“Loitaba no herdeiro a fame de moza co medo
de saír soilo, pois non avisara os amigotes doutras
noites de moca e aturuxo…”
R. Otero Pedraio, Os camiños da vida
Nas idas e voltas às moças multiplicavam-se os medos noturnos. Os contos populares fam burla destes moços que procuravam ir mocear em grupo, mas que nas incursões individuais se atemorizavam por lobos imaginários, cães ceives, encontros com as ânimas ou, polo tempo de Defuntos, com lâmpadas de cabaça colocadas estrategicamente nos lugares mais assustadores. Uma arma era o complemento indispensável do moço, sustém da sua precária valentia e símbolo da virilidade juvenil. Mas é no coletivo, no contexto das interparoquiais polas moças –em que estas e os amores individuais apenas eram pretexto para ativar a lógica da honra nos enfrentamentos estruturais e coletivos‑, onde ressoa com mais força o significado profundo destas armas.
Aventurando um mapa etnográfico das armas juvenis, parece que ao Sul abundavam os paus longos com aguilhão, e pola comarca compostelã as mocas
Recorda García Barros que “daquela os paus eram adorno a defensa da xuventude” (1). A variedade desta tecnologia masculina impressiona: bisarmas, que eram umas fouces com uma volta duns centímetros e um mango de metro e meio, utilizada contra o lobo; varapaus, instrumento duns dous metros que era “o encarregado de dar fim às festas ao dirimir as rivalidades entre os moços das distintas paróquias” (2); regatões, vara com um ferro na ponta que dava um plus de perigosidade; mocas, galhetas, etc. Aventurando um mapa etnográfico das armas juvenis, parece que ao Sul abundavam os paus longos com aguilhão, e pola comarca compostelã as mocas (3). Para Lisón Tolosana, a unidade dos moços já operava continuamente na preparação dos paus: “Na confeção de cada um deles ao longo do ano consolidava ritualmente a unidade paroquial. Atingia o seu clímax na refrega” (4). Em Touro, por exemplo, “os moços tinham as varas de castanho. Cortavam uma pola e secavam a cortiça no forno; era o enqueirar. A vara verde no forno, com a calor vai estalando a cortiça, que se desprende. Depois unta-se o pau com gordura ou com toucinho e colhe muita lei, muita flexibilidade; punha-se-lhe uma conteira e algumas mesmo tinham anéis de prata, as dos moços pudentes e elegantes; eram maiores do que bastões. Com estas varas iam às romarias e davam paus; aliás, levavam navalhas, punhais, etc.” (5).
“Enchia de cardeais o corpo dos moços e de filhos os ventres das raparigas”, sentenciava Wenceslao Fernández Flórez acerca da moca (6), recordando o simbolismo fálico do pau, que as canções populares exploravam uma e outra vez:
Arriba meu pau de tuna
arriba meu pau tuneiro
arriba meu pau de tuna
érel‑o meu compañeiro. (7)
O cura de Santa Uxía
doulle un abrazo á súa María;
doulle cun pau, doulle cunha cana,
doulle cun pau, tumbouna na cama. (8)
Eu pedinllo a unha nena
no pasadoiro do prado,
e ela dixo que era nova
que non rexía o vergallo. (9)
Anda, Maruxiña, reprende o teu galo
que anda pola aldea rascando o vergallo,
rascando o vergallo, rascando o vergallo.
Anda Maruxiña, reprende o teu galo. (10).
Também o léxico sexual contém toda uma ideologia masculina: ao pénis chama-se-lhe moca, pau, pau-das-festas, pau-de-mejar (e consequentemente o sexo é o “castigo de pau-de-mejar”), verga (e polo tanto “estar envergalhado”), etc. Ainda, o pénis é “a pistola” (11).
o léxico sexual contém toda uma ideologia masculina: ao pénis chama-se-lhe moca, pau, pau-das-festas, pau-de-mejar (e consequentemente o sexo é o “castigo de pau-de-mejar”), verga (e polo tanto “estar envergalhado”), etc. Ainda, o pénis é “a pistola”
Até a Guerra Civil não foi estranho o uso do revólver entre a mocidade. Uma mulher de Xanceda recordava como na sua paróquia “foi uma mãe com queijos à feira de Curtis, e ali comprou umas pistolas para cada um dos seus filhos. De volta à casa dixo-lhes: “Aí tendes o revólver mais as balas. Se ides a uma romaria e qualquer um se mete convosco, e vós não descarregades o revólver e os matades, não venhades para a casa porque vos mato eu” (12). Mas esta incitação à violência não devia ser o habitual. Em São Pedro de Sabariz, durante os anos vinte: “Censuravam-se os costumes dos moços, especialmente o de andar armados; agachavam as armas nas paredes ou escondiam-lhas as noivas. Antes havia muitas pelejas, mas eram a paus, e agora são com armas de fogo, diziam os velhos.
Antes havia muitas pelejas, mas eram a paus, e agora são com armas de fogo, diziam os velhos.
Claro que isto de levar armas, muitas vezes é por fachenda nada mais. Saem muitos juntos dum lugar a outro e, ao saírem de cadansua casa, esgutiam (é dizer, lançam o berro conhecido com o nome corrente de aturujo) para chamar-se, ou disparam tiros. Os tiros vão em som de desafio e ameaça” (13). Mas quando até o santo paroquial leva pistola e lidera as pelejas interparoquiais no campo da festa, a ideologia deste comunitarismo armado e patriarcal dos moços atinge uma expressão máxima:
Santo Cristo de Fisterra
ten unha pistola de ouro
para matar ôs do Son
por riba do Monte Louro. (14).