No passado junho, a Secretária de Interior do Reino Unido Priti Patel certificou a extradiçom de Julian Assange para os Estados Unidos para enfrentar um juízo por espionagem em que exige umha pena de até 175 anos de cadeia. Esta nova chega após unha longa batalha judicial, política e mediática que iniciou em 2010 e que continuará com as apelaçons da sua equipa legal ao Tribunal Supremo britânico e, de ser preciso, à justiça europeia.
No ano 2010, televisons e jornais a nível mundial faziam eco de umha das maiores filtraçons de Wikileaks, o vídeo Collateral Murder. Nele, dous helicópteros americanos voam sobre Bagdade e assassinam a tiros dezassete civis, incluídos dous jornalistas da agência de notícias Reuteurs. Nom houvera nenhuma açom de ataque ou ameaça prévia e nom houve nenhuma asunçom de responsabilidades posterior pola parte dos Estados Unidos. O mundo teve de saber deste crime de guerra norte-americano graças a Wikileaks.
Esta plataforma mediática, nascida em 2006 da mao do australiano Julian Assange, opera baixo a premissa jornalística de difundir a verdade sobre questons de interesse público. Evidências de corrupçom no governo queniano, registos de organizaçons de ultra-direita britânicas e espanholas, documentos secretos sobre a primavera árabe… Em todas estas filtraçons, o modus operandi garante o anonimato das fontes que facilitam os materiais confidenciais. Na história de Wikileaks, 2010 foi um ano chave pola difusom e filtraçom à imprensa convencional de milhares de registos militares norte-americanos nas guerras do Iraque e Afeganistám e o vazamento de telegramas diplomáticos dos EUA.
Em busca e captura
Estas revolucionárias açons mediáticas ativárom um sistema de repressom contra a principal cabeça visível do projeto, Julian Assange. O ativista começou nesse mesmo ano um longo percurso judicial que o privaria da sua liberdade desde 2012 até a atualidade. Tudo começou com as denúncias por agressons sexuais em Suécia no ano 2010, apenas meses depois das polémicas filtraçons, que ativaram umha ordem internacional de busca e captura contra o jornalista.
Com o temor de ser extraditado aos Estados Unidos se voltava pisar chao sueco, Assange decidiu entregar-se em Londres, onde foi detido e posteriormente ficou livre baixo fiança, à espera da decisom judicial sobre a sua extraditaçom. Em maio de 2012, a justiça britânica aprovou o seu traslado a Suécia, o que precipitou nesse verao o seu confinamento voluntário na embaixada de Equador em Londres.
A CIA conspirou para tentar sequestrá-lo e mesmo assassiná-lo enquanto se encontrava confinado na embaixada de Equador, com um intento de assalto em 2016. A agência foi ajudada pola empresa espanhola Undercover Global
O governo de Rafael Correa garantiu asilo político ao fundador de Wikileaks, que foi nacionalizado equatoriano em 2017. Durante a sua estância na embaixada, a perseguiçom política contra o ativista nom cessou. A CIA conspirou para tentar sequestrá-lo e mesmo assassiná-lo durante este período, com um intento de assalto em 2016. A agência foi ajudada pola empresa espanhola Undercovar Global SL, que instalou micro-câmaras de alta tecnologia em todo o edifício e manipulou ilegalmente os dispositivos eletrónicos das e dos visitantes.
Umha mudança no poder
Desde 2012 até 2019, a situaçom do australiano nom mudou, fechado dentro do recinto da embaixada equatoriana e com umha saúde cada vez mais febre. Porém, fora dos muros diplomáticos, os agentes geopolíticos começavam a mudar. No ano 2017, Donald Trump e Lenin Moreno chegavam à presidência dos Estados Unidos e de Equador, respetivamente. Isto supus umha mudança no tratamento do caso Assange por parte dos dous governos.
Por um lado, a justiça americana apresentou 18 cargos contra o jornalista baixo a Lei de Espionagem de 2017, com umha demanda de 175 anos de prisom. Curiosamente, esta açom coincide com o feche da causa em Suécia por falta de evidências, e ativa umha longa batalha legal que ainda hoje continua.
Por outra banda, o novo presidente equatoriano deixara clara a sua postura hostil cara ao fundador de Wikileaks anos antes de aceder ao posto. Em consequência, em abril de 2019 o presidente retirou o direito do jornalista ao asilo político e permitiu a entrada de agentes britânicos para deter o jornalista. Assange é extraído à força e, mesmo que já nom pesam cargos sobre ele em Suécia (e o governo americano nom apresentará a solicitude de extradiçom até junho), a justiça britânica obriga‑o a cumprir umha pena de 50 semanas de prisom “por violar os termos da sua liberdade condicional” em 2012.
A prisom de Belmarsh
Assange é internado na prisom de máxima seguridade de Belmarsh, no sul de Londres. As condiçons da prisom debilitam a saúde do preso, diagnosticado com depressom e transtorno do espetro autista. Na cadeia, tem limitado o acesso à sua equipa legal, com demora na chegada de documentaçom e com a privaçom de visitas durante a maior parte da pandemia.
Frio, isolamento, sem apenas visitas da sua família e sem direito à liberdade condicional, Assange cumpriu três anos na cadeia sem um juízo nem sentencia condenatória. Esta situaçom piorou a tal grau o seu estado de saúde que chegou a sofrer um derrame cerebral e a desenvolver ideaçons suicidas
Frio, isolamento, sem apenas visitas da sua família e sem direito à liberdade condicional, Assange cumpriu três anos na cadeia sem um juízo nem sentencia condenatória. Esta situaçom piorou a tal grau o seu estado de saúde que chegou a sofrer um derrame cerebral e a desenvolver ideaçons suicidas. Um grupo de 117 doutores e o enviado da ONU Nils Melzer denunciaram publicamente a “tortura psicológica” contra o australiano, demandando umha mudança no trato ao jornalista.
“Está lutando pola sua vida em Balmarsh, para ele é um castigo sem fim, pensa que é umha carga e o suicídio é umha ideia que foi verbalmente abordada”, explica a sua equipa de apoio legal, em que também trabalha a sua companheira, a advogada Stella Morris, com quem casou este ano.
Umha carreira contra o relógio
Esta situaçom limite impom mais urgência para umha resoluçom legal que semelha afastada. Em janeiro de 2021, umha juíza britânica denegou a extradiçom de Assange para os Estados Unidos baixo a evidência de que esta suporia a sua morte dada a sua saúde. Nom obstante, esta decisom foi apelada pela justiça americana até chegar à instância política.
Neste junho, após esgotar a via judicial, a Secretaria de Interior Británica Priti Patel aprovou a extradiçom de Julian Assange para os Estados Unidos. “O caminho de Julian cara à liberdade é longo e tortuoso, apelaremos no sistema legal”, afirma a sua equipa legal.
Neste junho, após esgotar a via judicial, a Secretaria de Interior Británica Priti Patel aprovou a extradiçom de Julian Assange para os Estados Unidos. “O caminho de Julian cara à liberdade é longo e tortuoso, apelaremos no sistema legal”, afirma a sua equipa legal. Após ser aprovado o seu direito à apelaçom, o grupo prepara-se para apresentar umha vista em que se permitiram novas evidências e argumentos, como as provas de perseguiçom por parte da CIA e para chegar mesmo ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos.