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Galiza é um referente na mudança de nome e sexo legal de menores trans”

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Entrevista a Cristina Palacios, presidenta de Arelas, associaçom de famílias de menores trans

Com 15 anos, Pablo con­verte-se no pri­meiro me­nor da Galiza em mu­dar o sexo no Registo Civil para adequá-lo à sua ver­da­deira iden­ti­dade de gé­nero. A au­to­ri­za­çom do Registo Exclusivo da Corunha per­mite que Pablo poida ter nos seus do­cu­men­tos ofi­ci­ais, do BI até o car­tom de saúde, o nome e gé­nero que tem desde os 3 anos.

carla trin­dade

Que mu­dou no caso de Pablo?
Em Espanha há umha lei, da­tada em 2007, que per­mite mo­di­fi­car o sexo e o nome, mas essa nor­ma­tiva nom in­clui as pes­soas me­no­res trans. Nós ale­ga­mos que umha lei nom pode dis­cri­mi­nar nin­guém e, de facto, existe um in­forme do Supremo que vai por esse ca­mi­nho. Deste modo, co­me­çá­rom a dar-se sen­ten­ças fa­vo­rá­veis, umha de­las em Espanha. Aí co­me­çou todo, abriu-se o caminho.

Com a luita de Pablo cria-se um pre­ce­dente para que mais me­no­res trans po­dam mu­dar o sexo no re­gisto. Em Arelas, há pes­soas que es­tám a aguar­dar para dar este passo?
Neste mo­mento, nom. Temos um caso que aguarda polo troco do nome, tem 10 anos e é de Vigo. A mu­dança de sexo é já umha de­ci­som im­por­tante que, polo ge­ral, re­quer es­pe­rar a umha idade pos­te­rior. Pablo, por exem­plo, tem 15 anos e leva tempo com tra­ta­mento de blo­que­a­do­res. É ne­ces­sá­rio que o ou a me­nor en­tenda cada passo que dá. Por exem­plo, mi­nha fi­lha Sara foi a pri­meira me­nor trans que tro­cou o nome no re­gisto na Galiza. Foi algo que fijo com 9 anos e, logo dela, vi­nhé­rom sete me­no­res mais. Agora, mi­nha fi­lha vai fa­zer 11 anos e quando avance se­gu­ra­mente pe­dirá a mu­dança de sexo nos do­cu­men­tos oficiais.

As pi­o­nei­ras adoi­tam ser tam­bém as pri­mei­ras em le­var os gol­pes para abrir o ca­mi­nho. Foi este o caso?
Em ques­tons le­gais que te­nhem a ver com o troco de nome nom ti­ve­mos ne­nhum pro­blema. Nesse mo­mento, já hou­vera ca­sos exi­to­sos no es­tado es­pa­nhol. Eu tam­bém pen­sava que ia ser umha luita longa e re­sul­tou todo o con­trá­rio, num mês re­sol­vé­rom. Alegamos que Sara era o seu nome ha­bi­tual em to­dos os ám­bi­tos da sua vida. Nom ti­nha sen­tido ter um nome que nom a iden­ti­fi­cava e que in­va­dia a sua identidade.

Tampouco houvo atran­cos para as me­no­res que vi­nhé­rom logo dela?
O caso de Sara as­sen­tou ju­ris­pru­dên­cia. Nom houvo ne­nhum caso com um di­tame des­fa­vo­rá­vel na Galiza. De facto, é re­fe­rên­cia a ní­vel de Estado. É o ter­ceiro ter­ri­tó­rio onde se pro­du­ziu umha mu­dança de sexo e nome junto com Andaluzia e Valência. Estou mui con­tente por­que so­mos um re­fe­rente para os demais.

Se bem nesse as­peto po­de­mos ser um re­fe­rente, onde fica mais tra­ba­lho por fa­zer? Onde te­mos que nos pôr a sachar?
No ám­bito edu­ca­tivo. Todas as me­no­res que pas­sá­rom por Arelas fô­rom e som acos­sa­das. Isto dá-se por­que nas es­co­las nom se tra­ba­lha a di­ver­si­dade. Nom te­nhem nem ideia e isso gera pre­juí­zos. O pro­fes­so­rado nom deixa de ser um re­flexo da sociedade.

Nesse ám­bito, ten­des al­gumha experiência?

