O Novas nasce em fevereiro de 2002 por iniciativa do independentismo, que na altura desenvolvia teoricamente a necessidade da construçom nacional e procurava espaços de unidade ‑como vinha acontecendo com o Processo Espiral- para avançar nos processos de libertaçom. Entendia-se que havia que trabalhar todas as frentes, sendo a mediática estratégica. Daquela era necessário um meio de comunicaçom que trabalhasse com perspetiva crítica, de um marco nacional galego, que figesse uso da ortografia internacional com normalidade e falasse de temas geralistas. Assim é como com altas doses de trabalho e generosidade, e a implicaçom de centos de ativistas, constitui-se a Sociedade Limitada Minho Media: catorze pessoas participam para o arranque com açons de 300 euros e sem vocaçom de tirar lucros, mas de ver em funcionamento um meio de comunicaçom independente. Mais de cinquenta assinantes iniciais e dúzias de ativistas pugérom horas e esforço em distribuir, dar a conhecer, procurar subscriçons e publicidades e gerar conteúdo, tanto gráfico e visual como textual. Assim foi como um movimento social pariu um periódico em papel no início deste século.
Primeira etapa 2002–2005
O Novas nasce após algo mais de um ano de gestons, ao se juntarem-se várias famílias do independentismo e do reintegracionismo com o objetivo comum de construir um meio de comunicaçom em comum. Era umha época convulsa, com grandes mobilizaçons como a crise do Prestige, a guerra no Iraque, a agonia do fraguismo e certa maduraçom do independentismo, com a reorganizaçom do Processo Espiral e a aposta na criaçom de Centros Sociais.
Enceta-se aí um caminho ainda em definiçom. Nos seis primeiros números a periodicidade é bimensal, sendo diretor J. M. Aldea. As capas som a cor e o interior um número variável entre 16 e vinte quatro páginas a branco e negro. O primeiro número custa 2 €, sendo os cinco seguintes de distribuiçom gratuita.
A partir do número 7 produz-se um ponto de inflexom com a marcha de Aldea. O projeto está de novo num ponto de início, as contas baixo mínimos. Aí da-se um parom de 5 meses, de novo tocou petar nas portas para pedir dinheiros, sendo Ugio Caamanho o coordenador da ampliaçom de capital e ativista com um trabalho forte em labores de expansom e administraçom. Consegue-se. Retoma-se o trabalho, sendo diretor Ramom Gonçalves. Este relançamento tem vocaçom profissionalizante: a periodicidade passa a ser mensal e definem-se melhor os objetivos do projeto: “havia duas cousas importantes ‑aponta o ex-diretor Ramom Gonçalves- optar pola investigaçom e dar-lhe umha estrutura mais massiva, introduzindo‑o nos quiosques.”
Nessa altura o peso da parte da equipa encarregada da administraçom do periódico tem muito protagonismo, trabalhasse a procura de subscriçons, a divulgaçom da marca Novas da Galiza, o contato e reconhecimento entre outros meios e a viabilidade económica: “A primeira vez que me pugem um fato foi por culpa do Novas, para aconseguir publicidade”, lembra Ramom Gonçalves.
A respeito do labor jornalístico, umha nutrida equipa de ativistas começa a escrever com vocaçom de rigor e de crítica, recolhendo as notícias relativas ao independentismo e aos movimentos sociais. E desenvolvendo um tipo de trabalho em perigo de extinçom no nosso país: a investigaçom jornalística com vocaçom de desvendar os trapos sujos de quem ostenta posiçons de poder.
No número 10, em setembro de 2003 publicasse umha reportagem sobre os vínculos entre o narcotráfico e os poderes políticos e empresariais, tema que foi objeto de denúncia em diferentes números do Novas.
Em maio de 2004 (número 18) o Novas destapava fraudes nas obras da Cidade da Cultura. E em dezembro desse mesmo ano, as investigaçons sobre os vínculos entre a empresa do setor do jogo Cirsa e a lavagem de dinheiro da droga foi utilizada como prova num processo judicial em Chile.
Segunda etapa 2005–2010
Em março de 2005 sai o número 28 com umha nova maqueta e forças renovadas.
Em maio de 2005, no número 30, denúncia-se que filtraçons de aduaneiros impedírom a imputaçom da empresa Rodman por narcotráfico. Este número do Novas foi denunciado judicialmente pola Agência Tributária. Certamente, nesta altura o trabalho da equipa de investigaçom, e nomeadamente o par formado por Iván Garcia e Carlos Barros, trabalhavam ao estilo dos filmes, dedicando-lhe horas, amarrando cabos e com muita agudeza, reunindo-se com fontes diretas até de forma clandestina.
