Periódico galego de informaçom crítica

Umha idosa entra numha residência de maiores acompanhada de umha familiar.

Sem tempo para as pessoas idosas

por
Umha idosa entra numha residência de maiores acompanhada de umha familiar.

A paisagem demográfica galega nom deixa dúvida: Galiza som, também, as velhas e velhos. Um quarto da populaçom galega é maior de 65 anos, umha percentagem que ascende até quase um terço em territórios como Ourense, sinalada por Eurostat como umha das regions mais avelhentadas da Europa. Perante este cenário é já impossível virar as costas a umha realidade presente nas ruas e nas famílias: os cuidados à dependência.

Quando surge um de­bate pú­blico so­bre a aten­çom à de­pen­dên­cia é ha­bi­tual es­que­cer o facto de a pró­pria con­versa ser um sin­toma so­cial po­si­tivo. Por um lado, os avan­ços co­le­ti­vos per­mi­ti­ram umha mu­dança in­te­gral que alon­gou e me­lho­rou a vida. Nom só é a von­tade de to­das as pes­soas vi­ve­rem mais, se­nom de vi­ve­rem me­lhor. Deste jeito, as usuá­rias da de­pen­dên­cia som di­ver­sas, com pro­ta­go­nismo prin­ci­pal das pes­soas ido­sas, mas com a pre­sença de afe­ta­das de do­en­ças cró­ni­cas ou al­te­ra­çons congénitas. 

Estes lo­gros, po­rém, sig­ni­fi­ca­ram tam­bém umha re­con­fi­gu­ra­çom de di­nâ­mi­cas e ser­vi­ços so­ci­ais que ainda está em mar­cha. Por exem­plo, aí es­tám as ca­rên­cias da Administraçom à hora de ofe­re­cer umha as­sis­tên­cia in­te­gral e efi­ci­ente a fa­mí­lias e usuá­rias. E, dou­tro lado –e ainda–, a ex­plo­ra­çom do tra­ba­lho re­pro­du­tivo das mu­lhe­res, com du­plo rol no mer­cado la­bo­ral e nas fa­mí­lias, mo­no­po­li­zando o âm­bito dos cui­da­dos nom profissionais. 

Nom existe hoje em dia ne­nhum lar pri­vado em que nom haja umha oferta de ca­mas a con­certo, cu­jas per­cen­ta­gens fô­rom cres­cendo com os anos

Apontam to­das es­tas ideias desde o Colexio Oficial de Traballo Social de Galicia (COTSG), que na sua aná­lise anual do sis­tema de aten­çom à de­pen­dên­cia no país cha­mam às vis­tas so­bre o es­tado dos la­res de pes­soas ido­sas, ser­viço fun­da­men­tal no ter­ceiro pi­lar do sis­tema de bem-es­tar. A sua cons­tante de­gra­da­çom é pro­vo­cada, apon­tam, pelo or­ça­mento in­su­fi­ci­ente e a in­cer­teza na pla­ni­fi­ca­çom. Estas cau­sam gran­des ei­vas no dia a dia dos cen­tros: ra­tios des­pro­por­ci­o­nais de pes­soal, va­gas in­su­fi­ci­en­tes ou lis­tas de es­pera que de­mo­ram indefinidamente. 

A au­to­no­mia 

Estes de­fei­tos es­tru­tu­rais no mo­delo ga­lego de cen­tros re­si­den­ci­ais re­sul­tam sis­te­má­ti­cos tam­bém no ní­vel es­ta­tal, es­fera de onde emana a le­gis­la­çom vi­gente. Desta forma, se­gundo aponta o úl­timo in­forme da Asociación de Directores y Gerentes en Servicios Sociales do Estado (ADGSS), o Reino de Espanha só ga­rante aju­das a 11,3% da po­pu­la­çom maior de 65 anos, en­tre sete e doze pon­tos me­nos que ou­tros paí­ses da sua área económica. 

