Marisa tem 57 anos e mora numha paróquia de Abegondo. Na casa era a terceira de sete filh*s, mas a mais velha das irmás. Desde os 13 até os 18 anos empregou 904 horas em lavar cacharros e 556 em fazer camas.
Casou com 19 anos e com 24 tinha dous filh*s. Criou as crianças enquanto trabalhava numha residência para idos*s. Daquela, acordava às 6 da manhá; punha a máquina de lavar, limpava os banhos, fazia o almoço, acordava as pequenas, vestia-as, fazia as camas, levava-as à escola, ia para o trabalho, voltava às 5, recolhia as meninhas, ajudava-as com os deveres, cuidava dos animais, cuidava da horta, fazia merendas e ceias.
Com 33 anos, o pai tivo um acidente com um trator e botou 278 dias encamado. Ela deixou o emprego para poder cuidá-lo. Preparar-lhe o almoço, fazer os exercícios, levantá-lo em peso, asseá-lo, preparar o jantar, dar-lho, mudar-lhe os cueiros, dar-lhe a medicaçom, fazer-lhe companhia, preparar-lhe a ceia, dormir com as portas abertas para escuitá-lo respirar e, com sorte, descansar 4 horas.
Algumha vez, ao voltar o homen à casa, perguntava-lhe a Marisa: “e logo, que figeche hoje?” ‑como aguardando o relato de algumha atividade extraordinária que “ocupasse o seu dia”.
Marisa tem 57 anos e as maos inchadas de tanto trabalhar. Porém, segundo o Estado, ela nom trabalhou mais do que 5 anos.
Feitos os 37, Marisa foi diagnosticada de cancro de mama. Em 2 meses passou por 4 operaçons e quando o conta, di: “enfermar era um luxo que nom me podia permitir”.
Depois de passar o cancro, sua sogra enfermou de alzheimer e foi-se viver com el*s. Marisa cuidou dela durante 9 anos. Quando a Junta resolveu a sua dependência, faltavam 5 meses para que morresse.
Marisa tem 57 anos e as maos inchadas de tanto trabalhar. Porém, segundo o Estado, ela nom trabalhou mais do que 5 anos.
Haverá quem pense que Marisa é umha mulher que tivo muita má sorte, mas Marisa que é de carne e osso, é umha mulher com umha história bem semelhante à de tantas outras. A história das sustentadoras da vida. Asssim, enquanto olho para elas vejo o passado deste país, o presente deste país, e para que o futuro seja diferente compreendo: Feminismo de classe, ou barbárie.