Nesta altura Ramom Gonçalves deixa a direçom, que é assumida por Carlos Barros, o redator chefe na altura, que já estava familiarizado com todo o processo e gestom do periódico, e participava na equipa desde antes do lançamento do Novas.
Em dezembro de 2005 (número 37), foi denunciada a rede contrabandista de Manuel Gulias, que acabou sendo desmantelada em janeiro de 2012. Por este conteúdo fôrom imputados dous redatores deste jornal, num processo judicial que acabou por ser arquivado, depois de que os jornalistas demostraram a veracidade das informaçons com documentos e fontes.
Vive-se um período de expansom, o longo fraguismo fora substituído polo governo do bipartito PSOE-BNG (2005–2009) e os movimentos sociais estavam fortes: foi a época de Galiza Nom se Vende, das mani-festa-açons e de sabotagens contra os investimentos dos interesses especulativos.
O facto do executivo autonómico estar em maos do PSOE-BNG, por outra parte, nom significou que o Novas tivesse qualquer reparo em destapar corruptelas que salpicassem a Junta: Em outubro de 2007, no número 59, denunciava-se nas nossas páginas a implicaçom da ex-presidenta do Parlamento autonómico polo PSOE, Dolores Villarino, em fraudes urbanísticas milionárias na cidade de Vigo.
E no número 70, de setembro de 2008, lançamos a exclusiva de como a empresa Carrumeiro Media fora utilizada para o financiamento do BNG através das conselharias que dirigia no governo. Esta primícia do Novas foi depois divulgada por outros meios.
Entretanto, a investigaçom complementava-se com mais conteúdos exclusivos, publicaçons complementárias e eventos. No verao de 2006 sai o suplemento de 8 páginas “tempos livres”, que se intercala com o “Dito e Feito”, da mesma extensom, somando em total 7 publicaçons extra.
Vive-se um momento de força, e em abril de 2007 entra Irene Cancelas como trabalhadora contratada, para realizar labores de administraçom, trabalho que desenvolverá até dezembro de 2011. O projeto consolida-se: sente-se a necessidade de ter um local de seu ‑até esse momento o conselho reunia-se no hoje extinto Centro Social A Casa Encantada em Compostela‑, e com a inauguraçom da Gentalha do Pichel o Novas instala-se o seu escritório próprio no primeiro andar do novo local social.
Em maio edita-se o livro-cd Um país na janela, que recolhe os melhores trabalhos jornalísticos até a altura. Em julho edita-se o livro Guia dos Centros Sociais, um volume onde se apresentam vinte e um centros sociais autogeridos: com entrevistas, fichas técnicas e fotografias a toda cor. Nas 186 páginas do livro, segundo Carlos Barros, “visibiliza-se um novo movimento e gera-se energia coletiva, “institucionalizando” de algumha maneira os logros atingidos e favorecendo tanto o conhecimento mútuo como a projeçom externa dos coletivos participantes.”
Nesse mesmo verao de 2007 nasce o suplemento O Pasquim, quatro páginas de humor gráfico das quais se imprimírom 14 ediçons.
Em 2008 lançam-se dous especiais, um para o Festival da Mocidade de Aguilhoar, em Ginzo, e mais um para o Festival da Poesia, no Condado. Ademais, inaugura-se um novo suplemento, A Revista, quatro páginas de focagem cultural, do qual chegaram a publicar-se 80 ediçons, até julho de 2015.
Também em 2008 fai-se a festa “Compromisso com a independência”, em Compostela, com umha mesa redonda sobre Jornalismo de investigaçom, umha charla sobre jornalismo nacionalista de ontem e hoje e concertos, acompanhada de umha produçom audiovisual humorística apresentada por Xiana Arias e a defunta Begonha Caamanho. Os vídeos deste evento podem ser consultados na exposiçom online que lançamos com motivo deste número 200, que pode ser acedida aqui.
Terceira etapa 2010–2015
Em Janeiro de 2010, coincidindo o número 86, há umha nova reformulaçom da maqueta e acrescentam-se à publicaçom até as 32 páginas.
Seguem-se a conseguir exclusivas e fitos informativos. Em agosto de 2010 (número 93), publica-se a descoberta de ser dinheiro nazi o que financiou grandes fortunas galegas e deu pé ao nascimento do Banco Pastor, da Fenosa ou da Finsa.
