermos mais, falarmos mais e nos respeitarmos mais. E penso que isso é importante para todo o mundo, porque vivemos num país que necessita a soma de toda a gente para construirmos umha alternativa que tenha os seus centros de decisom aqui, que defenda que Galiza é umha naçom e que temos que avançar… Penso que nesse âmbito todas e todos atuamos com generosidade, com olhar alto e colocando por diante o importante, que é o país.
“Vivemos num país que necessita a soma de todos e todas para construir umha alternativa que defenda que Galiza é umha naçom”
A nível eleitoral, nom há medo a ter atingido um teito? Para onde pode medrar agora o eleitorado do BNG?
Julgo que quem tocou teito é o PP, e o que imos ver vai ser como baixa o PP e o BNG continua a medrar. Se tivéssemos a sensaçom de que o nacionalismo nom é umha opçom maioritária estaríamos a desertar dos grandes objetivos que temos de ter para o país e, além do mais, estaríamos a dizer que nom confiamos na cidadania galega e que assumimos que o nacionalismo tem de ter um espaço pequeno. Eu acredito numha vocaçom maioritária do nacionalismo, acho que isso está no ADN da nossa organizaçom desde que nasce e penso que temos que trabalhar com esse olhar largo. Realmente na Galiza há um grande sentimento de país e o repto que temos é traduzir esse sentimento em termos organizativos, em termos eleitorais e em termos sociais. Penso que sem galegos e galegas por trás isto nom se pode fazer e também que temos de ter confiança no país, nas suas potencialidades e em que somos um projeto para as maiorias. Penso, portanto, que o nosso teito está mui longe e que o que temos de fazer é trabalhar para nos convertermos na força hegemónica do país.
“O desafio que temos é traduzir o sentimento de país em termos organizativos, em termos eleitorais e em termos sociais”
À hora de criar um modelo de país desde o nacionalismo, como conjugar a defesa do território e dos direitos das pessoas trabalhadoras, num momento em que as indústrias contaminantes tenhem mais perto o seu feche?
Acho que nom podemos cair em falsos maniqueísmos. Estamos a favor de umha transiçom energética, mas pensamos que esta tem de ser justa. Por exemplo, agora estamos a falar no feche das centrais térmicas e nós dizemos que, com efeito, há que ir cara umha descarbonizaçom da sociedade, mas o que nom pode ser é que isso seja feito penalizando as pessoas trabalhadoras. Há que criar alternativas e tem de haver investimentos da parte dos governos central e galego para garantirmos um desenvolvimento sustentável e que haja oportunidades aqui. Também abrimos um debate quando falamos em que há que deixar atrás elementos contaminantes, como podem ser os carburantes, pois se a alternativa é que de súpeto as pessoas com menos renda nom podam comprar um veículo porque os carros elétricos tenhem um custo mui alto, estaremos a nos introduzir numha sociedade em que as diferenças de classe serám maiores. Nom podemos cair em falsas dicotomias e temos de ter mui claro que quando falamos em umha transiçom energética esta nom pode ser sustentável nem justa se deixa atrás as maiorias sociais do nosso país.

E qual seria a proposta de modelo produtivo do BNG para o país?
Primeiro, pensamos que um país tem de produzir, que ter indústria, e pensamos que temos de fazê-lo de maneira sustentável e que é preciso nos apoiarmos naqueles setores em que realmente temos potencialidade. Está-se a dar um debate mui importante sobre a perda de populaçom e o despovoamento de umha parte importante da Galiza e o que há por trás é que fôrom abandonados os setores primários e nom houvo nengumha alternativa. É umha autêntica barbaridade que aqui nom estejamos produzindo alimentos ou que nom seja feita umha aposta por umha transformaçom que gere um valor acrescentado a esses alimentos, ou que nom seja claramente potenciado todo o que tem a ver com a ciência, com a inovaçom como um elemento chave de desenvolvimento. Hoje, se algo nos ensinou a pandemia, é que aí podemos competir e que, além do mais, esse aspeto é fundamental para o futuro da humanidade. Como país temos que estar aí, porque se nom imos ficar atrás nas grandes transformaçons que estám a acontecer no mundo.
“No estado há um governo que se di progressista mas que está a incumprir os elementos centrais do seu programa. Acho que isto é um sintoma das limitaçons do regime de 78”
Isso implicaria a revitalizaçom do rural. Quais as medidas mais concretas para o rural galego?
O rural precisa, em primeiro lugar, de serviços. Nom é possível que a gente vaia viver no rural se nom há escolas, se nom há atençom médica ou se nom tiver conexons de internet. Eu penso que a primeira responsabilidade de um governo é que o que dele dependa diretamente esteja cuberto no rural. E depois, evidentemente, seriam precisos planos de desenvolvimento local para o âmbito rural e haveria que canalizar recursos nesse sentido. Penso que temos experiências no país que demonstram que quando há vontade e recursos geram-se projetos a pequena escala que som mui interessantes do ponto de vista produtivo, que geram umha grande qualidade de vida. Temos que pôr em valor que há futuro no rural, como país é umha oportunidade que nom podemos desaproveitar.

Se chegasse ao governo da Xunta quais seriam as medidas mais urgentes que implementaria o BNG?
Falarmos a três anos vista quando temos um país que está em umha crise económica, quando acabamos de ver como temos a sanidade pública, ou como nom se dá resposta à crise que vivemos nas residências… Penso que nom temos que falar a três anos vista, temos que dizer o que defendemos para a Galiza de hoje. Nós pensamos que há que defender os serviços públicos, que há que pôr em pé um projeto que permita criar emprego e dar futuro à mocidade, que nom pode seguir migrando ou suportando a precariedade como forma de vida. E aí está o maior fracasso que podemos ter como sociedade: assumirmos que as geraçons que venhem detrás vam ter de viver pior. Acho que este ponto de partida nom é válido. Temos de dizer que apostamos por um modelo com direitos sociais, com qualidade de vida e com criaçom de emprego de qualidade no nosso país.
E também sabemos que nom todo vai depender do que poda decidir um governo galego. Nesse sentido é tremendamente decepcionante como está a evoluir o estado espanhol. Há um governo que se diz progresista mas que está a incumprir os elementos centrais do seu programa. Acho que isto é um sintoma das limitaçons do regime de 78 e acho que temos de empurrar umha força que defende políticas transformadoras, como é o BNG, e que também tem que servir como freio de contençom perante a involuçom do estado espanhol. Esta involuçom vem marcada também pola incapacidade que está a demonstrar a esquerda espanhola para realmente pôr em andamento umha alternativa que defenda direitos de mínimos.