Nesta tes­si­tura, Galiza chama a aten­çom em re­la­çom à mé­dia do Estado. A Administraçom es­pa­nhola ofe­rece, em mé­dia, umha co­ber­tura de va­gas em re­si­dên­cias para 2,7% de to­das as pes­soas em idade de apo­sen­ta­do­ria. No caso ga­lego, no en­tanto, a ci­fra desce até 1,92%. O dado é ainda mais no­tá­vel ao ser o povo ga­lego um dos mais ave­lhen­ta­dos de todo o ter­ri­tó­rio e apre­sen­tar umha maior pro­por­çom de pes­soas com de­pen­dên­cia e grande de­pen­dên­cia (38%, oito pon­tos mais que a mé­dia es­ta­tal). Contudo, Galiza é o ter­ceiro dos que me­nos in­veste na sua assistência. 

Protestos di­ante do Complexo Residencial de Atençom a Pessoas Dependentes (CRAPD) de Bembrive (Vigo), em 2021.

Oligopólio so­bre ve­lhice 

Do to­tal de cen­tros re­si­den­ci­ais, por volta de três quar­tas par­tes re­cai na ges­tom pri­vada. “A pre­sença das re­si­dên­cias pú­bli­cas é ane­dó­tica, e mesmo cen­tros de ti­tu­la­ri­dade pú­blica têm, na ver­dade, ges­tom pri­vada”, aclara Ana Rodríguez, se­cre­tá­ria do COTSG. A par­tir dum com­plexo sis­tema de as­sis­tên­cia com ca­pas de bu­ro­cra­cia e la­bi­rin­tos ad­mi­nis­tra­ti­vos fil­tram mi­lhons de eu­ros desde os or­ça­men­tos da Junta até es­tas em­pre­sas que ache­gam 8 de cada 10 va­gas no sis­tema de lares. 

As ci­fras que es­tas ca­mas su­põem para o bolso das ga­le­gas “nom é di­vul­gado”, se bem os pre­ços som su­pe­ri­o­res ao ser­viço das ins­ta­la­çons pú­bli­cas. “Nom há um pa­drom para o custo por vaga na pri­vada, de­pende do pac­tu­ado e da ne­go­ci­a­çom com cada lar”, ex­pli­cam desde o COTSG. O ne­gó­cio, de­certo, é claro: quer atra­vés dumha sub­ven­çom plena, quer dumha par­cial (me­di­ante o Bono de Autonomía), a Xunta fi­nan­cia la­res de pes­soas ido­sas sem um teto acor­dado no preço. Isto pro­voca ce­ná­rios em que exis­tem va­gas pri­va­das que ro­çam os 3.000 eu­ros men­sais num país onde a pen­som mé­dia é de 700 euros. 

Mesmo com umha po­pu­la­çom idosa maior, Galiza é o ter­ceiro ter­ri­tó­rio com o me­nor in­ves­ti­mento em de­pen­dên­cia de todo o Estado

Para mais ên­fase, a ges­tom des­tas ins­ti­tui­çons é cen­tro de con­tro­vér­sia, tal e como foi pa­tente no con­fi­na­mento. Trato de­fi­ci­ente, usuá­rias de­sa­ten­di­das com úl­ce­ras, so­bre­po­vo­a­mento, in­cum­pri­mento de con­vé­nios, sur­tos de Covid, alta in­ci­dên­cia de in­fe­çons por nom mu­dar a roupa, mo­bi­liá­rio de­fei­tu­oso… Som al­gumhas das ques­tons de­nun­ci­a­das por fa­mí­lias e as­so­ci­a­çons con­tra a re­la­çom de cor­po­ra­çons fi­nan­ci­a­das pela Xunta de Galicia. Entre elas cum­pre men­ci­o­nar Ballesol, Orpea e DomusVi. Esta úl­tima, que fora foco da po­lê­mica após sur­tos e de­fun­çons mas­si­vas en­tre as suas usuá­rias nas va­gas de Covid, per­deu este ve­rão o con­trolo de 37,5% dos la­res pú­bli­cos que ge­ria na Galiza. O tras­passo de ti­tu­la­ri­dade foi, in­for­mam desde a Federación de Familiares e Usuarias de Residencias e da Dependencia (REDE), em fa­vor do grupo mul­ti­ser­viço Clece, pro­pri­e­dade de Florentino Pérez. 

