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O isolamento e a dispersom só se podem entender em chave de vingança”

por
Teto du­rante um juizo em 2014 | charo lo­pes

Além do ine­vi­tá­vel des­gaste, o preso in­de­pen­den­tista ga­lego Roberto Rodrigues ‘Teto’ di­zia sen­tir-se forte e ani­mado en­quanto se en­fren­tava a umha si­tu­a­çom de iso­la­mento to­tal desde o pas­sado mês de ou­tu­bro na pri­som de Valhadolid. Nesse con­texto re­a­li­zou-se a en­tre­vista que está a se­guir e na que ache­gava umha re­a­li­dade im­posta que aten­tava con­tra os Direitos Humanos e os prin­cí­pios de le­ga­li­dade. Após um re­curso de tras­lado e umha cam­pa­nha so­li­dá­ria de por meio, ‘Teto’ está agora dis­per­sado no cen­tro pe­ni­ten­ciá­rio de Palência.

Qual é a tua si­tu­a­çom atual?

Estou num iso­la­mento que nom vem re­co­lhido em ne­nhum Regulamento Penitenciário. Fago vida em so­li­tá­rio du­rante todo o dia e só em oca­si­ons con­ta­das pu­dem es­tar qua­tro ho­ras de pá­tio com al­gum ou­tro preso que está cum­prindo pena nou­tra pri­som mas que passa um tempo cá por mo­ti­vos dal­gum juízo ou por di­li­gên­cias. Em de­fi­ni­tivo, som dias con­ta­dos e a nor­ma­li­dade é es­tar ab­so­lu­ta­mente só.

O con­texto é se­me­lhante ao que pas­saste já em 2014?

Sim, foi quando che­guei a esta pri­som onde tam­bém es­ti­vem três me­ses sem com­pa­nheiro de pá­tio. Daquela pu­gé­ra­mos umha queixa ante o Juiz de Vigilância Penitenciária mas a si­tu­a­çom re­sol­veu-se an­tes de que se pro­nun­ci­asse tra­zendo para a mi­nha ga­le­ria dous pre­sos bas­cos que es­ta­vam nesta ca­deia tam­bém em Primeiro Grau. O anor­mal na­quele caso foi que nom nos jun­ta­ram nada mais que eu che­gara, de­mo­rá­rom a si­tu­a­çom de iso­la­mento e des­gaste até que pu­dé­rom. Agora esta his­tó­ria re­pete-se por­que es­ses dous ra­pa­zes fô­rom pos­tos em li­ber­dade o ve­rám passado.

Existe al­gum tipo de jus­ti­fi­ca­çom legal?

Nom, e é por isso que é um iso­la­mento que nom se re­co­lhe nem no seu pró­prio Regulamento Penitenciário e que só con­tem­pla este re­gime de vida para o cum­pri­mento de san­çons de iso­la­mento em ce­las. Obviamente, para isto te­ria que ha­ver umha san­çom e em ne­nhum caso po­derá su­pe­rar os 14 dias ou os 42 se o au­to­riza ex­pres­sa­mente o juiz.

Em que tipo de re­gime estás?

Estou clas­si­fi­cado no ar­tigo 91.2 do Regulamento Penitenciário. Isto é um Primeiro Grau/Segunda Fase, cousa que é dis­cu­tí­vel por­que na te­o­ria este ar­tigo está pen­sado para as pes­soas que “mos­tram umha ma­ni­festa ina­dap­ta­çom aos re­gi­mes co­muns” e no meu caso a única ina­dap­ta­çom que mos­trei, e pola que pa­guei san­çom, foi por nom que­rer fa­zer “des­ti­nos” que im­pli­cam tra­ba­lhar para a pri­som e por ne­gar-me a par­ti­lhar cela com ou­tros pre­sos. Negar-se a es­tes atos som di­rei­tos das pes­soas re­clu­sas re­co­lhi­dos nas leis do Estado mas está com­pro­vado que te san­ci­o­nam por exi­gir o que te c

a única inadaptaçom que mostrei foi nom querer fazer “destinos” que implicam trabalhar para a prisom, e negar-me a partilhar cela com outros presos

or­res­ponde. Tampouco há que en­ga­nar-se, é sa­bido que a mui­tos pre­sos e pre­sas po­lí­ti­cas in­cluem-nos nesta clas­si­fi­ca­çom mesmo an­tes de que nos dê tempo a desobedecer.

Que pos­sí­vel saída há a esta situaçom?

Na le­ga­li­dade o Estado nom te­ria de­ma­si­ada mar­gem para sus­ter isto muito tempo, mas nos fac­tos po­de­mos aguar­dar qual­quer cousa. Seja como for, agora es­ta­mos es­go­tando as vias legais.

Quais se­riam es­sas vias e que pers­pe­ti­vas existem?