Na primavera de 2011, sai o número 100, e edita-se um especial que avalia o seu percurso, em que participam um grupo diverso de leitoras e leitores, o qual dá ideia da heterogeneidade do público do Novas da Galiza.
No número 101, em abril de 2011, denuncia-se que a empresa informática Plexus, ligada ao PP, elaborou bases técnicas de concursos públicos aos que posteriormente concorreu e, logicamente, ganhou. E assim mês a mês, umha equipa militante e profissional vai achegando ferramentas para a análise a um público que nesta altura toca máximos históricos, com arredor de 5000 leitoras em cada número, entre subscriçons, vendas em quiosques, distribuiçom em bares e centros sociais e descargas do jornal em pdf.
Em março de 2012 celebrasse umha festa polo X aniversário sob a legenda “10 anos de jornalismo popular”, com um encontro-colóquio de jornalistas com as leitoras e leitores, apresentaçom da campanha “Vitaminas para o Galego”, precursora da constituiçom da AMEGA (Asociación de Medios en galego), da qual o Novas foi membro fundador em janeiro de 2013. Também houvo umha exposiçom sobre a história do jornal e concerto de Os tres Trebóns, Habelas Hainas e as Bouba.
Ainda que a nível jornalístico o trabalho funciona, a situaçom económica é difícil de suster e Carlos Barros representa um pilar fundamental. Ele, enquanto exerce de diretor, fai em paralelo ao seu labor no Novas, serviços freelance de desenho sob a marca Innova, sendo 90% do benefício do seu trabalho invertido no periódico. Ademais, fai parte tanto do conselho de redaçom como do de administraçom: “eu convocava os conselhos e coordenava o grupo, escrevia, maquetava, e se era necessário, até resolvia um quadrinho de humor na última da hora”. O ex-diretor reconhece que carregar tanto fardo numha única pessoa nom é boa estratégia. Nessa altura, decide abandonar o seu labor como diretor ‑figura que nom se substitui, ficando na direçom a assembleia do conselho de redaçom‑, mas nom se desvincula do projeto, e continua encarregado especificamente dos labores de maquetaçom e administraçom. Em paralelo trabalha assalariado fora do periódico e tem que deixar os serviços em Innova com o que se financiava o Novas da Galiza.
A Sociedade Limitada é um lastre, muita estrutura para um labor que nom pretende lucro, assim é que, com a ajuda ativista de Kiko Neves, reformula-se a figura jurídica da editora, e Minho Media S.L passa a ser, em janeiro de 2013, Associaçom Cultural Minho Media.
Dentro da equipa, e em particular no conselho de redaçom, aparecem novas incorporaçons, a maioria vindas da faculdade de jornalismo e com um perfil mais técnico do que nas primeiras promoçons, em que o perfil era diverso, com destaque em filólogas e ativistas da língua.
Contodo, o caráter voluntarista do trabalho fai com que sejam centos as pessoas que tenhem contribuído com a elaboraçom de conteúdos ao longo dos anos.
Em dezembro de 2014 Xoán R. Sampedro assume a coordenaçom do conselho de redaçom, labor que desenvolverá até o remate desta etapa, quem entende que “o grande desafio foi o momento em que coletivamente decidimos parar. Pararmos, para continuar. Ao tempo, resultava absolutamente necessária aquela pausa para redesenhar e redefinir o projeto, alargar a equipa e, também fundamental, descansar e refazer forças.”
O cansaço, a limitaçom da participaçom no projeto, sempre condicionada ao devir dos ciclos vitais que levam a dirigir o tempo e esforço em atividades que gerem dinheiro, etc., podem ser condiçons equivalentes a outro tipo de militâncias políticas. Porém, Xoán Sampedro aponta que “a periodicidade incontornável, a pretensom de procurar diversidade de vozes ‑algumhas militantes no conselho, outras esporádicas e nem necessariamente afins por completo ao periódico- dam num jogo de peças complexo de amabilidade, exigência, precariedade, compaixom, disciplina…” o que fai com que nom seja exatamente igual a outras militâncias. Aliás, destaca: “com frequência antepunha o cuidado de quem se encontravam mais afastadas, com a consequente maior carga para quem estávamos nas capas de dentro dessa estrutura de cebola em que podemos ver um projeto como este.”
Finalmente em verao de 2015 acontece: o Novas para, por algo mais de um ano, até retomar no fim de 2016.
