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Longos e curtos alcanços

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O pa­nó­tico de Bentham, pen­sado para a vi­gi­lân­cia pe­ni­ten­ciá­ria, es­ten­deu-se a to­das as ins­ti­tui­çons da nossa so­ci­e­dade, mo­du­lando ati­tu­des. Vigilância, e por­tanto cor­re­çom, vam da mao do de­le­ga­ci­o­nismo e da de­sig­na­çom de téc­ni­cos alheios que apre­sen­tam so­lu­çons a pro­ble­mas co­le­ti­vos. Esta re­a­li­dade tam­bém tem a ver com o pa­nó­tico, por­que a pri­som é em pri­meiro termo umha ins­ti­tui­çom ina­bi­li­ta­dora de pes­soas em to­das as suas fas­quias. Logo vi­giar e pre­ten­der que as pes­soas de­le­gue­mos das nos­sas obri­gas vam da mao. Ambos ver­bos so­ma­dos numha equa­çom da­riam como re­sul­tado a pa­la­vra reprimir.

Este de­le­ga­ci­o­nismo, que nos man­tém alhe­a­das dos ver­da­dei­ros pro­ble­mas a en­fren­tar, erige-se como pi­lar da “de­mo­cra­cia es­pa­nhola”. O elei­to­ra­lismo é o seu grande fe­ti­che. Ingentes re­cur­sos eco­nó­mi­cos, me­diá­ti­cos e emo­ci­o­nais pos­tos em ba­ta­lhas pon­tu­ais e fu­ga­zes. Por muito que acre­di­te­mos no seu uso ins­tru­men­tal, a luita polo voto tem o per­curso que tem. O par­la­men­ta­rismo es­pa­nhol nom pre­tende ou­tra cousa mais do que dis­trair do cerne da ques­tom. Enquanto ou­vi­mos o ar­gu­men­tá­rio po­lí­tico das con­cor­ren­tes es­ta­mos ten­ta­das a con­fiar na sua pro­posta para mu­dar ou re­for­mar um es­tado de cou­sas que nunca vai mu­dar nem rá­pida, nem fá­cil, nem de­le­ga­da­mente. Ou es­ta­mos cha­ma­das a aban­do­nar os ob­je­ti­vos fi­nais e ge­nuí­nos para fa­zer umha ater­ra­gem de emer­gên­cia, acei­tar as re­gras e con­fiar num fu­turo indefinido.

O de­le­ga­ci­o­nismo man­tém-nos alhe­a­das dos ver­da­dei­ros pro­ble­mas a en­fren­tar e erige-se como pi­lar da “de­mo­cra­cia espanhola”.

Nom só existe curto-pra­zismo nesse es­quema de fun­ci­o­na­mento. Na sua ver­som de es­quer­das e ex­tra­par­la­men­tar tam­bém avonda a con­fi­ança na pres­som pon­tual de rua, es­pon­tâ­nea e sem or­ga­ni­za­com, para ob­ter­mos me­di­das fa­vo­re­ce­do­ras para as mai­o­rias. Ou a in­ter­ven­çom atra­vés de cam­pa­nhas com o mesmo ob­je­tivo. Os re­sul­ta­dos dumha e dou­tra ótica som ime­di­a­tismo, pla­ni­fi­ca­çom ba­se­ada em “tren­ding to­pics” de oca­siom e amiúde a acu­mu­la­çom de ex­pe­ri­ên­cias muito pa­re­ci­das sem um ho­ri­zonte de emancipaçom.

O in­de­pen­den­tismo pla­ni­fi­cou en­saiar mo­de­los de fun­ci­o­na­mento com­ple­men­ta­res. Por isso se quixo eri­gir em mo­vi­mento cons­ti­tu­tivo e rei­vin­di­ca­tivo. Os cen­tros so­ci­ais to­má­rom es­pe­cial re­le­vân­cia, ga­nhando acei­ta­çom pola mai­o­ria da mi­li­tân­cia como um dos mai­o­res acer­tos dos úl­ti­mos anos. As es­co­las de en­sino ou os meios al­ter­na­ti­vos, em­bora so­bar­dem o mundo ar­re­dista, po­dem con­si­de­rar-se fi­lhas da mesma ideia de tra­ba­lho de longo alcanço. 

E, po­rém, nom é do­ado. Em pleno sé­culo XXI te­mos pen­dente o repto da cons­tru­çom de re­fe­ren­tes po­lí­ti­cos sol­ven­tes e per­du­rá­veis. Claro, as di­nâ­mi­cas co­le­ti­vas som cus­to­sas e a re­pres­som fai o seu tra­ba­lho. O prin­ci­pal de­sa­fio que se nos co­loca é o de man­ter­mos o equi­lí­brio e a saúde or­ga­ni­za­tiva num mundo in­di­vi­du­a­lista e ex­ces­si­va­mente egó­la­tra. As di­nâ­mi­cas co­le­ti­vas som ma­té­ria pen­dente para en­fren­tar am­bi­en­tes mui­tas ve­zes pa­ra­li­sa­dos polo con­flito e aba­fa­dos nos pro­ble­mas me­no­res. Neste sen­tido, da ex­pe­ri­ên­cia da mi­nha ge­ra­com, nom houvo me­lhor lu­gar para apren­der a se­pa­rar grau de pa­lha, a res­pei­tar o co­le­tivo e a ce­le­brar os lo­gros, do que a mi­li­tân­cia re­vo­lu­ci­o­ná­ria ju­ve­nil. É a es­cola para a vida e tam­bém para as múl­ti­plas ta­re­fas ati­vis­tas: ma­que­ta­gem, ora­tó­ria, psi­co­lo­gia, segurança…Nom des­cuidá-la é para um mo­vi­mento como o nosso, o me­lhor tra­ba­lho de longo alcanço.

O prin­ci­pal de­sa­fio que se nos co­loca é o de man­ter­mos o equi­lí­brio e a saúde or­ga­ni­za­tiva num mundo in­di­vi­du­a­lista e ex­ces­si­va­mente ególatra. 

A li­ber­dade é umha pe­sada carga em tempo e em cus­tos pes­so­ais. Sempre ha­verá umha am­pla gama de ati­tu­des e es­tra­té­gias pe­rante ela. Da sua as­sun­çom en­tu­si­asta, ao ache­ga­mento te­me­roso. O repto de toda eman­ci­pa­çom foi sa­ber de­le­gar em di­re­çons ho­nes­tas um grande peso dos pro­ces­sos, sem por isso deixá-las de­ri­var para o au­to­ri­ta­rismo, e à vez fo­men­tar umha par­ti­ci­pa­çom mas­siva de to­das as ba­ses sem cair na ino­pe­ra­ti­vi­dade e no ‘de­bate per­ma­nente sem acçom’.

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