Temos so­li­ci­tado o des­lo­ca­mento para que nos ache­guem à Terra, no meu caso à pri­som de Teijeiro e em­bora isso é um di­reito, acho que nom se vai dar. O que nom des­carto é que me mu­dem para ou­tro cen­tro pe­ni­ten­ciá­rio qual­quer, fa­rám vi­rar umha ro­leta e a ver o des­tino que me toca.
O pre­texto que acos­tu­mam pôr para man­ter-me neste re­gime de vida é que na atu­a­li­dade sou o único preso em Primeiro Grau que têm como cen­tro de cum­pri­mento esta pri­som mas ao mesmo tempo ale­gam que a ca­deia nom está ade­quada para pre­sos nesta clas­si­fi­ca­çom. A úl­tima nova que ti­vem ao res­peito é umha no­ti­fi­ca­çom da Secretaria Geral de Instituiçons Penitenciárias in­for­mando de que to­ma­vam dous me­ses mais para de­ci­dir o assunto.
No senso desta si­tu­a­çom quo­ti­di­ana está de­nun­ci­ada por meio dumha queixa ao Juiz de Vigilância Penitenciária que num pri­meiro mo­mento foi de­ses­ti­mada ale­gando que es­tar iso­lado é umha si­tu­a­çom cir­cuns­tan­cial e que no mo­mento de ela­bo­rar o auto es­tava em com­pa­nhia dou­tro preso. Claro! Demoram três me­ses em res­pon­der ao re­curso e justo qua­drou com uns es­cas­sos dias que sim que es­tava acom­pa­nhado, o cir­cuns­tan­cial é que es­teja com al­guém en­quanto a nor­ma­li­dade é que faga vida em so­li­tá­rio e nunca com os cinco pre­sos que exige o seu Regulamento Penitenciário. Contra esta re­so­lu­çom in­ter­pu­ge­mos ou­tro re­curso e ve­re­mos o que in­ven­tam agora mas há que ten­tar ta­par-lhes to­das as es­cu­sas. Bem sa­be­mos que de­trás des­tes cas­ti­gos adi­dos, como o é tam­bém a dis­per­som, nom há mo­ti­vos de se­gu­rança nem de­ci­si­ons ju­di­ci­ais que apli­cam a Lei, se­nom que há de­ci­sons po­lí­ti­cas que só se po­dem en­ten­der em chave de vingança.

Como li­mita no quotidiano?

Tenho as­su­mido que ao es­tar em Primeiro Grau te­nho umhas mai­o­res res­tri­çons, con­trolo e vi­gi­lân­cia que o resto dos pre­sos. Eu te­ria que es­tar num cen­tro ou mó­dulo adap­tado à mi­nha clas­si­fi­ca­çom e nom num ‘de­par­ta­mento es­pe­cial’ co­nhe­cido como ‘bún­ker’, onde o nome o di todo, como es­tou fa­zendo desde 2014.

“Estou todo o tempo só e nom tenho acesso a cursos nem obradoiros”



Igualmente de­ve­ria ter di­reito a um mí­nimo de 4 ho­ras ao dia de vida em co­mum com ou­tros qua­tro pre­sos mais e a re­a­li­zar ati­vi­da­des em grupo além das ho­ras de pá­tio. Agora, como co­men­tei, es­tou todo o tempo só e nom te­nho acesso a cur­sos de for­ma­çom nem a obra­doi­ros de ar­te­sa­nato ou ao gi­ná­sio para fa­zer des­porto. O único que podo fa­zer é es­tu­dar pola Universidade a Distância e re­a­li­zar al­gumha ati­vi­dade: exer­cí­cios de chao e pe­sas fei­tas com paus de vas­soira aos que se lhe ata umhas gar­ra­fas de água. Como grande luxo pe­dalo numha bi­ci­cleta es­tá­tica que me pujo a pri­som no meio do pá­tio para jus­ti­fi­car no seu dia ante o juiz que sim que ti­nha meios para o des­porto. É de riso. Ah! Esquecia que tam­bém te­nho umha ra­queta e umha pe­lota para pe­gar no fron­tom, al­gum uso há que dar-lhe a es­tes muros.

Aludes ao pá­tio como es­paço de re­fe­rên­cia, como é?

É um re­tân­gulo va­zio de 5x25 me­tros de ci­mento com duas me­sas, dous ban­cos e umha ‘caixa boba’. Tem mu­ros de seis me­tros de alto e fe­cha­dos por ar­riba com umha grade me­tá­lica coma umha gai­ola. Este fe­che to­tal foi con­si­de­rado por di­fe­ren­tes Julgados de Vigilância Penitenciária como inu­mano e ina­de­quado para vi­ver a diá­rio, mas ou­tra vez com­prova-se que o Estado salta a sua pró­pria Lei. Isso sim, se lhe ti­ra­mos a todo o lado po­si­tivo, deste jeito nom guindo a pe­lota do fron­tom fora da cadeia.

Que su­pom este con­texto no campo pessoal?

Além do des­gaste ine­vi­tá­vel ao que leva a si­tu­a­çom sinto-me es­tá­vel, forte e ani­mado, com sen­tido do hu­mor e pa­ci­ên­cia como fer­ra­men­tas de auto-de­fesa e tra­tando de en­cher as jor­na­das com o que te­nho nas maos. Pola con­tra som cons­ci­ente de que esta si­tu­a­çom têm que mu­dar por­que nom é nada sau­dá­vel, trata-se dumha tor­tura de baixa in­ten­si­dade que como al­guém com­pa­rou é como a po­a­lha, se­me­lha que nom mo­lha mas quando te das conta es­tás en­char­cada até os ossos. 

“Trata-se dumha tortura de baixa intensidade”

Consegue-se ra­char com essa soi­dade imposta?

Mencionou um dos pre­sos bas­cos que es­tivo cá que os pre­sos e pre­sas po­lí­ti­cas nunca es­ta­mos soas. Comigo som mui­tas as mos­tras de so­li­da­ri­e­dade e ten­rura que che­gam da rua e que som bem nu­tri­ti­vas, vi­ta­mi­na­das e que me em­pur­ram a con­ti­nuar ani­moso. Com este mo­tivo que­ria apro­vei­tar para agra­de­cer a to­das as com­pa­nhei­ras, fa­mi­li­a­res e ami­za­des que me­di­ante o cor­reio, te­le­fone e vi­si­tas in­ver­tem muito tempo, qui­ló­me­tros e es­forço e que su­por­tam a ou­tra me­tade da con­dena. Fam que esta tra­ves­sia seja um bo­cado mais do­ada as­sim que muito obri­gado a to­das e sem­pre livres!

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