Quarta etapa 2016-hoje
Durante este ponto de inflexom Carlos Barros despede-se definitivamente do projeto. Mas recomeça-se após umha campanha de micromecenado intitulada “Além do barulho”, que logra juntar 5100€ de 122 mecenas. É assim que o Novas renasce com a periodicidade mensal, 32 páginas a toda cor e um preço por exemplar de 3 euros. Mantém o grosso da equipa do conselho de redaçom da etapa anterior, sem figura de diretora nem coordenadora formal, ainda que, de jeito informal, o membro do conselho de redaçom Aarón L. Rivas ‑que fai parte do Novas desde 2012- vem assumindo umha parte destacada do trabalho global.
Ao longo dos últimos anos tem havido algumhas novas incorporaçons e também baixas. A equipa reforça-se dividindo responsabilidades, como a coordenaçom de imagem ‑que ativa fotógrafas e ilustradoras‑, a coordenaçom da correçom linguística ‑que sempre foi umha prioridade do jornal- e a coordenaçom da seçom de opiniom, que em cada número conta com vozes diferentes. A administraçom ‑que em tempos era umha equipa ampla para fazer trabalho estratégico com vocaçom expansiva- está hoje a cargo de Miguel Valcárcel, com apoios pontuais do conselho de redaçom e a recente incorporaçom ‑há poucas semanas- de Antia Balseiro.
Seguimos a apostar polo papel, mas também redesenhamos a web, nom sendo apenas um arquivo dos jornais em pdf, mas um espaço com os conteúdos disponíveis em aberto para leitura por peças independentes, e tentamos estar presentes, de maneira discreta mas constante, nas redes sociais de Twitter, Facebook e Instagram, onde nos seguem mais de 9000 usuárias.
As disponibilidades parciais fam com que seja difícil retomar o nível de projetos investigadores de anos atrás, e a nova focagem prioriza acompanhar e divulgar o labor dos momiventos sociais. Ademais, o Novas nom fica à margem da situaçom político-social do independentismo, que nos últimos anos tem ficado diluída em termos de organizaçons políticas clássicas, após importantíssimos golpes repressivos ‑com, ainda hoje, media dúzia de militantes em prisom- mas com centos de ativistas participando em projetos locais populares.
Porém, nom se deixou de trabalhar em procurar fazer um produto jornalístico de qualidade, acompanhando as iniciativas populares que continuam a ativar-se ao longo do país, a recolher e divulgar as revoltas, e também a procurar ser um espaço para a reflexom e a aprendizagem.
Também tentamos, na medida do possível, criar espaços físicos de debate e partilha, como por exemplo, a reportagem de investigaçom sobre os casos de bebés roubados pola igreja católica na Galiza, publicada em março de 2017, que deu pé à organizaçom posterior de um colóquio na Livraria de mulheres Lila de Lilith, em Compostela. E em julho de 2019 organizamos a projeçom do documentário O silêncio, sobre a batalha de Cambedo na raia entre Galiza e Portugal, e contamos com a antropóloga Paula Godinho, o realizador José Alves Pereira e a jornalista Ana Luísa Rodrigues, num evento que encheu com dúzias de pessoas o soto da Gentalha do Pichel.
Também participamos num colóquio sobre repressom a meios em dezembro de 2018 com gz contrainfo e La Haine. Nas jornadas de Lugo Sem Mordaças falando sobre jornalismo livre, em abril de 2019 ou em maio desse mesmo ano, apresentando o jornal na celebraçom do Banquete de Conxo. Também estivemos fazendo cobertura de rua nos 24 e 25 de julho, assim como nos despejos de Centros Socais ocupados como Escárnio e Maldizer em Compostela (2017) e A Insumisa na Corunha (2018) e publicando trabalhos de documentalismo como a reportagem “tres décadas de ocupaçons” publicada no número 158.
A denúncia do modelo de implementaçom do negócio eólico, os incêncios florestais, o seguimento do conflito em Alcoa, os modelos da precariedade laboral do século XXI, a análise da situaçom do comboio na Galiza ou umha panorâmica das múltiplas camadas da crise da pandemia da Convid-19 tenhem sido alguns dos fitos informativos da última jeira.
No passado mês de abril de 2021, acusando de novo umha importante fraqueza, vimo-nos na obriga de reduzir o volume do jornal até 24 páginas, com a intençom de poder recuperar as 32 páginas habituais assim for possível. A pretensom da equipa atual é reforçar a parte de administraçom para podermos dispor de folgança económica e amplitude de maos para trabalhar a difusom, procurando chegar aos milhares de pessoas que ainda nom conhecem o Novas da Galiza. E também achegar o nosso grao de areia com informaçom veraz, útil e de qualidade para as nossas leitoras, as novas e as que levam 18 anos connosco.