Augusto Fontám é o realizador do documentário ‘Palavra de patriota. Toda umha vida ao serviço de Galiza’, que já percorreu dúzias de pontos da geografia galega e que na sua primeira parte achegou a centos de pessoas umha etapa da biografia do histórico independentista Antom Árias Curto. Fontám militou desde 1977 em chaves independentistas. Escritor, pintor e criador de cinema experimental junta-se com o protagonista do seu trabalho de quem afirma tem “umha palavra de honra e dignificou a nossa Terra”.
Como nasce a ideia do documentário?
Augusto Fontám: Sentia-me em dívida com Antom polo que fijo pola nossa Pátria mas também com que as novas geraçons conheçam os apartados da nossa história que há quem teima em ocultar. É inadmissível que o nacionalismo e sobretudo o marxismo-leninismo deste País nom reconheça umha lenda viva que está à altura de Moncho Reboiras. Antom, que entregou absolutamente todo, que correu riscos e que pedagogicamente é um exemplo, foi invisível enquanto mitificárom outros.
Um privilégio ter a história de frente…
Fontám: "O pessoal tem vontade por saber da luita armada porque é informaçom que se oculta"
Antom Árias Curto: Se saes dos cânones aceitados pola oficialidade passas ao esquecimento, refiro-me à minha militância na UPG, no PCG, no PGP e em Galiza Ceive. Por isso que alguém como Fontám pensasse em mim é um orgulho, porque a maioria das capas intelectuais só lembram dos “mártires” mas em vida nom demonstram a sua consideraçom, embora com alguns deles estivesse perseguido ou condenado. Se me dobregasse perante certas personagens o documentário poderia ter um eco ou qualidade superior mas esse nom é o meu código nem estilo.
Que se pode encontrar no documentário?
A. F: Nesta primeira parte que abrange de 1944 a 2004 detalha-se a infância de Antom, a primeira saída da sua terra natal, de Monforte, as posteriores viagens para o estrangeiro mas sobretudo como vai adquirindo consciência e formaçom política. Igualmente explicam-se as organizaçons que cria e a repressom que o vai assediando sem conseguir amedrentá-lo.
Na segunda ediçom aparece na capa a palavra ‘censurado’.
A. F: A Antom aplicou-se-lhe o “cainismo” porque há a quem lhe molesta que exista umha pessoa tam limpa. Dous exemplos dos quais tenho provas é que num livro editado polo herdeiro dos irmaos Saco e nos quais se fala de Antom, um responsável de A Nosa Terra, Xosé Henrique Acunha arrinca essas folhas e publica-se sem elas. Outro foi o prémio Mouchos de Prata que outorgava a Associaçom Amigos da Cultura de Ponte-Vedra e que se concedia por votaçom popular a entidades ou pessoas salientadas na defesa da Galiza. Um ano Antom foi eleito, mas três membros da Associaçom manipulárom para que isto nom acontecesse. Quando denunciei no documentário estas circunstâncias e dei nomes fum ameaçado, mas pola boa acolhida do trabalho limitei-me a pôr a palavra “censurado” e explicá-lo.
Antom, que sentimentos ressurgírom ao reviver o passado?
A. A. C.: Foi um encontro com o meu interior mais íntimo. Na apresentaçom em Monforte vinhérom familiares e amizades que havia trinta anos que nom via e nom parárom de abraçar-me e reconhecer-se nas fotos projetadas. Muito emotivo.
Após muitos anos voltache para o Sil…
A. A. C.: O Canhom do Sil tem um lugar muito importante no meu espírito polo que significou, umha cousa é percorrê-lo num catamarám e outra bem diferente é chegar umha madrugada de inverno numha barquinha e procurar refúgio do frio e da água. Foi o início. Ai estivem com Xosé António Matalobos durante seis meses com umha vida estoica e com a música de um regato que passava perto, nom íamos praticar a guerrilha no monte como se dixo se nom que já nom tínhamos outros sítios onde estar. O Sil sabe ao mais profundo da nossa Terra, sabe geografia, a horizonte, a paisagem e isso influi tremendamente no nosso ser.
Lembranças de irmandade que convivírom junto com as repressivas…
A. A. C.: Quem luita pola independência tem que ser consequente com que o Estado Espanhol lhe vai aplicar o máximo no sentido repressivo. A repressom é o ADN de qualquer luitadora que nom respeite a legalidade que rege no Estado e dentro desta nunca se conseguirá a independência para a Galiza. Outra cousa é fazê-lo com métodos originais, inteligentes e rentáveis politicamente.
Abordar a luita armada na Galiza ainda é um tabu mas o documentário tivo umha excelente acolhida…
A. F: A expetativa que se criou após a estreia em Ponte-Vedra foi muito significativa. O pessoal tem vontade por saber da luita armada no nosso País porque é informaçom que se oculta e se nom se lhe dá cobertura na imprensa muita nem repara. Conseguimos romper este silêncio com várias entrevistas e notas.
Procurou-se certo morbo nas entrevistas?
A. F: Procurou-se e temim que devido às minhas respostas a esse tipo de perguntas nom a publicassem. Insistírom inclusive em fazer-me dizer que Antom era um terrorista mas nunca saiu da minha boca porque nom o acredito, ele só exerceu a autodefesa operária.
A. A. C.: Comigo também as houvo porque o morbo é a filosofia de divulgaçom dos mídia, mas quando as personagens nom quadram com o que aguardam ficam em evidência. Nom é casualidade que nos estejam solicitando tantas entrevistas. O que respondo podem ser provas na Audiência Nacional para imputar-me por estar enaltecendo o terrorismo e nada mais falso, o que pretendo é expor factos reais como um dos autores e de umha visom diferente.
Existe relaçom entre as entrevistas e a ‘Operaçom Jaro I’ na qual estás imputado?
Árias Curto: "Umha cousa é percorrer o Canhom do Sil num catamarám e outra bem diferente é chegar umha madrugada de inverno numha barquinha e procurar refúgio do frio e da água"
A. A. C: Existe, efetivamente, porque há certa ansiedade social por saber o que é Causa Galiza. O Ministerio del Interior quer reprimir-nos pola simples militância política independentista, aspiram a cortar de raiz qualquer germolo que poida agromar. Com a Jaro I e II estám pendentes de condenar doze independentistas podendo haver condenas duras para quem considerem que som pessoas significativas. É umha questom política, nom há separaçom de poderes.
Que poderemos ver na segunda parte?
A. F: Abrange de 2005 até 2017 e está praticamente rematada e aguardando pola resoluçom destes juízos. Além disso vam-se poder ver outras facetas de Antom já que a ele sempre se lhe encaixou na luita armada mas esquece-se que fijo um labor de roteiros ensinando história contemporânea inclusive antes que se falasse da Memória Histórica, foi pioneiro. Também leva muitos anos no associacionismo popular independentista que marcou caminho e no teatro de denúncia social.
73 anos e com possibilidade de entrar à cadeia, sim que é umha vida.
A. A. C.: Um dado muito significativo.
A. F: Antom é um militar, independentista e comunista. Nom se parece em nada aos militares que cobram soldos astronómicos e que quando se jubilam vivem nas cidades alimentando pombas. Ele é um militar do Povo.