"Há que trabalhar no ámbito educativo. todas as menores que passárom por Arelas fôrom e som acossadas"

Há uns anos, Arelas re­a­li­zou um pro­to­colo junto com a Conselheria de Educaçom para que a co­mu­ni­dade edu­ca­tiva saiba atuar ante o caso de umha ou de um me­nor trans. É ne­ces­sá­rio res­pei­tar a iden­ti­dade. As ori­en­ta­do­ras de­vem ser me­di­a­do­ras com as fa­mí­lias que boa parte das ve­zes nom apoiam as me­no­res. É tam­bém ne­ces­sá­ria para a for­ma­çom e in­for­ma­çom de toda a co­mu­ni­dade edu­ca­tiva: alu­nado, nais, pais… Inclusive nos li­vros de texto.
Olha, há um par de se­ma­nas a or­ga­ni­za­çom ho­mo­fó­bica e LGTBFóbica ‘Hazte oír’ re­par­tiu pan­fle­tos po­los cen­tros edu­ca­ti­vos do es­tado es­pa­nhol e a Galiza. Acabamos de pre­sen­tar um es­crito à Conselheria para que po­nha me­di­das. É cha­ma­tivo que a umha or­ga­ni­za­çom LGTB nos custe tanto en­trar num cen­tro e a umha or­ga­ni­za­çom ca­tó­lica e LGTBfóbica lhe seja tam simples.

Nesse sen­tido, en­con­tras­tes von­tade po­lí­tica para pôr em mar­cha o protocolo?
Presentámo-lo de ma­neira ofi­cial. Agora bem, os pro­to­co­los nom som obri­ga­tó­rios polo que se atua se­gundo a pre­dis­po­si­çom dos cen­tros. Nós es­ta­mos por riba as­sim que, se sa­be­mos que há umha me­nor, exi­gi­mos que se po­nha em mar­cha esse pro­to­colo. Gostaríamos de que se apli­casse em to­dos os cen­tros ga­le­gos mas nom é assim.

Já nos con­tou que se de­ve­ria fa­zer numha es­cola, mas como te­ria que atuar umha fa­mí­lia que co­me­çasse a per­ce­ber si­nais de que a sua fi­lha ou fi­lho de­sen­volve umha iden­ti­dade de gé­nero di­fe­rente da normativizada?

"A organizaçom LGTBfóbica 'Hazte Oír' repartiu panfletos polos centros educativos. É chamativo para umha organizaçom católica seja tam simples entrar num centro"

Cada vi­vên­cia é um mundo à parte. Uns ex­pres­sam-no aber­ta­mente, ou­tros nom, tam­bém umha fa­mí­lias o res­pei­tam e ou­tras nom. Desde a mi­nha ex­pe­ri­ên­cia, cum­pre acom­pa­nhar os sen­ti­men­tos que ma­ni­feste cada criança.
Quando nom se lhes res­peita, obriga-se-lhes a vi­ver com uns ro­les, um nome, um gé­nero, que nom é o pró­prio. Isso é vi­o­lên­cia. Isso é mal­trato in­fan­til. Isso é obri­gar a ser quem nom és. Há mui­tas e mui­tos ado­les­cen­tes trans que desde pe­que­ni­nos pen­sam em mar­char da casa por este motivo.
O ca­mi­nho a se­guir é: dei­xar que se ex­pres­sem, es­cui­tar e acom­pa­nhar. Minha nena fijo a mu­dança aos 8 anos por­que ela mesma dixo que que­ria fazê-la. Sabem quando se sen­tem pre­pa­ra­dos e só há que acom­pa­nhar na sua de­ci­som. Nom é mais com­plexo do que isso. Suponho que ocor­rerá o mesmo com ou­tras de­ci­sons, como a da ori­en­ta­çom sexual.

Como so­ci­e­dade, em ge­ral, tam­bém te­mos as nos­sas res­pon­sa­bi­li­da­des. Há ci­fras que hor­ri­pi­lam a umha, como que o 81 por cento das ado­les­cen­tes trans pen­sá­rom nal­gum mo­mento em se sui­ci­dar, e que de­ve­ram ge­rar um com­pro­misso so­cial para combatê-las.
Há que in­for­mar-se e for­mar-se. Como nai, nom sa­bia o que era ser tran­se­xual e ti­nha tam­bém os meus pró­prios pre­juí­zos. Mas isso re­sol­veu-se com in­for­ma­çom. Existe algo que se chama di­ver­si­dade e que nom é só se so­mos bran­cas ou pre­tas, gor­das ou ma­gras se­nom que existe a di­ver­si­dade se­xual, a di­ver­si­dade funcional…
Somos adul­tas e ci­vi­li­za­das e de­ve­mos res­pei­tar to­das as pes­soas. Quando te­nha­mos isso ga­nhado po­de­re­mos trans­mi­tir-lho às se­guin­tes ge­ra­çons. Por en­quanto nom edu­que­mos na di­fe­rença e di­ver­si­dade es­ta­re­mos a con­sen­tir o acosso.

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