Dois anos de es­pera 

Se bem, se­gundo in­dica o Observatorio da Dependencia de FEDEA, a maior parte das de­pen­den­tes re­ce­bem a sua as­sis­tên­cia atra­vés de pres­ta­çons ou ajuda no do­mi­cí­lio, e nom me­di­ante ins­ti­tui­çons, esta es­co­lha é ainda umha das op­çons pri­o­ri­tá­rias para as fa­mí­lias e usuá­rias com umha si­tu­a­çom muito crí­tica, já es­go­ta­dos os re­cur­sos do Servizo de Axuda no Fogar (SAF) ‑lo­cais e au­to­nó­mi­cos- e das pró­prias pos­si­bi­li­da­des de cui­dado doméstico. 

Desta ma­neira, quando o es­tado de saúde da pes­soa já nom per­mite certa in­de­pen­dên­cia, ini­cia um lento me­ca­nismo bu­ro­crá­tico para ela e a sua fa­mí­lia. Em pri­meiro lu­gar, deve ser so­li­ci­tado o re­co­nhe­ci­mento do grau de de­pen­dên­cia para, de­pois, con­cor­re­rem ao Programa Individual de Atención (PIA). A lei fixa um prazo má­ximo de seis me­ses para re­sol­ver es­tas duas fa­ses, mas na re­a­li­dade pode che­gar “ao ano e meio de es­pera”. Ademais, mesmo umha vez re­sol­vi­das as duas ins­tân­cias, pas­sam me­ses até ace­der ao re­curso. Desde a Asociación Galega do Sector da Dependencia as­si­na­lam umha es­pera ainda 9 ou 10 me­ses superior. 

A lista de es­pera para o re­co­nhe­ci­mento da de­pen­dên­cia e a re­so­lu­çom da aten­çom roça o ano e meio para, de­pois, es­pe­rar ainda me­ses até ob­ter o ser­viço de residência

Um novo mo­delo de lar?  

Assim sendo, a si­tu­a­çom do mo­delo dos la­res de pes­soas ido­sas, alvo dos pro­tes­tos de fa­mí­lias e pro­fis­si­o­nais desde há dé­ca­das, é umha ques­tom com mul­ti­tude de fa­to­res de­sen­ca­de­an­tes e ra­mi­fi­ca­çons. Dentro dos úl­ti­mos es­for­ços ins­ti­tu­ci­o­nais para pa­liar as de­fi­ci­ên­cias neste ser­viço as­sis­ten­cial está o acordo apro­vado pelo Consello Territorial de Servizos Sociais em ju­nho para mo­di­fi­car o mo­delo dos lares. 

Dentro da ini­ci­a­tiva, apre­sen­tada pelo Ministerio de Derechos Sociales, es­tám, a pri­ori, al­gumhas das pro­pos­tas ha­bi­tu­ais do sec­tor: um mo­delo cen­trado na pes­soa que com­bate a pre­va­lên­cia de ma­cro-cen­tros fi­xando um má­ximo de 120 va­gas por lar. A oferta des­tes es­ta­be­le­ce­ria nú­cleos de con­vi­vên­cia de até 15 pes­soas e fi­xa­ria umha me­lhora no ra­tio de tra­ba­lha­do­ras. O acordo, que saiu adi­ante gra­ças a um só voto, im­pom tam­bém um li­mite de três anos para re­du­zir a uti­li­za­çom de su­jei­çons (fí­si­cas, quí­mi­cas…) das re­si­den­tes e lo­grar, igual­mente, um au­mento de até 65% dos quar­tos individuais. 

O último de Corpos

Ir Acima